Diretor da ANEA retrata cenário de exportações
As exportações de algodão do Brasil, o segundo maior exportador global da fibra atrás dos Estados Unidos da América, tem potencial de atingir cerca de 2 milhões de toneladas no período de julho de 2020 a junho de 2021, repetindo o recorde esperado para 2019/20. O Diretor da Associação Nacional dos Exportadores de Algodão (ANEA), Miguel Faus, concedeu a seguinte entrevista para a AgriBrasilis.
Miguel Faus é graduado em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), possui MBA pela Universidad de Las Americas, e desde 2009 é CEO no Brasil da trading Omnicotton Agri Commercial Ltda., com sede nos EUA, e é Diretor da ANEA.
AgriBrasilis – Em relação ao mercado internacional, o Brasil está entre os maiores produtores mundiais?
Miguel Faus – O Brasil é o quarto maior produtor com 3 milhões de toneladas nesta safra de 19/20 e o segundo maior exportador devendo atingir um volume superior aos 2 milhões de toneladas, atrás apenas dos EUA. Os maiores produtores hoje são Índia, China e EUA.
AgriBrasilis – Somos competitivos internacionalmente?
Miguel Faus – Somos competitivos sim. Nossos principais concorrentes são os EUA e a Austrália, além da África Ocidental e outras origens. O Brasil conquistou uma maior participação de mercado graças à qualidade de seu produto e ao preço competitivo. Além disso, a partir da última safra, conseguimos suprir os mercados durante o ano todo e não apenas no segundo semestre como ocorria anteriormente quando a produção era menor.
AgriBrasilis – O que pode ser feito para promover melhorias?
Miguel Faus – Já está em andamento um projeto conjunto da Anea, Abrapa e Apex para promover o algodão brasileiro nos principais mercados, na Ásia e Turquia. Além disso, o setor tem investimento em novas tecnologias de plantio e novas variedades de sementes. A logística que sempre foi um gargalo já melhorou bastante, mas há espaço para aumentos de eficiência em todo o processo de exportação.
AgriBrasilis – Quais são os principais polos produtores de algodão no Brasil?
Miguel Faus – Mato Grosso é o principal estado produtor (70%) e a Bahia é o segundo (15%). Os demais são Minas, Goiás, Mato Grosso do Sul, Tocantins e Piauí. Os estados do Paraná e São Paulo possuem produções pequenas.
AgriBrasilis – A cultura do algodão ainda sofre o ataque de diversas pragas, sobretudo do bicudo, quanto se pode estimar de perdas produtivas devido a presença de insetos e pragas na lavoura?
Miguel Faus – Nos dias de hoje, as perdas por estes motivos são limitadas pois há várias formas de combater as diferentes pragas que aparecem no plantio do algodão. O problema às vezes é o custo do combate.
AgriBrasilis – Dentre as grandes culturas, o algodão possui alto risco de investimento? Quais seriam os motivos?
Miguel Faus – O algodão não possui alto risco de investimento. É uma cultura mais cara que a soja e o milho e deve ser levada a cabo por agricultores que estejam dispostos a investir. Não é uma cultura fácil, mas seus retornos mais que compensam os investimentos se estes forem bem feitos. Os cuidados vão desde a escolha da terra, sementes, fertilizantes, defensivos, fumigadoras, colhedeiras e usinas de beneficiamento. Portanto o algodão exige do agricultor um compromisso de longo prazo. Além disso, ocupa muita mais mão de obra que as outras culturas.
AgriBrasilis – Mercado têxtil tente a ser menos demandado em períodos de crise, como foi a resposta do mercado este ano devido à COVID-19?
Miguel Faus – Houve uma redução do consumo no primeiro momento em todo o mundo, devido ao fechamento das economias, do varejo em geral. Com o início das aberturas e dos auxílios emergenciais esta situação foi rapidamente resolvida e a demanda voltou de forma importante. O pico da pandemia chegou no Brasil em plena entressafra e a recuperação coincidiu com o início da colheita, o que contribuiu para que os danos não fossem maiores.
AgriBrasilis – O que se pode dizer sobre a última safra brasileira de algodão?
Miguel Faus – Foi uma safra recorde, de mais de 3 milhões de toneladas. Além disso, o clima ajudou e a qualidade em geral foi muito boa, o que ajuda sobremaneira na consolidação da pluma brasileira nos principais mercados consumidores.
AgriBrasilis – Haverá mudança produtiva no Brasil para o ano que vem?
Miguel Faus – O clima, acima de tudo, está afetando o plantio da soja e vai afetar o plantio do algodão. Por volta de 90% do algodão do MT é plantado como segunda safra, logo após a colheita da soja. Esperamos que haja uma redução. Quanto à produtividade, não vai ser fácil manter a mesma da safra 19/20 que foi muito boa. Tendo isso em vista, neste momento há várias estimativas que projetam uma redução de 10% a 20%.
