Agro, sequestro de carbono e políticas públicas no Brasil

sequestro carbono

“É preciso adotar práticas sustentáveis, como a agricultura de conservação, que minimiza o revolvimento do solo…”

Carlos Alberto Tavares Ferreira é fundador e CEO da Carbon Zero, consultoria especializada em energia e emissões de carbono.

Ferreira é fundador e diretor presidente da Fundação Tavares Ferreira, diretor administrativo do Centro de Apoio e Pesquisa – Capes, formado em economia e contabilidade pela Universidade Paranaense – Unipar.

Carlos Ferreira, CEO da Carbon Zero


AgriBrasilis – O que é o sequestro de carbono e qual sua relação com o agro?

Carlos Ferreira – O sequestro de carbono refere-se à captura e armazenamento de dióxido de carbono (CO2) da atmosfera, reduzindo sua concentração para mitigar as mudanças climáticas.

No contexto do agronegócio, práticas sustentáveis, como o cultivo de árvores, técnicas de manejo do solo e rotação de culturas, podem contribuir para o sequestro de carbono. Isso é crucial, pois ajuda a compensar as emissões de gases do efeito estufa (GEE) associadas à agricultura.

AgriBrasilis – Por que a agropecuária é considerada vilã das emissões de gases do efeito estufa (GEE)?

Carlos Ferreira – A agropecuária é considerada uma das principais fontes de emissões de GEE em função de diversos fatores. O processo de criação de gado, por exemplo, contribui significativamente para as emissões de metano, um gás com potencial de aquecimento global muito elevado. Além disso, o desmatamento para expansão de áreas agrícolas libera grandes quantidades de dióxido de carbono. A gestão inadequada dos solos agrícolas também pode resultar na liberação de óxido nitroso, por exemplo.

Sabemos a importância da agropecuária para a sociedade, mas é crucial adotar práticas sustentáveis para mitigar essas emissões e promover a agricultura de baixo carbono.

É preciso adotar práticas sustentáveis, como a agricultura de conservação, que minimiza o revolvimento do solo, promovendo a captura de carbono. O uso eficiente de fertilizantes, a diversificação de culturas e a gestão integrada de pragas também são fundamentais. Além disso, investir em tecnologias de baixa emissão de carbono e em sistemas agroflorestais pode contribuir significativamente para um setor agrícola mais sustentável.

“A sociedade civil desempenha papel crucial na redução das emissões de GEE.”

AgriBrasilis – Os protocolos para redução das mudanças climáticas, como o Protocolo de Quioto ou de Paris, surtiram algum efeito?

Carlos Ferreira – O Protocolo de Quioto, adotado em 1997, e o Acordo de Paris, adotado em 2015, são esforços internacionais significativos para combater as mudanças climáticas. Ambos visam reduzir as emissões de GEE para limitar o aquecimento global.

O Protocolo de Quioto teve impacto limitado devido à falta de compromissos vinculativos para alguns dos maiores emissores, como os EUA, que não ratificaram o acordo, e a ausência de metas obrigatórias para países em desenvolvimento.

O Acordo de Paris é mais abrangente e inclui a participação de uma ampla gama de países. Os signatários comprometem-se a limitar o aquecimento global a bem abaixo de 2 °C acima dos níveis pré-industriais, buscando esforços para limitar o aumento a apenas 1,5 °C. No entanto, a implementação efetiva e o alcance dessas metas dependem da ação nacional e da vontade política dos países.

Eu poderia enfatizar a urgência de ações mais robustas e rápidas para atingir os objetivos do Acordo de Paris. As projeções indicam que, sem medidas significativas, as consequências das mudanças climáticas podem ser cada vez mais severas. É crucial que os países implementem políticas ambiciosas de redução de emissões, promovam tecnologias limpas e adotem práticas sustentáveis para mitigar os impactos das mudanças climáticas. Além disso, a colaboração internacional contínua é essencial para enfrentar esse desafio global.

AgriBrasilis – O Brasil tem implementado políticas públicas consistentes para enfrentar e mitigar as mudanças climáticas?

Carlos Ferreira – O Brasil tem implementado algumas políticas públicas para enfrentar e mitigar as mudanças climáticas, mas existem desafios significativos. O país aderiu ao Acordo de Paris, comprometendo-se com a redução das emissões de GEE, principalmente através da diminuição do desmatamento na Amazônia e no Cerrado. No entanto, o aumento do desmatamento nos últimos anos tem sido motivo de preocupação, o que faz necessário reforçar as medidas de proteção ambiental. Além disso, existem problemas persistentes relacionados à gestão sustentável dos recursos naturais, uso da terra e a dependência contínua de fontes de energia não renováveis.

A implementação efetiva de políticas de mitigação exigirá esforços coordenados em diversas áreas, incluindo o fortalecimento da governança ambiental, o incentivo às práticas agrícolas sustentáveis e a promoção de energias renováveis. É necessário que o Brasil intensifique seus esforços para cumprir as metas climáticas e contribuir de maneira significativa para a redução global de emissões de GEE.

AgriBrasilis – A sociedade civil possui algum poder decisório nesse sentido? O que o “cidadão comum” pode fazer para reduzir emissões?

Carlos Ferreira – A sociedade civil desempenha papel crucial na redução das emissões de GEE. O “cidadão comum” tem o poder de influenciar as mudanças através de suas escolhas diárias e ao pressionar por políticas mais sustentáveis. O cidadão pode contribuir através de:

  • Conscientização e Educação: entender as causas e impactos das mudanças climáticas, e compartilhar conhecimentos para aumentar a conscientização;
  • Eficiência Energética: reduzir o consumo de energia em casa, optar por fontes de energia renovável quando possível;
  • Mobilidade Sustentável: usar transporte público, carros elétricos ou bicicletas, reduzir viagens aéreas sempre que possível;
  • Consumo Consciente: escolher produtos com menor pegada de carbono, reduzir o desperdício e reciclar;
  • Advocacia Política: apoiar e pressionar por políticas climáticas eficazes, participar de movimentos e organizações ambientais.

Ações individuais, quando multiplicadas em escala global, têm impactos significativos. A colaboração e o engajamento da sociedade civil são essenciais para enfrentar os desafios das mudanças climáticas. Cada pessoa desempenha um papel vital na construção de um futuro sustentável.

 

LEIA MAIS:

Deficiência logística gera prejuízos de R$ 30 bilhões para o agronegócio