Gordura suína de laboratório mantém o animal vivo

“…existem mais de dois milhões de animais alojados, esperando por um abate que será desnecessário no futuro…”

Sérgio Pinto é fundador da Cellva, startup brasileira que desenvolve e produz gordura animal através do cultivo celular.

Pinto é graduado em marketing, com MBA pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e é ex-diretor de inovação da BRF.

Sérgio Pinto, fundador da Cellva


AgriBrasilis – Por que produzir gordura suína em laboratório?  

Sérgio Pinto – A demanda mundial por gordura não para de crescer. Existe, globalmente, um mercado de gorduras arcaico, porém gigantesco, de US$ 222 bilhões.

A gordura é um elemento fundamental em nossa nutrição, assim como as proteínas, aminoácidos, água e carboidratos. Porém, hoje o processo de produção de gordura animal é insuficiente, altamente impactante, e hostil ao meio ambiente.

A Cellva produz gordura em apenas 21 dias, sem abater um único animal. A gordura suína convencional demoraria quase 3 anos, incluindo o abate. Enquanto falamos, existem mais de dois milhões de animais alojados, esperando por um abate que será desnecessário no futuro.

AgriBrasilis – Como esse processo é realizado? A gordura de laboratório é mais barata?  

Sérgio Pinto – De uma simples biópsia, sem dano ao animal, selecionamos as células com melhor perfil para consumo. Nós alimentamos essas células com ingredientes naturais, em um ambiente de alto controle e tecnologia, gerando o mesmo produto que o processo convencional, só que de forma mais limpa e segura. Hoje, como toda nova empreitada, ainda somos mais caros, mas em 2027 já atingiremos paridade de custo.

AgriBrasilis – Quando o produto deve ser aprovado pela Anvisa?  

Sérgio Pinto – Estima-se que até 2024. Vale frisar a importância do mercado para o país, já que hoje o Brasil é o 2º maior produtor de alimentos e o 4º maior produtor mundial de gorduras, produzindo aproximadamente 5,5% de toda gordura que abastece o planeta.

AgriBrasilis – Quem é o potencial consumidor desse tipo de produto? 

Sérgio Pinto – Todo o mercado “consciente”, num primeiro momento, devido ao impacto positivo que geramos. A médio prazo, vislumbramos todo o mercado de gorduras: alimentos, higiene, beleza e produtos para pets, para citar alguns.

AgriBrasilis – Esse produto é considerado vegano?  

Sérgio Pinto – Não, já que ele contém DNA animal, mas as pesquisas demonstram que quando o consumidor é vegano por ideologia, e não por alguma restrição alimentar, ele é um potencial consumidor de nossa gordura.

AgriBrasilis – Essa gordura é igual à gordura “convencional”?  

Sérgio Pinto – Numa análise laboratorial ele é igual: mesma origem, perfil e estrutura. O foco de nosso produto, no entanto, é ser superior, com menos gorduras saturadas, que são “piores” para o ser humano.

AgriBrasilis – Quais as perspectivas da empresa e que parcerias estão sendo desenvolvidas?  

Sérgio Pinto – Liderar o acesso à ingredientes e alimentos de qualidade, através da biotecnologia. O Brasil possui o potencial de ser líder inconteste na área. Hoje, já temos parcerias com empresas, centros acadêmicos e aceleradoras no Brasil, Espanha e Alemanha, por exemplo.

 

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