R$ 12 bilhões para produção de biocombustível de macaúba

“A macaúba tem características únicas. É uma planta brasileira com alta produtividade de óleo por hectare e altamente competitiva…”

Marcelo Cordaro é COO da empresa de energia Acelen Renováveis, formado em engenharia elétrica e eletrônica e mestre pela Escola Politécnica da USP, com doutorado pela Washington University.

Marcelo Cordaro é COO da empresa de energia Acelen Renováveis

Marcelo Cordaro, COO da Acelen Renováveis


AgriBrasilis – Por que investir R$ 12 bilhões para produção de biocombustível de macaúba?

Marcelo Cordaro – A macaúba tem características únicas. É uma planta brasileira com alta produtividade de óleo por hectare e altamente competitiva quando comparada com outras culturas, com uma excelente eficiência no uso da água e nutrientes.

Como espécie perene nativa, adaptada às regiões mais áridas do Brasil, a macaúba possibilita uma solução sustentável completa para o setor de energia e outros segmentos, com a conservação ou até mesmo a recuperação da biodiversidade, à medida que áreas degradadas serão substituídas por sistemas florestais de macaúba. Seu cultivo será feito utilizando as melhores práticas agrícolas e ambientais, favorecendo a captura de carbono e a redução de emissão de CO2 da semente ao combustível.

AgriBrasilis – Como serão investidos esses recursos e qual é o cronograma dos investimentos?

Marcelo Cordaro – A previsão é que, a partir de 2026, sejam produzidos um bilhão de litros de diesel renovável e combustível sustentável de aviação (SAF) por ano, o que tornará a companhia uma das maiores produtoras de biocombustíveis do mundo, a partir de culturas agrícolas de alta energia. São mais de R$ 12 bilhões nos próximos dez anos, em um projeto ancorado em 3 eixos principais: agricultura integrada à indústria para produção de combustíveis renováveis, geração de créditos de carbono certificados após recuperação de terras degradadas e impacto socioambiental positivo. A maior parte dos investimentos será na produção de macaúba, planta brasileira de alto potencial energético, que produz até sete vezes mais óleo do que a soja.

O momento atual do projeto é de análise e prospecção dos locais para implantação dos hubs de plantio de macaúba e suas respectivas unidades de esmagamento nos estados da BA e MG. O CITA – Centro de Inovação e Tecnologia Agroindustrial, em Montes Claros, MG, está em fase de obtenção da licença de instalação para início das obras ainda no primeiro trimestre de 2024 e expectativa de produção das mudas ainda neste ano. Para a construção do CITA, estão previstos investimentos de R$ 125 milhões.

AgriBrasilis – A macaúba pode ser considerada uma planta rústica? Em que regiões pode ser cultivada e qual é seu potencial econômico?

Marcelo Cordaro – Trata-se de uma planta não domesticada e de existência natural no meio ambiente, mas seu potencial econômico, social e de sustentabilidade foi decisivo para a Acelen Renováveis prever o investimento da ordem de R$ 8 bilhões na verticalização do plantio. Ainda não temos definição das localidades ou do volume de instalações a serem estabelecidas em MG. O momento atual do projeto é de análise e prospecção dos locais para implantação dos hubs de plantio de macaúba e suas respectivas unidades de esmagamento.

A nossa projeção inicial é a instalação de pelo menos 5 hubs de agroindústria de macaúba, com viabilidade para o norte de MG e o estado da BA. Diversos fatores são cruciais para definição das localidades, como aspectos logísticos, econômicos e estratégicos para a tomada de decisão.

AgriBrasilis – Já existe cultivo em larga-escala de macaúba no Brasil?

Marcelo Cordaro – A macaúba é uma planta não domesticada, o que torna do projeto da Acelen Renováveis pioneiro no mundo. Nós desenvolveremos a planta desde a germinação até a produção do óleo.

Sementes germinadas de macaúba. (Fonte: Acelen)

AgriBrasilis – A Acelen planeja plantar 200 mil hectares de macaúba e dendê. O que garante a sustentabilidade desse projeto?

Marcelo Cordaro – O projeto foi desenhado para ser sustentável de ponta a ponta (fully sustainable), alavancando as características sustentáveis da macaúba, dentro de uma estratégia de recuperação de áreas degradadas com base em metodologias robustas e transparentes.

Como espécie perene nativa, a macaúba oferece uma gama de serviços ambientais, como a conservação ou até mesmo recuperação da biodiversidade, à medida que áreas degradadas serão substituídas por vegetação de macaúba. Com a plantação de macaúba, a cobertura vegetal será mantida, conservando o solo e sua biodiversidade. Isso contribuirá para a recuperação de mananciais de água e fornecerá uma fonte de alimento para aves e outros animais nativos. O cultivo da Macaúba seguirá as melhores práticas agrícolas e ambientais, promovendo a captura de carbono e reduzindo as emissões de CO2 ao longo de todo o processo, desde a semente até a produção de combustível.

O cultivo do dendê e da macaúba produz combustível e outros coprodutos como “food, feed, energy, fibers”. É um produto classificado como “zero waste”, ou seja, desperdício zero. Esse elemento torna sua produção muito vantajosa: a casca da noz pode gerar energia enquanto a polpa pode ser usada para produzir um farelo, muito rico em proteína, que serve para alimentação humana e animal.

AgriBrasilis – Como concorrer com grupos como Raízen, BBF e Vibra?

Marcelo Cordaro – Nossa estratégia de execução, associada ao desenvolvimento da macaúba, é uma iniciativa pioneira e inovadora aderente às demandas crescentes por soluções sustentáveis de descarbonização dos transportes nos mercados nacionais e internacionais. Através de uma equipe qualificada, parceiros robustos, e uma base robusta de investidores, vamos oferecer a partir de 2026, diesel renovável e combustível sustentável de aviação produzidos a partir de matérias-prima renováveis para a atender as demandas de descarbonização de setores como viação aérea.

A Acelen abriu um escritório comercial em Houston, EUA, com foco na aproximação do mercado de biocombustíveis dos EUA. A empresa tem o objetivo de alcançar o mercado mundial de óleo e gás, apostando nas oportunidades do maior centro mundial petrolífero e na prontidão dos mercados globais para receber combustíveis renováveis.

 

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