Por que ainda se irriga tão pouco no Brasil?

“…combinando gotejamento e pivôs, os agricultores conseguem irrigar 100% da área, com expressivos ganhos operacionais…”

Ricardo Almeida é CEO da Netafim Brasil e Mercosul, formado em agronomia pela Universidade Federal de Pelotas, com MBA em marketing pela Escola Superior de Propaganda e Marketing e MBA em finanças pela Fundação Getúlio Vargas.

Ricardo Almeida, CEO da Netafim


AgriBrasilis – Por que se irriga tão pouco no Brasil? E no caso da irrigação de precisão, qual é a adoção pelos agricultores?

Ricardo Almeida – Por 30 anos, agricultores brasileiros precisaram priorizar investimentos em infraestrutura, armazenagem, logística e maquinário, que estabeleceram uma base para que pudessem profissionalizar suas operações. Nesse período a irrigação não era prioridade.

Hoje, com o básico estabelecido, com os altos preços das terras e com a necessidade do produtor se diferenciar para permanecer no mercado, a irrigação “casa” com o atual momento, em que é necessário verticalizar a produção, neutralizar os efeitos do clima e otimizar o uso de recursos, fornecendo às plantas exatamente o que precisam em momento e quantidade.

Outro fato relevante é a distribuição desigual das chuvas, fato cada vez mais evidente, assim como os fenômenos climáticos mais intensos, como o El Niño, que colocam em risco a produção agrícola.

AgriBrasilis – Qual é o potencial de crescimento da área irrigada no país?

Ricardo Almeida – Hoje, o Brasil conta com aproximadamente 8 milhões de hectares irrigados pelos mais diversos métodos. O que vemos é que, nos anos 2000, eram incorporados 100 mil novos hectares irrigados por ano, em 2022, esse número já chegou a 400 mil novos hectares. Seguindo a tendência, o Brasil tem potencial para irrigar 20 milhões de hectares nos próximos 20 anos.

“O Brasil e a Argentina se destacam, principalmente porque há um “oceano de oportunidades” de terras com alto potencial para irrigação”

AgriBrasilis – Quanto o mercado de irrigação do Mercosul movimenta anualmente? Que países mais se destacam e por quê?

Ricardo Almeida – A agricultura irrigada tem uma penetração muito forte na América Latina de forma geral, principalmente em países que sofrem com a escassez hídrica, como Chile e Peru, sendo esses os que possuem maior percentual de área irrigada.

O Brasil e a Argentina se destacam, principalmente porque há um “oceano de oportunidades” de terras com alto potencial para irrigação.

AgriBrasilis – Como a irrigação de precisão pode ser aplicada nas grandes culturas?

Ricardo Almeida – A irrigação localizada é uma tecnologia democrática. Temos soluções que atendem dos pequenos produtores, que nem sempre possuem energia elétrica, com um “Kit de Irrigação Familiar”, que funciona apenas com a gravidade, até os grandes produtores com propriedades com milhares de hectares.

Para as grandes culturas, em especial os cultivos de grãos e fibras, foi desenvolvida a técnica de gotejamento subterrâneo, que possibilita harmonização com os pivôs centrais (método historicamente mais adotado por esse grupo de produtores), dessa forma, combinando gotejamento e pivôs, os agricultores conseguem irrigar 100% da área, com expressivos ganhos operacionais, do plantio à colheita.

AgriBrasilis – O que são e como funcionam os projetos de “irrigação por assinatura”?

Ricardo Almeida – A modalidade de “irrigação por assinatura” é uma opção para produtores e empresas que precisam converter o CAPEX [capital expenditure, ou “despesas de capital”] em OPEX [operational expenditure, ou “despesas operacionais”], de forma que não seja necessário adquirir um sistema de irrigação para ter acesso a todos os benefícios gerados por eles.

Nesse modelo, a Netafim projeta, instala, opera e mantém o sistema de irrigação da propriedade através de uma assinatura, sem necessidade de grandes investimentos iniciais.

Agribrasilis – Qual é o faturamento da Netafim?

Ricardo Almeida – Desde 2018, 80% da operação global da Netafim foi adquirida pela Orbia, holding mexicana que atua em diversos segmentos, de soluções em polímeros à construção. Em 2022, o faturamento do grupo Orbia esteve na ordem de US$ 9,6 bilhões, sendo que a Netafim representa 11% a nível global.

AgriBrasilis – Nos últimos dois anos, o Brasil se tornou o principal mercado para a Netafim. O que motiva esse desempenho? Que investimentos são planejados?

Ricardo Almeida – O Brasil por si só já é um país com condições mais do que propícias à irrigação, com disponibilidade hídrica, clima favorável e terras agricultáveis. Além disso, é um dos países que têm respondido muito positivamente aos estímulos por uma agricultura cada vez mais rentável e sustentável, números que refletiram nos últimos 20 anos em aumento de 4 vezes no número de novos hectares irrigados, de 100 mil ao ano para 400 mil ao ano.

Com base na demanda e na resposta do mercado, tivemos a possibilidade de mais do que duplicar nosso tamanho de 2020 para cá, e como próximos passos temos um investimento na ordem de R$ 30 milhões apenas para o mercado de irrigação para grãos e fibras pelos próximos 30 meses.

Além disso, contamos com um adicional de R$ 10 milhões para otimizar as operações em varejo, visando ampliar nossa capacidade produtiva e logística, a rede de parceiros e o acesso das soluções em irrigação no Brasil.

 

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