Não vai faltar milho no mundo, mas produção será menor que o consumo

Published on: June 13, 2025

“O milho tem demanda crescente e constante, porque é o componente mais barato das rações…”

Vlamir Brandalizze é fundador da Brandalizze Consulting, consultor de mercados e palestrante do agronegócio. Brandalizze é engenheiro agrônomo pela Universidade Federal do Paraná.


Vlamir Brandalizze, fundador da Brandalizze Consulting

AgriBrasilis – Vai faltar milho no mundo em breve? Quais os impactos para o Brasil?  

Brandalizze – Não vai faltar milho. O que deve acontecer nessa temporada, e provavelmente nas próximas, será uma produção menor do que o consumo mundial. Vamos produzir menos que do que consumimos e iremos consumir os estoques, coisa que já está acontecendo em 2025, em que a produção mundial não está indo muito além de 1.220 milhão de toneladas e o consumo deve passar de 1.250 milhão de toneladas. Em 2026 também vamos consumir estoques, porque a produção deve continuar menor que o consumo. 

AgriBrasilis – Que fatores têm aumentado a demanda pelo grão?  

Brandalizze – O milho tem demanda crescente e constante, porque é o componente mais barato das rações. Também está crescendo a demanda pelo setor de energia, do etanol. O consumo global do milho está disparando, porque o uso de ração vem batendo recordes todos os anos, o que deve seguir dessa maneira em função do crescimento da população mundial. O consumo de ovos, leite, frangos, suínos, bovinos e peixes segue em crescimento, e todos esses produtos precisam de ração para serem produzidos. 

Sobre o etanol de milho, o Brasil demandou 17 milhões de toneladas do grão para produção do combustível em 2024. Em 2025, essa demanda pode passar das 20 milhões de toneladas. Os EUA usam mais de 140 milhões de toneladas de milho para etanol e esse uso está crescendo em grande parte dos países, como é o caso do Paraguai, que usa aproximadamente 6 milhões de toneladas. Ou seja, o consumo de milho para produção de etanol é crescente. 

O milho tende a continuar crescendo forte na produção do etanol. Existem muitas industrias em construção ou em ampliação. Inclusive, agora também temos construção de indústrias para produçao de etanol de sorgo, como em Luiz Eduardo Magalhães. 

AgriBrasilis – As baixas temperaturas vão impactar na produtividade das lavouras?  

Brandalizze – Nessa safrinha o frio deve trazer pouco impacto, porque a maior parte das lavouras está fora de riscos. Se as geadas vieram daqui a 15 dias ou mais, elas não devem afetar em nada a produção, porque o milho estará em plena colheita. Inclusive, isso pode até ajudar os produtores porque as geadas matam plantas daninhas que estão no meio do milho e isso diminui até as impurezas na colheita.  

Dessa forma, acredito que de agora em diante não teremos mais problemas com o clima, que inclusive tem sido bem favorável para as lavouras em 2025.  

“O dólar em queda, como visto nas últimas semanas, acaba limitando as cotações do milho na exportação…”

AgriBrasilis –  Como o dólar está afetando o mercado?

Brandalizze – O dólar em queda, como visto nas últimas semanas, acaba limitando as cotações do milho na exportação e isso deixa o cenário mais lento para as negociações do grão exportado para o mercado internacional. Mesmo assim, isso pouco deve afetar nos volumes a serem exportados. Isso afeta no faturamento dos produtores, que pode ser um pouco menor se a moeda americana se mantiver abaixo dos R$ 5,60.  

AgriBrasilis –  Em quanto os preços dos insumos estão afetando a rentabilidade do produtor?

Brandalizze – Os insumos também são dolarizados, portanto o cenário atual de preço do dólar pode ser até beneficio para os produtores, que no caso do milho estão tendo  uma boa relação de troca. Isso estimulou as negociações da Nova Safrinha de 2026, que tem bons volumes negociados através de trocas do grão pelos insumos.  

AgriBrasilis –  Como as tarifas dos EUA tem afetado o mercado de milho?

Brandalizze – Essas tarifas nos beneficiam junto aos importadores de milho dos EUA, porque podemos ter novos mercados se abrindo ou também podemos crescer em mercados atendidos pelos americanos se essas tarifas continuarem.

Acredito que mais cedo ou mais tarde esta situação irá se resolver e os americanos seguirão como grandes exportadores, enquanto o Brasil deve continuar como segundo no ranking. 

 

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