Resíduos de mudas pré-brotadas de cana são transformados em cachaça para exportação

“Nos preocupamos desde a concepção do projeto com a sustentabilidade, e isso nos deu condições de conseguir certificações até então inéditas para a produção de cachaça.”

Laura Vicentini é gerente técnica e sócia na Spinagro e agrônoma pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”. Vicentini foi coordenadora de planejamento e controle agrícola na Usina Santa Fé e supervisora de desenvolvimento agronômico da Raízen.

Spinagro é uma empresa que produz mudas pré-brotadas de cana-de-açúcar e cachaça, utilizando os resíduos de toletes da cana para moagem e obtenção do caldo, além de outros métodos de economia circular e sustentável.

AgriBrasilis – O que são mudas pré-brotadas (MPBs) e quais são seus benefícios?

Laura Vicentini – Mudas pré brotadas são mudas provenientes da extração das gemas de cana de açúcar, de campo certificados. Elas promovem a multiplicação acelerada tanto de novas quanto antigas variedades de cana, de maneira segura quanto a sua genética e sanidade.

De maneira sucinta, as MPBs são uma forma eficaz, rápida e sadia de produzir determinadas variedades de cana num plantel varietal de um fornecedor ou usina.

AgriBrasilis – Que diferenças existem no manejo e plantio de MPBs ante o plantio convencional? 

Laura Vicentini – De certa foram, são semelhantes, porque ambos os plantios precisam de um bom preparo de solo, correção e nutrição para sua instalação, e temperatura alta e boa umidade para desenvolvimento das mudas.

As MPBs tem uma vantagem quanto ao crescimento pois já estão brotadas, com certa massa de raízes e folhas quando plantadas no campo. Assim, são diferentes dos colmos, usados no plantio convencional, que deverão gastar mais tempo e energia para brotarem suas gemas, emitirem raízes e folhas e, por fim se desenvolverem.

AgriBrasilis – As mudas são mais sensíveis ao ataque de pragas e aos fatores climáticos?

Laura Vicentini – As MPBs precisam de água em sua instalação/plantio para garantir o “pegamento” das mesmas na área. Uma vez que elas já vão com as estruturas citadas anteriormente bem desenvolvidas, a falta d´água poderia condená-las.

Quanto ao ataque de pragas, em qualquer plantio devemos ter cuidado suficiente para garantir que não haja ataque contra as mudas, sejam colmos ou MPBs, uma vez que esses causam impactos negativos no desenvolvimento e instalação do plantio.

AgriBrasilis – Qual é o diferencial da cachaça produzida pela Spinagro?

Laura Vicentini – Nos preocupamos desde a concepção do projeto com a sustentabilidade, e isso nos deu condições de conseguir certificações até então inéditas para cachaça.

Além da pegada verde em nossa cachaça, temos a preocupação com a produção de uma bebida altamente sensorial e totalmente aderente às exigências de qualidade de produção, o que nos deu visibilidade no mercado externo. Produzimos cachaça somente para exportação.

AgriBrasilis – Por que se considera a produção da Spinagro como pautada em “economia circular”?

Laura Vicentini – A economia circular baseia-se numa nova forma de desenhar, produzir e comercializar, garantindo o uso e a recuperação inteligente dos recursos naturais. Dessa maneira, estudamos toda nossa produção, e pensamos onde seria possível atuarmos de maneira benéfica na reutilização de produtos antes descartados, e na utilização consciente de recursos finitos.
Nossa cachaça utiliza resíduos da nossa produção de MPB, como o colmo cortado na extração da gema, e os matrizeiros que não darão origem a mudas. Todo resíduo gerado na produção de nossa cachaça é ciclado e volta como fertilizante para os campos de extração, que darão origem a novas gemas para produção de MPBs, ou colmos para moagem e obtenção da cachaça novamente.

Outros exemplos do uso consciente de recursos naturais é a utilização da água estocada das chuvas para lavagem dos equipamentos, e a ciclagem da água do resfriamos da cachaça, reduzindo a necessidade de água no processo.

 

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