“Depois de passarmos por safras com situações adversas, com seca, geada, queimadas, podemos dizer que essa foi a safra da redenção…”
Almir Torcato é gestor corporativo da Associação dos Plantadores de Cana do Oeste do Estado de São Paulo – Canaoeste, formado em direito pela Anhanguera Educacional, especialista em gestão estratégica do agronegócio pela Esalq, com MBA pela Saint Paul Escola de Negócios.
AgriBrasilis – Que fatores motivaram a supersafra de cana de 2023/24?
Almir Torcato – Depois de passarmos por safras com situações adversas, com seca, geada, e queimadas, podemos dizer que essa foi a safra da redenção. Em 2023/24, tivemos um conjunto de fatores positivos: as boas condições climáticas, preços favoráveis, e arrefecimento dos custos de insumos. Esses motivos justificam uma produção estimada em 652,6 milhões de toneladas. Estamos otimistas para a safra 2024/25, mas é provável que ela apresente números mais modestos ante 2023/24.
Temos uma perspectiva bastante boa para a safra 2024/25 em relação à questão dos resultados. O que é resultado? É tirar de todas as receitas as despesas e ver quanto sobra no final de cada hectare de produção de cana.
“Estamos otimistas para a safra 2024/25, mas é provável que ela apresente números mais modestos ante 2023/24”
AgriBrasilis – Quais são as expectativas para a safra 2024/25? O cenário é pessimista?
Almir Torcato – O cenário que se desenha ainda não é pessimista, mas certamente deveremos apresentar números mais modestos. Ainda que com um ligeiro decréscimo de produtividade – de 5% a 10% – ante a safra passada, considerando a questão climática, 2024/25 não deve ser uma safra tão ruim.
Nós não estamos pessimistas, mas não podemos descartar a existência de certas variáveis, como intercorrência do mercado internacional, guerras, políticas públicas, que podem alterar o cenário.
AgriBrasilis – Quais devem ser os impactos dos insumos (preços, oferta, etc.) no setor?
Almir Torcato – Nós tivemos um arrefecimento no preço dos insumos, principalmente dos fertilizantes, que apresentaram reduções de até 40%, o que reflete uma volta aos padrões pré-pandemia. Essa reacomodação dos insumos, aliada aos bons índices de produtividade desta safra, dão um respiro ao setor, fazendo com que as coisas acabem se acomodando e entrando nos eixos, melhorando o faturamento para o produtor de cana.
AgriBrasilis – Os preços do açúcar estão 60% mais altos do que os valores equivalentes para o etanol brasileiro. Por quê?
Almir Torcato – Esse ponto é uma questão de mercado internacional, de oferta e demanda. Isso depende inclusive da situação de outros países produtores de açúcar no mundo. Quando o estoque mundial não está superavitário, a tendência é de pressionar o preço do açúcar, deixando-o bastante competitivo. Contudo, estamos falando de uma questão competitiva em relação ao etanol, que depende também de questões de política energética, como, por exemplo, se a Petrobras se utilizar de interferência no preço da gasolina pra controlar a inflação – lembrando que o preço final do etanol tem sempre uma paridade em relação ao combustível fóssil.
Com relação ao etanol, o cenário ainda está sendo desenhado, e depende de aspectos políticos, preferências governamentais, subsídios e questões relacionadas à política energética. Então, não necessariamente essa questão envolve um único aspecto para incrementar ou diminuir o valor do etanol, que segue bastante atrelado ao preço da gasolina. Dessa forma, o preço do etanol hoje é um aspecto do mercado, e não tem a ver exclusivamente com a produção.
O etanol não está remunerando como o açúcar. A gente depende de políticas, mas por hora nada sinaliza um movimento contrário. Portanto, acreditamos que 2024/25 será uma safra mais açucareira.
AgriBrasilis – Por que as lavouras de cana 2024/25 devem ser “irregulares”?
Almir Torcato – Porque tivemos chuvas em alguns pontos, mas não de uma maneira uniforme: tivemos regiões que foram bastante privilegiadas, outras nem tanto.
AgriBrasilis – O que se espera do clima e da possibilidade do La Niña?
Almir Torcato – A safra 2024/25 está se iniciando agora, no dia 1º de abril, e vem com algumas incógnitas. O primeiro ponto é a questão climática: saímos do El Niño e estamos agora com a possibilidade do La Niña. Precisamos aguardar o comportamento das chuvas. Se não ocorrerem severas intercorrências climáticas, aqui na região da Canaoeste nós estamos estimando uma produtividade similar ou ligeiramente menor do que a da safra passada, com cerca de 3% a 5% de deságio.
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