“Prevemos investir R$ 3 bilhões de recursos de caixa da própria Atvos nos próximos três anos…”
Bruno Serapião é CEO da Atvos, engenheiro mecânico formado pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica – ITA.
A Atvos é a segunda maior produtora de etanol do Brasil e um dos principais emissores de Créditos de Descarbonização do país.
Bruno Serapião é CEO da Atvos
AgriBrasilis – Qual é a situação da dívida de R$ 6,4 bilhões da Atvos?
Bruno Serapião – Recentemente anunciamos uma mudança importante em nossa estrutura de capital, com a transferência do montante de R$ 6,4 bilhões de títulos de dívida para a Soneva Energias Renováveis S.A., um veículo financeiro do FIP Agroenergia, atual controlador da empresa.
Hoje, a Soneva detém 90% do controle acionário da companhia e a nossa dívida bruta foi reduzida em 50%, com o prazo de vencimento das obrigações vigentes alongadas até 2043, além de taxa de juros reduzida e possibilidade de início dos primeiros pagamentos em três anos. Esse foi um passo fundamental em direção à chegada da Mubadala Capital, uma empresa global de estão de ativos, que já havia anunciado a intenção de realizar investimentos de R$ 500 milhões na companhia. Agora, nós temos um perfil de dívida adequado à realidade atual de nossas operações e uma saúde financeira robusta.
Prevemos investir R$ 3 bilhões de recursos de caixa da própria Atvos nos próximos três anos, sendo R$ 1,6 bilhão ainda na safra atual 2023/24, em nossas unidades agroindustriais, localizadas em SP, GO, MT e MS. Também queremos injetar parte desse montante em novos negócios, inovação, no desenvolvimento de nossas pessoas, comunidades e de toda a cadeia produtiva.
AgriBrasilis – A empresa pretende digitalizar os trabalhos nas lavouras de cana. O que isso significa?
Bruno Serapião – Estamos passando por um intenso processo de transformação em todas as áreas desde a chegada do FIP Agroenergia. Com isso, temos buscado atuar em novos mercados de tecnologia e hubs de inovação para trazer soluções inovadoras. Apostamos tanto nessa vertente que lançamos, em agosto, nosso primeiro programa de inovação aberta, o Inov@tvos. Voltado para startups e empresas de todo o país, o programa receberá parte do investimento de R$ 3 bilhões previsto para os próximos três anos para promover cada vez mais a inovação e o empreendedorismo no agronegócio, sobretudo em mitigação de riscos e custos, e no aumento da eficiência operacional.
Nós buscamos novas soluções para otimizar o transporte desde o talhão da plantação de cana até o processamento, digitalizando o trabalho na cultura, bem como para traçar as rotas com maior precisão. Também queremos implementar alternativas eficientes para acionar digitalmente os serviços de apoio, algo como uma espécie de “Uber”, em que os profissionais são acionados de acordo com a necessidade.
AgriBrasilis – Que processos essa digitalização envolve? Quais as principais dificuldades?
Bruno Serapião – A nossa intenção é avançar tecnologicamente nas nossas diversas áreas de atuação, desde o campo, passando pelo transporte e pelas atividades dentro das unidades produtivas. As dificuldades são inerentes aos processos produtivos. Há um caminho para alcançar o estado da arte tecnológico e estamos convencidos de que é plenamente possível atingir as nossas metas de digitalização nas operações.
AgriBrasilis – Como a empresa utiliza seus subprodutos, como torta de filtro e vinhaça?
Bruno Serapião – Buscamos mitigar nossos impactos ambientais por meio da economia circular, com o desenvolvimento de soluções tecnológicas sustentáveis para o plantio, cultivo e colheita da cana-de-açúcar. Os subprodutos originados da própria moagem, como a vinhaça e a torta de filtro, que são cogerados durante nossos processos produtivos, possuem importantes níveis de matéria orgânica e minerais, que ganham novas funções ao serem usadas como biofertilizantes para a adubação dos mais de 480 mil hectares de canaviais da Atvos no país.
Isso tem contribuído para mantermos os recursos pelo máximo de tempo possível dentro da cadeia produtiva, permitindo um controle maior sobre o impacto ambiental da companhia. O uso desses recursos teve uma importante ampliação nas últimas safras, já que têm alta importância para a nutrição da cana e fertilização do solo. No ciclo 2022/23, por exemplo, a torta de filtro, composta por matéria orgânica e minerais como fósforo, nitrogênio e cálcio, foi utilizada em 17 mil hectares de canavial, um crescimento de 41% em relação aos últimos anos.
A vinhaça, rica em potássio e matéria orgânica, foi aplicada em 91 mil hectares de lavouras em 2022/23, um aumento de 20% ante a safra 2021/22. Nesse caso, especificamente, é importante ressaltar que, por meio do Plano de Aplicação de Vinhaça, as unidades agroindustriais da Atvos realizam uma análise do solo em todas as áreas onde o subproduto será aplicado e, a partir desses resultados, é possível verificar se aquele local é compatível para receber ou não a fertirrigação com o produto.
AgriBrasilis – A Atvos é um dos principais emissores de Créditos de Descarbonização do país. O que são os CBIOs e qual é sua importância?
Bruno Serapião – O Crédito de descarbonização ou Crédito de Carbono foi criado pelo programa governamental RenovaBio, lançado há mais de cinco anos pelo Ministério de Minas e Energia. Esse crédito nada mais é do que um título emitido pelas empresas licenciadas e produtoras de biocombustíveis que, a partir de suas operações, contribuem com a agenda climática global. Isso porque o uso de produtos como o etanol apresenta menor pegada de carbono e evita emissões de gases e efeito estufa na atmosfera.
Com cada CBIO emitido, uma tonelada de carbono deixa de ser lançada na atmosfera. Os CBIOs são comercializados em Bolsa, sendo um incentivo para a produção de biocombustíveis no Brasil. Além disso, podem ser utilizados para a realização de ações em prol do meio ambiente, como as iniciativas que a Atvos tem realizado em parceria com outras empresas, como a Mitsubishi Motors, para a neutralização das emissões de carbono.
Atualmente, a Atvos tem capacidade de emitir mais de 2 milhões de créditos de descarbonização por safra, sendo uma das principais emissoras nacionais de CBIOs do setor sucroenergético e um dos players mais relevantes na geração de energia limpa e renovável no Brasil. A empresa renovou a certificação do RenovaBio de todas as suas unidades agroindustriais até 2025.
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