Cigarrinha-do-milho causa prejuízos no Paraná

Cigarrinha Milho enfezamento vermelhoCoutersy of Guido Sanchez
Publicado em: 31 de março de 2021

Cigarrinha-do-milho no Paraná: Entrevista exclusiva com Edivan José Possamai, Engenheiro Agrônomo e Coordenador Estadual do Programa Grãos Sustentáveis – Extensão Rural do Instituto de Desenvolvimento Rural (IDR) do Paraná.

Edivan Possamai Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná

Edivan Possamai, IDR Paraná

A cigarrinha-do-milho (Dalbulus maidis) é vetor para as doenças do complexo de enfezamento, que causam problemas de formação na planta de milho, e podem reduzir a produtividade em até 70%. 

A cigarrinha do milho já era conhecida dos estados de Goiás e Minas Gerais desde 2015/2016. A partir de 2019, foi identificada no Paraná, e na safra 20/21 foi encontrada em todo o Estado, acendendo um alerta para os produtores.


AgriBrasilis – Qual a dimensão da infestação da cigarrinha-do-milho no Paraná e quais os danos causados?

Edivan Possamai – Levantamento realizado pelo IDR-Paraná, Adapar e Embrapa demonstrou a presença do vetor (cigarrinha) e do complexo de enfezamento em todas as regiões do estado do Paraná na primeira safra da safra 20/21, especialmente nas regiões de clima mais frio do Estado (Sudoeste, Sul e Centro-Sul do estado). Não há uma estimativa das perdas totais na safra, mas estivemos acompanhando lavouras com perdas de até 70% na perda da produtividade. Sabe-se que o enfezamento, quando associado a outras doenças, pode chegar a perdas de 100% das lavouras.

 

AgriBrasilis – Como o enfezamento afeta o milho? 

Edivan Possamai – Os molicutes se alojam e se multiplicam no floema da planta de milho, afetando a translocação de assimilados e os processos fisiológicos da planta, tendo como principais resultados indesejados a redução do crescimento e da produção de grãos. Porém ressalta-se que há uma relação entre fatores genéticos da planta de milho e do ambiente que podem potencializar ou não os danos pelo complexo de enfezamento.

 

AgriBrasilis – Como se tornou uma praga tão danosa no Paraná? 

Edivan Possamai – Não havia relato de problemas maiores com o enfezamento do milho no Paraná, apesar da sua existência em outras regiões produtoras de milho do Brasil. A partir da safra 2019 que iniciou-se a sua presença no milho safrinha no Paraná e nesta última safra teve uma abrangência estadual e ligou o alerta. Não se tem um motivo em específico para que tal situação ocorresse. O que se tem são hipóteses ligadas a chamada ponte-verde que pode ter potencializado, quando a presença de plantas espontâneas (tiguera) sobreviveram durante as safras devido ao clima mais seco e diversos fluxos germinatórios de milho não colhido das safras anteriores. Outra hipótese é com relação ao clima mais seco que favoreceu a proliferação das cigarrinhas e com maior quantidade de indivíduos, aumentou a sua dispersão e poder de infecção. Outro fator fortemente observado no campo foi o comportamento de diferentes híbridos e relação a tolerância ao enfezamento, pois como não se tinha conhecimento do problema no Paraná, usou-se híbridos com alta suscetibilidade a doença, o que agravou o problema.

 

Cigarrinha milho vírus raiado fino

Cigarrinha-do-milho e manifestação de vírus do raiado fino. Foto cedida por Guido Sanchez

 AgriBrasilis – Esta praga é restrita ao milho ou também ataca outras culturas? 

Edivan Possamai – A cigarrinha sobrevive em outras gramíneas, porém há pesquisas que demonstram que os molicutes somente sobrevivem no milho, ou seja, há necessidade de uma planta infectada para que ocorra a contaminação da cigarrinha e consequentemente a transmissão para uma planta sadia.

 

 AgriBrasilis – Qual a melhor forma de controle? Químico ou já existem alternativas mais eficientes no controle da praga? Em que estágio o controle é mais efetivo? 

Edivan Possamai – O controle se dá pela adoção de um conjunto integrado de práticas, onde destacamos cinco: 1) controle do milho voluntário -tiguera, visando eliminar a ponte verde entre plantas infectadas e sadias; 2) sincronização dos períodos de semeadura do milho na região, visando menor tempo de milho cultivado e assim a quebra da ponte verde; 3) tratamento de sementes com inseticidas, visando o controle do inseto vetor; 4) controle do inseto vetor nos estádios iniciais da cultura (até aproximadamente V8), quando se tem estudos apontando melhor resultado, com uso de inseticidas (químicos e biológicos) e 5) uso de híbridos com tolerância.

Temos observado que em locais onde tem-se histórico da presença da cigarrinha e do enfezamento e com dificuldade de quebra da ponte verde, o uso de híbridos com tolerância é a melhor estratégia a ser adotada, conjuntamente com outras.

cigarrinha do milho após pulverização

Cigarrinhas após pulverização. Foto cedida por Guido Sanchez.

AgriBrasilis – Existem variedades de milho resistentes? 

Edivan Possamai – Hoje existem materiais no mercado com melhor comportamento e tolerância ao enfezamento e como esta tem sido uma das principais estratégias de convivência com a doença, a informação do comportamento do híbrido passou a ser de fundamental importância. As empresas produtoras de sementes começaram a disponibilizar estas informações e ao mesmo tempo os institutos de pesquisa passaram a avaliar estes materiais visando subsidiar a assistência técnica e agricultores com relação aos melhores materiais.

 

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