“Exemplo de sucesso são os bionematicidas, que em cultivos como a soja já representam aproximadamente 90% do investimento…”
André Dias é diretor-executivo da Kynetec para a América Latina, diretor da Fundação Agrisus, e membro do conselho curador da Fealq. Dias é engenheiro agrônomo pela Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” – USP, com MBA pela Fundação Instituto de Administração.
A Kynetec é especialista em pesquisa de mercado global em saúde animal e agricultura, líder em informações estratégicas sobre o agronegócio.
AgriBrasilis – A Kynetec realiza pesquisas de mercado sobre o agro em mais de 80 países. Qual a avaliação sobre o setor de agroquímicos do Brasil e da América Latina?
André Dias – O setor de defensivos é fundamental para a proteção dos cultivos e possibilita a segurança alimentar do planeta. Esse setor, tanto no Brasil como na América Latina, acompanha as movimentações do cenário macroeconômico global.
Nos últimos anos, além da demanda adicional de volumes, resultante das expansões de área e tecnologia, o cenário de pandemia gerou um aumento nos valores desses insumos. Houve paralisação de fábricas nos principais países fabricantes das matérias primas, além de incremento nos valores logísticos. Em 2022, o Brasil atingiu um valor recorde na utilização de defensivos, superando a marca de US$ 20 bilhões.
Importante salientar que esse consumo está relacionado com uma produção recorde de grãos, com uma área total no país, entre safras de inverno e verão, de mais de 73 milhões de hectares.
AgriBrasilis – O senhor considera que o mercado de biológicos deve continuar crescendo. Quais as estimativas para cada segmento? Quanto esse mercado deve representar em 5 anos?
André Dias – Insumos biológicos são uma alternativa importante para os manejos de insetos, doenças, nematoides e para o suprimento nutricional nos diferentes cultivos.
A tendência de aumento do setor de biológicos é bastante positiva, pois em vários segmentos esses produtos se tornaram referência para controle de patógenos ou pragas. Exemplo de sucesso são os bionematicidas, que em cultivos como a soja já representam aproximadamente 90% do investimento dos agricultores para o manejo de nematoides. Os próprios inoculantes para fixação de nitrogênio também são referência em soja.
Atualmente, os biológicos, seja para proteção de cultivos ou para suprimento nutricional, representam aproximadamente 4-5% do consumo total no país.
As estimativas são bastante otimistas, pois além das empresas especialistas em biológicos, as próprias empresas de defensivos agrícolas também estão investindo nessa tecnologia. Nos próximos cinco anos, devemos atingir aproximadamente 10% do consumo, mas sempre lembrando que o manejo integrado ainda é fundamental.
AgriBrasilis – Quais as tendências para outros insumos, como agroquímicos e sementes?
André Dias – Considerando a importância estratégica na produção de alimentos, tanto do Brasil como nos demais países da América Latina (principalmente Argentina, México, Paraguai e Colômbia), o cenário segue bastante positivo.
Devemos seguir expandindo a área dos principais cultivos, sendo que as questões de tecnologia, tanto para sementes como defensivos, são fundamentais na busca por produtividades mais elevadas. Nesse contexto, novas variedades / híbridos e novos produtos, sejam fungicidas, herbicidas, inseticidas, ou biológicos também irão contribuir.
Analisando o cenário de curto e médio prazo, as movimentações deverão ser bastante positivas, exceto nas questões de preços, que, principalmente no caso dos produtos pós-patente, estão retornando aos patamares de valor anterior à pandemia.
AgriBrasilis – O mercado de nematicidas cresceu 10 vezes nas últimas oito safras. O que propiciou esse avanço? Quais as principais culturas tratadas?
André Dias – Nematoides são pragas ou vermes de solo de tamanho microscópico, que provocam danos significativos nos cultivos afetados, causando redução drástica nas produtividades. No Brasil, os agricultores convivem com esse problema há décadas. Práticas como o uso de variedades/híbridos mais tolerantes, rotação de cultivos ou mudança de área são largamente utilizadas.
Com o lançamento dos bionematicidas, os agricultores ganharam uma nova ferramenta para controlar esse patógeno. São produtos menos agressivos, com custo-benefício importante e efetividade no controle. Novos produtos químicos de menor toxicidade também foram lançados, com alta eficácia, sendo uma alternativa para rotação com os próprios biológicos.
Em relação aos cultivos, podemos destacar o manejo com nematicidas em soja, cana, milho, algodão e café, além dos cultivos de frutas (banana, laranja) e vegetais (alho, cebola, cenoura, batata).
AgriBrasilis – Outro setor que apresentou grande crescimento foi o do amendoim, alcançando US$ 90 milhões. Quais os produtos utilizados e por quê? O que se espera para as próximas safras?
André Dias – O amendoim é uma importante alternativa para rotação de cultivos, principalmente com a cana-de- açúcar no estado de São Paulo. Além da expansão de área em alternância com a cana, o Brasil tem se tornando um especialista na produção e exportação dessa oleaginosa.
Recentemente, foi firmado um contrato para exportação de amendoim para a China. Esse evento deve alavancar ainda mais a produção e exportação deste produto.
Quanto ao manejo, destaque para os fungicidas para controle de mancha preta e mancha castanha, inseticidas para controle de lagartas e tripes, além dos herbicidas para controle de gramíneas e folhas largas.
AgriBrasilis – O que a aquisição da Spark no Brasil representou para a empresa? Quais seus próximos investimentos?
André Dias – A aquisição da Spark consolida a Kynetec no país como uma das principais empresas de pesquisas de mercado para o agronegócio. Além disso, o principal produto da empresa, o painel de mercado FarmTrak®, agrega a expertise e equipes de duas empresas com o DNA do agro. Novos estudos em diferentes mercados e cultivos, como nutrição e máquinas foram viabilizados com essa aquisição.
Em 2023, já teremos o estudo de nutrição sobre os cinco principais cultivos do Brasil: soja, milho 2ª safra, algodão, cana e café.
A Kynetec também acaba de adquirir a MQ Solutions, empresa especialista em estudos de preços de insumos para o agro.
LEIA MAIS: