Manejo cultural, uso de híbridos e coinoculação do milho são estratégias contra o estresse hídrico

“Atualmente a coinoculação em milho tem mostrado resultados promissores, muito em função das rizobactérias atuarem na melhor formação da arquitetura radicular…”

Paulo Cesar Magalhães é pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo, formado em agronomia pela Universidade Federal de Lavras, com mestrado pela Universidade Federal de Viçosa e pela University of Minnesota, e doutorado pela Mississippi State University.

Paulo Cesar Magalhães é pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo

Paulo Cesar Magalhães, pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo


AgriBrasilis – A coinoculação do milho é uma boa opção para mitigar situações de estresse hídrico? Por quê?

Paulo Magalhães – Sim. Atualmente a coinoculação em milho tem mostrado resultados promissores, muito em função das rizobactérias atuarem na melhor formação da arquitetura radicular, alterando sua morfologia, provocando melhor aproveitamento de água e nutrientes. Os microrganismos envolvidos na coinoculação são responsáveis pela produção de fitormônios reguladores do crescimento vegetal, aumentando a capacidade das raízes na exploração de água e nutrientes do solo.

AgriBrasilis – A utilização de cultivares híbridas pode ser vantajosa aos produtores diante deste cenário?

Paulo Magalhães – Sim, os híbridos são materiais que passaram por melhoramento para tolerância de diversos tipos de estresse.  Possuem arquiteturas foliar e radicular capazes de produzir carboidratos suficientes para um bom enchimento de grãos, mesmo em condições de estresse. Atualmente, existem programas de melhoramento buscando identificar híbridos tolerantes à seca.

“Os microrganismos envolvidos na coinoculação são responsáveis pela produção de fitormônios reguladores do crescimento vegetal, aumentando a capacidade das raízes na exploração de água e nutrientes do solo”

AgriBrasilis – Que outras opções existem para reduzir os efeitos da seca na cultura?

Paulo Magalhães – Além do uso de híbridos, o manejo cultural é importante e se inicia com a época correta de semeadura. Quando o plantio na safrinha é atrasado, em função da colheita da cultura anterior, são grandes as chances de a lavoura de milho sofrer com a falta de água, em épocas críticas, como o florescimento.

AgriBrasilis – Quais os principais sintomas do estresse hídrico na cultura do milho?

Paulo Magalhães – Redução de crescimento e desenvolvimento, encurtamento de entrenós, folhas murchas, amareladas, provocando senescência acelerada das folhas baixeiras. Quando o estresse ocorre após o florescimento, os sintomas são a falta de grãos na espiga e o menor peso de grãos.

AgriBrasilis – Quais medidas os produtores podem assumir em suas lavouras?

Paulo Magalhães – Os produtores devem seguir a recomendação do Zarc (Zoneamento Agrícola de Risco Climático) para escolha correta da época de plantio. Além disso, a escolha de uma boa semente é fundamental. Hoje os híbridos são recomendados regionalmente: para cada região, há opções no mercado para um tipo correto de híbrido de milho.

AgriBrasilis – Como o clima afetou as plantas de milho em 2023?

Paulo Magalhães – Grande parte do milho produzido atualmente no Brasil é oriundo da semeadura na safrinha. Historicamente, nesse período, as condições climáticas são instáveis: com chuvas escassas e mal distribuídas, além de altas temperaturas na região central do país, e precipitações volumosas na região Sul, que podem provocar atraso no plantio, submetendo a cultura a estresses abióticos, sobretudo o hídrico, provocando queda de produtividade de grãos.

Especificamente em 2023, o clima contribuiu para uma safra recorde de grãos, com aumento da área plantada e da produtividade, ou seja, nas fases críticas da cultura (germinação, florescimento e enchimento de grãos), em que a demanda por água é essencial, o clima colaborou e não ocorreram maiores danos na produtividade.

AgriBrasilis – Que condições podem levar à má formação dos grãos nas espigas de milho?

Paulo Magalhães – A má formação de grãos na espiga é oriunda de problemas na fertilização ou falta de sincronia floral, ou seja, o florescimento masculino não coincide com o feminino, provocando falhas na espiga. O déficit hídrico é um importante fator para que haja aumento entre o intervalo do florescimento masculino e feminino. Nessa situação, o tubo polínico (cabelo) na espiga inviabiliza a fecundação dos grãos, uma vez que, para que ocorra a fecundação, a água é fator primordial.

AgriBrasilis – O que é o fenômeno das “tassel seeds”, ou formação da espiga no pendão? Por que ele ocorre?

Paulo Magalhães – Tassel seeds” é uma denominação do inglês que significa sementes no pendão. Esse fenômeno pode ocorrer quando há o perfilhamento da planta, ou pode também ser causado por estresses como falta de água e/ou alta temperatura, os quais provocam um desbalanceamento hormonal na planta de milho, causando, dessa forma, o aparecimento de sementes no pendão. Não é comum a ocorrência no campo e, mesmo que identificado, acontece em poucas plantas.

 

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