China pode comprar até 5 milhões de toneladas de milho brasileiro em 2023

“A China irá utilizar o Brasil como ponto competitivo em relação ao milho dos EUA. Até 2022, a China praticamente comprava milho apenas da Ucrânia e dos EUA.”

Paulo Molinari é diretor da consultoria agrícola Safras & Mercado e consultor sênior especializado nos segmentos de milho e carnes.

Molinari é economista pela Universidade Federal do Paraná, e pós-graduado em agribusiness pela FAE.

Paulo Molinari, diretor da consultoria agrícola Safras & Mercado


AgriBrasilis – Qual o motivo do aumento do consumo de milho para a produção de etanol e pecuária no Brasil? Quais suas consequências para o mercado?

Paulo Molinari – O Brasil tem uma capacidade de produção de milho gigantesca e necessita oferecer condições de escoamento para uma produção que sempre está crescendo.

Essa produção crescente sempre gerou dificuldades para escoamento da safra em regiões mais limítrofes, como o Centro-Oeste e Matopiba. O milho sempre foi muito barato nessas regiões, apresentando dificuldades de escoamento.

Por outro lado, essas são regiões de pecuária forte extensiva. Com a chegada de frigorificos de maior porte houve a viabilidade da expansão dos confinamentos. O milho barato da região combinou perfeitamente com essa expansão da pecuária de confinamento.

Com milho barato e opções de combustíveis caros para essas regiões, a industria de etanol de milho se instalou, provando ser uma alternativa economicamente mais viável que a industria do etanol de cana. Isso acontece devido à estrutura que é necessária para a produção de cana.

MIlho barato e etanol caro é a combinação perfeita para a industria se instalar. O DDG (grão de milho seco por destilação) encontra escoamento na pecuária e o círculo de produção se fecha.

A produção brasileira de milho sempre apresentará excedentes porque a capacidade de expansão da produção é muito maior que a velocidade de aumento da demanda.

Algo entre 40 e 50 milhões de toneladas de excedente exportável de milho sempre estará presente.

AgriBrasilis – Por que o agricultor está aguardando para vender a soja? Existe infraestrutura suficiente para armazenamento da safrinha?

Paulo Molinari – Infelizmente, o produtor brasileiro foi pouco proativo na comercialização da soja na safra de 2023. Agora, o produtor deseja reter parte da safra para aguardar novos acontecimentos.

O problema para esse quadro é a chegada da safrinha a partir de julho/agosto, que terá dificuldades de encontrar espaço para armazenagem devido a presença de muita soja ainda nos armazéns.

Não há espaço para uma safra recorde de soja e outra de safrinha.

AgriBrasilis – Quais as alternativas para os problemas de infraestrutura logística e armazenagem?

Paulo Molinari – Para o ano atual não há solução, além de muito silo bolsa.

É necessário que o agricultor seja mais proativo na comercialização da safrinha de 2023, antecipando vendas para a exportação para evitar problemas de espaço na época da colheita.

AgriBrasilis – A China deve continuar com o atual ritmo de aquisições de milho brasileiro no segundo semestre? Por quê?

Paulo Molinari – A China irá utilizar o Brasil como ponto competitivo em relação ao milho dos EUA. Até 2022, a China praticamente comprava milho apenas da Ucrânia e dos EUA.

Agora, com um melhor acordo sanitário entre China e Brasil, as portas estão plenamente abertas para a China e o milho brasileiro é bem aceito em todo o mercado mundial.

A China participará, sim, do mercado brasileiro, adquirindo algo entre 2 e 5 milhões de toneladas de milho em 2023.

Porém, devemos lembrar que quando a China compra milho brasileiro ela reduz demanda sobre o milho norte-americano e isso derruba preços na Bolsa de Chicago – CBOT. Isso é importante porque os preços no Brasil são definidos pela CBOT.

AgriBrasilis – As compras chinesas de milho do Brasil mudaram a dinâmica do mercado?

Paulo Molinari – Não. Essa é a dinâmica normal de exportação como para qualquer destino. Não há mudança de prêmios ou preços, nada. A matemática é igual para qualquer comprador.

O que realmente muda a dinâmica do mercado são as perdas de produção, como as que ocorreram na Europa em 2022.

O que acontece é que a China abriu mais um fornecedor de milho e participará na proporção que ela necessita.

Lembrando que a China vem tendo safras recordes de produção a cada ano e o seu perfil de abastecimento está mudando.

 

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