“Brasil será ainda mais relevante no comércio mundial de açúcar”

“…estamos num cenário de redução dos custos de produção e de melhores margens econômicas…”

Haroldo José Torres da Silva é sócio-diretor do Pecege Consultoria e Projetos, membro dos Comitês Agrícola e Financeiro do Grupo Cocal e do Grupo Colombo.

Silva é economista, mestre e doutor pela Universidade de São Paulo.

Haroldo Torres, sócio-diretor do Pecege Consultoria e Projetos


AgriBrasilis – Está faltando açúcar no mercado internacional? Por quê?

Haroldo Torres – Espera-se um déficit no mercado global de açúcar, em função da retração na oferta de players importantes dessa commodity. A Tailândia, por exemplo, deve ter a pior safra de cana-de-açúcar da última década. Esse cenário é marcado pelo aumento do consumo global, puxado pelo crescimento populacional, em detrimento da retração da oferta do açúcar em alguns países, tal como Índia e Tailândia.

AgriBrasilis – Como a decisão da Índia de não exportar açúcar beneficia o Brasil?

Haroldo Torres – A falta de chuvas deve reduzir a produção de cana-de-açúcar na Índia. No entanto, num período que antecede as eleições da Índia (maio de 2024), algumas preocupações são relevantes: segurança alimentar e inflação. Dessa forma, a Índia busca garantir oferta suficiente de açúcar no mercado doméstico e manter os preços sob controle, através da limitação das exportações de açúcar.

Se houver restrições ou proibição de exportação de açúcar indiano para a próxima temporada (2023/24), tende-se a observar um aumento do preço desta commodity no mercado internacional, beneficiando o Brasil, em especial a região Centro-Sul.

AgriBrasilis – Qual é a análise do senhor com relação aos custos de produção atuais na cadeia? E com relação às margens dos produtores?

Haroldo Torres – No agronegócio, tudo gira em torno da produtividade. Maiores produtividades significam mais produção com menos lavoura e menos recursos, definindo, em última análise, a capacidade de diluição de custos e geração de alavancagem operacional.

Com o aumento da produtividade na safra 2023/24 teremos um aumento da utilização da capacidade, o que irá impulsionar reduções adicionais de custos. Portanto, estamos num cenário de redução dos custos de produção e de melhores margens econômicas.

AgriBrasilis – Por que as usinas brasileiras estão priorizando a produção de açúcar na safra 2023/24? Que questões prejudicaram a produção de etanol?

Haroldo Torres – As agroindústrias sucroenergéticas estão maximizando a produção de açúcar na safra 2023/24, fundamentalmente por uma questão de rentabilidade. A remuneração do açúcar frente ao etanol está sendo consideravelmente maior, levando as usinas a priorizar a produção dessa commodity.

O etanol sofreu alguns golpes de competitividade, primeiro com alterações tributárias ocorridas no mercado de combustíveis em 2022 e, recentemente, com o distanciamento dos preços praticados pela Petrobrás em comparação com os preços internacionais (PPI).

AgriBrasilis – O que levou aos recordes de área de moagem?

Haroldo Torres – A safra 2023/24 apresentou um avanço significativo da produção de cana-de-açúcar e, por conseguinte, da moagem. Isso advém de maior produtividade na safra em função de três fatores:

  • melhores condições climáticas, em especial maiores níveis de precipitação, impulsionando o desenvolvimento da cana;
  • melhores e maiores níveis de investimento no campo, com destaque para os tratos culturais;
  • maiores níveis de plantio em 2022, o que levou a uma parcela maior de cana planta colhida em 2023

AgriBrasilis – Como os preços do açúcar devem se comportar no Brasil e no mundo?

Haroldo Torres – Espera-se que os preços do açúcar se mantenham atrativos. De um lado temos a demanda por açúcar crescendo de forma estável, especialmente em países em desenvolvimento, enquanto do lado da oferta os preços da última década não atraíram novos investimentos para a indústria.

Também estamos observando um custo de produção adicional mais alto em outros países. Isso nos leva a uma melhora estrutural de preços e incentivo à produção adicional. Nesse cenário, o Brasil será ainda mais relevante no comércio mundial de açúcar durante os próximos anos.

 

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