Impactos do clima e variações cambiais na indústria de café no Brasil

Publicado em: 17 de fevereiro de 2022

“… indústria vem absorvendo o aumento de 140% das matéria-primas em 2021 e vem
repassando ao consumidor o menor reajuste possível …”

Celírio Inácio é diretor executivo da Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC), associação que representa as indústrias brasileiras de torrefação e moagem de café. Inácio trabalha há 24 anos na área comercial e administrativa da indústria cafeeira.

 

AgriBrasilis – Além das questões climáticas, que motivos contribuíram para o aumento nos custos de produção do café?
Celírio Inácio A alta no preço do café tem relação direta com as questões climáticas, como geadas e estiagem, mas também é influenciada pela variação cambial. O café é uma commodity e sua cotação sempre foi indexada pelo dólar. A expectativa de pouca oferta eleva a especulação e a variação de preços para cima.
AgriBrasilis – O aumento das exportações de café ameaça o mercado interno?
Celírio Inácio Os preços internos são vinculados diretamente aos preços das bolsas. Os maiores consumidores estão sem estoque. A possibilidade da baixa produção e a volta do consumo, com o controle da pandemia, indicam que haverá valorização da matéria-prima e uma disputa mais acirrada, tanto no mercado interno quanto externo.
AgriBrasilis – Quais as distinções dos impactos de oscilação de preço entre os diferentes tipos de café?
Celírio Inácio O preço da espécie de café Arábica tem a sua cotação mais valorizada. Ela é a mais procurada e consumida devido às suas características de bebida. E, por ser uma espécie mais vulnerável aos fatores climáticos, leva a mais insegurança de produção. Ela é comercializada pela Bolsa de NY. Já a espécie de café Canéfora aos poucos está se tornando independente, mas ainda é usada para compor o Blend devido a capacidade de neutralidade
e corpo. Ela é comercializada pela bolsa de Londres.
AgriBrasilis – Os impactos das geadas de 2021 serão sentidos até quando? Quais os efeitos da bienalidade da cultura nesse contexto?
Celírio Inácio Em 2021, já era sabido que teríamos uma produção menor por ser tratar de bienalidade negativa, ou seja, um ano de menor produção. E, no 8nal do ano, o levantamento mostrou que produzimos 47.71 milhões de sacas. Apesar de todos os transtornos durante 2021, foi considerado uma boa safra. Tivemos uma queda de 24.36%
quando comparado com 2020./Mesmo com a primeira expectativa de safra para 2022, da Conab, de 55.7 milhões de sacas, o mercado continua alerta com a expectativa do mínimo necessário para consumo interno e externo. Vale lembrar que a safra 2023 será de baixa produtividade. Penso que o mercado voltar ao normal em 2024.
AgriBrasilis – Quais as expectativas com relação a oferta e os preços do café neste ano?
Celírio Inácio Aos poucos a indústria vem absorvendo o aumento de 140% das matéria-primas em 2021 e vem repassando ao consumidor o menor reajuste possível, com muito cuidado. Mas, dependendo dos estoques de cada indústria, da oferta do mercado e das informações do volume da safra de 2022, há uma grande possibilidade de
reajuste para cima nos preços das prateleiras.