“… indústria vem absorvendo o aumento de 140% das matéria-primas em 2021 e vem
repassando ao consumidor o menor reajuste possível …”
Celírio Inácio é diretor executivo da Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC), associação que representa as indústrias brasileiras de torrefação e moagem de café. Inácio trabalha há 24 anos na área comercial e administrativa da indústria cafeeira.
AgriBrasilis – Além das questões climáticas, que motivos contribuíram para o aumento nos custos de produção do café?
Celírio Inácio – A alta no preço do café tem relação direta com as questões climáticas, como geadas e estiagem, mas também é influenciada pela variação cambial. O café é uma commodity e sua cotação sempre foi indexada pelo dólar. A expectativa de pouca oferta eleva a especulação e a variação de preços para cima.
AgriBrasilis – O aumento das exportações de café ameaça o mercado interno?
Celírio Inácio – Os preços internos são vinculados diretamente aos preços das bolsas. Os maiores consumidores estão sem estoque. A possibilidade da baixa produção e a volta do consumo, com o controle da pandemia, indicam que haverá valorização da matéria-prima e uma disputa mais acirrada, tanto no mercado interno quanto externo.
AgriBrasilis – Quais as distinções dos impactos de oscilação de preço entre os diferentes tipos de café?
Celírio Inácio – O preço da espécie de café Arábica tem a sua cotação mais valorizada. Ela é a mais procurada e consumida devido às suas características de bebida. E, por ser uma espécie mais vulnerável aos fatores climáticos, leva a mais insegurança de produção. Ela é comercializada pela Bolsa de NY. Já a espécie de café Canéfora aos poucos está se tornando independente, mas ainda é usada para compor o Blend devido a capacidade de neutralidade
e corpo. Ela é comercializada pela bolsa de Londres.
AgriBrasilis – Os impactos das geadas de 2021 serão sentidos até quando? Quais os efeitos da bienalidade da cultura nesse contexto?
Celírio Inácio – Em 2021, já era sabido que teríamos uma produção menor por ser tratar de bienalidade negativa, ou seja, um ano de menor produção. E, no 8nal do ano, o levantamento mostrou que produzimos 47.71 milhões de sacas. Apesar de todos os transtornos durante 2021, foi considerado uma boa safra. Tivemos uma queda de 24.36%
quando comparado com 2020./Mesmo com a primeira expectativa de safra para 2022, da Conab, de 55.7 milhões de sacas, o mercado continua alerta com a expectativa do mínimo necessário para consumo interno e externo. Vale lembrar que a safra 2023 será de baixa produtividade. Penso que o mercado voltar ao normal em 2024.
AgriBrasilis – Quais as expectativas com relação a oferta e os preços do café neste ano?
Celírio Inácio – Aos poucos a indústria vem absorvendo o aumento de 140% das matéria-primas em 2021 e vem repassando ao consumidor o menor reajuste possível, com muito cuidado. Mas, dependendo dos estoques de cada indústria, da oferta do mercado e das informações do volume da safra de 2022, há uma grande possibilidade de
reajuste para cima nos preços das prateleiras.
