“A sustentabilidade da pecuária uruguaia é sustentada por 400 anos de história…”
Conrado Ferber Artagaveytia é presidente do Instituto Nacional de Carnes do Uruguai – INAC, produtor agropecuário, ex-deputado e diretor da Duplex Comunicación.
AgriBrasilis – O que garante a sustentabilidade da carne uruguaia?
Conrado Ferber – A sustentabilidade da pecuária uruguaia é sustentada por 400 anos de história, o que se explica pelas condições naturais que o país apresenta, sem perturbação dos ecossistemas. A paisagem natural e as montanhas nativas compõem o bioma pampa, que possui o mais alto grau de conservação do Uruguai. A pecuária e o bioma coexistem em harmonia no país.
Em relação às emissões de gases de efeito estufa, estudos mostram que a pecuária no Uruguai tende a ser neutra em termos climáticos no caso da emissão de metano, principalmente devido à estabilidade no número de animais. Ou seja, a pecuária do Uruguai não contribui para o aquecimento global.
Além disso, a sustentabilidade da pecuária em nosso território é apoiada pelo monitoramento constante dos recursos naturais por parte do Governo. Tanto o monitoramento por satélite quanto as medições de impacto ambiental realizadas com base em metodologias validadas internacionalmente demonstram a sustentabilidade da produção uruguaia.
“A pecuária do Uruguai não contribui para o aquecimento global….”
AgriBrasilis – Segundo o INAC, o Uruguai é o único país que apresentou uma solução abrangente para os requisitos do Regulamento UE 2023/1115. Quais são essas demandas e qual foi a solução apresentada?
Conrado Ferber – A União Europeia vai exigir garantias para que as exportações e importações de carne bovina (entre outros produtos) não venham de propriedades onde ocorreu desmatamento.
No Uruguai, a solução baseia-se em sistemas públicos de informação: o registo fundiário (cadastro) e seu georreferenciamento, a obrigatoriedade de rastreabilidade individual do gado – do campo até o frigorífico – e o registo das florestas nativas.
Quando sabemos com certeza por quais propriedades cada animal passou, a autoridade florestal competente pode certificar que nenhuma dessas propriedades foi desmatada, verificação que é feita ao longo de toda a cadeia no caso da carne. Em suma, a solução que o Uruguai implementa baseia-se em bens públicos já existentes.
AgriBrasilis – O que diferencia a carne uruguaia da de outros países do Mercosul?
Conrado Ferber – A carne uruguaia é diferenciada em vários aspectos. Em primeiro lugar, o rebanho é predominantemente composto por raças de gado de corte e britânicas, que pastam em um ecossistema nativo. Isso traz um diferencial de qualidade para nossa carne.
Ao mesmo tempo, a pecuária uruguaia é apoiada por uma série de bens públicos, que permitem oferecer ao consumidor garantias de segurança, qualidade e de rastreabilidade ambiental. Então, essa combinação de um ambiente natural favorável à produção pecuária, uma história de 400 anos de produção, a genética adequada para uma produção de qualidade e uma série de bens públicos que dão garantias ao consumidor resumem o que diferencia a nossa carne.
AgriBrasilis – Quais são os prós e os contras do acordo UE-Mercosul para o setor de carne uruguaio?
Conrado Ferber – O acordo apresenta oportunidades comerciais relevantes. O ganho decorre da melhoria das condições tarifárias de acesso ao mercado europeu. É um mercado de alto volume e alto valor: é o continente com o maior número de famílias de rendimento médio-alto e alto. Além disso, é um bloco altamente protegido com taxas alfandegárias (tarifas).
O acordo permite a redução de tarifas para um volume muito limitado do produto: é criada uma cota de 99 mil toneladas para a carne bovina originária do Mercosul. Isso equivale a 1,6% do que é consumido anualmente no bloco. Isso permite ao Uruguai aumentar a sua comercialização em um mercado tão atraente.
AgriBrasilis – Por que alguns países e instituições europeias são contra mais importações de carne do Mercosul?
Conrado Ferber – Algumas instituições europeias opõem-se à importação de produtos agrícolas do Mercosul, argumentando que os países do bloco americano não cumprem as normas europeias. Essa crítica não é pertinente, dado que todos os produtos que entram na UE devem respeitar os exigentes padrões estabelecidos pelas autoridades europeias.
Outras organizações, particularmente as que representam os produtores agrícolas, manifestam preocupação com o aumento da oferta de carne que vai concorrer com a produção local. As autoridades europeias consideraram essas preocupações e por isso concederam uma quota de acesso muito limitada para a carne do Mercosul.
AgriBrasilis – Quais serão as quotas adicionais de exportação?
Conrado Ferber – O acordo cria cotas adicionais para carne bovina, suína e de aves.
No caso da carne bovina, o contingente é de 99 mil toneladas de peso carcaça. Desse volume, 55% é reservado para carnes resfriadas e 45% para carnes congeladas. As proporções em que essas cotas serão divididas entre os quatro países do Mercosul ainda não estão definidas. A tarifa intraquota é de 7,5%. O início dessas importações deve ocorrer de forma progressiva, em 5 etapas anuais, e a administração ficará a cargo dos próprios membros do Mercosul.
Adicionalmente, foi acordada a eliminação imediata da tarifa dentro da cota Hilton para os quatro membros do Mercosul, passando de 20% para 0%. Esta não é uma quota adicional, mas sim uma quota pré-existente, mas elimina a carga tarifária sobre esse fluxo comercial.
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