Restauração florestal dá lucro, mas investimento é de longo prazo

Published on: May 8, 2025

“Os primeiros créditos de carbono são emitidos entre 3 e 7 anos após o início dos projetos…”

Lucas Lamare é gerente de aquisição de terras e parcerias na re.green, empresa focada em projetos de restauração ecológica em larga escala.

Lamare é engenheiro florestal com mestrado em Economia Florestal pela Universidade de Brasília, com MBA em Gestão ambiental e em gestão de projetos.

Lucas Lamare, gerente na re.green


AgriBrasilis – Como recuperar 1 milhão de hectares de florestas no Brasil?

Lucas Lamare – Trabalhando com escala e em parceria. Estamos restaurando 1 milhão de hectares de florestas nativas em áreas estratégicas da Mata Atlântica e da Amazônia. Já temos mais de 26 mil hectares em restauração ativa, com quase cinco milhões de mudas plantadas e técnicas de regeneração natural assistida.

A escala que buscamos exige ciência, tecnologia e parceria com quem está no campo. Trabalhamos com inteligência territorial, mapeamento de carbono e drones. E temos ao nosso lado viveiros como a Bioflora, que pode produzir até 10 milhões de mudas por ano com alta diversidade genética. Tudo isso é feito com foco em ganhos de biodiversidade e estruturas florestais resilientes.

Nossos projetos só são viáveis com bons parceiros — produtores, proprietários de terra e comunidades locais que compartilham do mesmo compromisso com a floresta de pé.

AgriBrasilis – É possível explorar madeira nativa e ser sustentável ao mesmo tempo?

Lucas Lamare – Sim, é não só possível como necessário. Incorporamos a produção de madeira de espécies nativas como parte de uma estratégia de restauração ecológica. Isso significa plantar, manejar e colher espécies com valor comercial em apenas uma fração das áreas, após 20 a 30 anos, com base em um único ciclo de corte seletivo. Essa prática, além de gerar receita de longo prazo, contribui para a diversidade e o equilíbrio ecológico.

Seguimos os princípios do manejo sustentável e da regeneração natural, garantindo que a floresta siga evoluindo após o manejo. Restauramos ecossistemas funcionais que sequestram carbono, abrigam biodiversidade e podem, sim, gerar valor econômico.

AgriBrasilis – A restauração florestal dá lucro? Em quanto tempo?

Lucas Lamare – Sim, mas é um investimento de longo prazo. Os primeiros créditos de carbono são emitidos entre 3 e 7 anos após o início dos projetos. Eles são gerados com base em metodologias rigorosas e têm alta integridade. Já a madeira de espécies nativas pode gerar retorno entre 20 e 30 anos, com um único ciclo de colheita. Ao longo do tempo, também há oportunidades com produtos não madeireiros — como sementes, óleos e frutos. Esse modelo combina diferentes fluxos de receita, com contratos de longo prazo, o que dá previsibilidade para investidores e parceiros.

AgriBrasilis – De que forma deve funcionar o sistema de arrendamentos da re.green para créditos de carbono?

Lucas Lamare – Funciona assim:

  • O proprietário arrenda uma área degradada.
  • A re.green assume todo o investimento — do plantio à manutenção.
  • O dono da terra recebe uma contrapartida financeira.
  • A terra continua em seu nome, mas passa a gerar outro tipo de valor ambiental e econômico. Esse é um modelo que une segurança jurídica, valorização da propriedade e um legado positivo para as próximas gerações.

AgriBrasilis – Como são escolhidas as áreas e quais as etapas para restauração florestal? Lucas Lamare – Selecionamos áreas com base em três critérios principais: grau de degradação, importância ecológica e viabilidade técnica para a restauração.

A partir disso, seguimos um processo estruturado:

  1. Diagnóstico técnico da área.
  2. Definição do modelo ideal (plantio, regeneração natural ou combinação).
  3. Produção e logística de mudas.
  4. Implantação da restauração.
  5. Monitoramento contínuo com sensores e imagens.

Acompanhamos cada área após a implantação, com ajustes de manejo que garantem a manutenção da floresta ao longo do tempo.

AgriBrasilis – Qual é a importância do viveiro Bioflora?

Lucas Lamare – A Bioflora é um dos pilares da nossa capacidade de entregar restauração em larga escala com qualidade. Com mais de 30 anos de história, já contribuiu para a restauração de mais de 30 mil hectares no Brasil. Hoje, integra a re.green e é referência em diversidade e qualidade de mudas nativas. Plantamos mais de 80 espécies por projeto, muitas ameaçadas de extinção. Também usamos recipientes biodegradáveis que melhoram o enraizamento e reduzem o impacto ambiental. Além disso, temos 29 viveiros locais parceiros para garantir capilaridade e eficiência logística. Escalar restauração com integridade exige esse tipo de estrutura.

AgriBrasilis – Quais são os termos da parceria da empresa com a Microsoft?

Lucas Lamare – A Microsoft foi a primeira empresa global a apostar no nosso modelo de restauração de alta integridade. Entre 2024 e 2025, firmamos dois acordos para restaurar juntos 33 mil hectares de florestas nativas. Serão gerados 6,5 milhões de créditos de carbono (VCUs), com rastreabilidade, ganhos de biodiversidade garantidos e benefícios sociais mensuráveis. É uma colaboração que mostra como a restauração pode ser uma solução concreta para o clima — e também uma oportunidade econômica. Para os donos de terra, é a chance de fazer parte de um movimento global, com retorno financeiro e legado positivo.

 

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