Dose certa no local correto: gestão “por metro quadrado” da lavoura

“O solo é a principal variável explicativa da produtividade agrícola. Conhecê-lo é fundamental para uma agricultura moderna e de baixo carbono…”

Henrique Junqueira Franco é sócio e diretor técnico da Cropman – Inteligência em Diagnósticos de Solos, engenheiro agrônomo pela Universidade Estadual Paulista, e doutor em solos pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz.

Henrique Junqueira Franco é sócio e diretor técnico da Cropman

Henrique Junqueira, sócio e diretor técnico da Cropman


AgriBrasilis – Por que é necessário mapear o solo? 

Henrique Junqueira – O solo é a principal variável explicativa da produtividade agrícola. Conhecê-lo é fundamental para uma agricultura moderna e de baixo carbono. As tecnologias até então disponíveis, como a amostragem em grid, sensoriamento remoto e análise de produtividade, eram incapazes de entregar a precisão necessária a uma série de manejos localizados. O resultado é que, com pouca informação sobre os diferentes solos do talhão e suas transições, os produtores enfrentam uma ineficiência no uso dos insumos, com superdoses e subdoses, que vão impactar a produtividade obtida, de forma a não alcançar a produtividade potencial de cada parcela do talhão.

AgriBrasilis – Qual é o nível de precisão das práticas de diagnóstico de solos?

Henrique Junqueira – A agricultura de precisão em grid, utilizada em diagnósticos de solo, será mais precisa quanto menor for a distância (grid) entre pontos de coleta de solo, mas essa distância impacta diretamente no custo desse diagnóstico. Por outro lado, ao se agregar ferramentas digitais – como o “big data”, a computação em nuvem e algoritmos de inteligência artificial – às metodologias tradicionais, conseguimos entregar alta precisão nesses diagnósticos, a um custo competitivo, e com altíssimo retorno: de 5x a 10x o investimento.

Hoje é possível que o agricultor tenha um conhecimento profundo dos solos de sua propriedade. Partindo desses diagnósticos, ele pode tomar decisões mais precisas sobre o manejo.

“Muitas vezes o agricultor não conhece as tecnologias, ou não deseja utilizá-las, por enxergar nelas um custo, e não um investimento”

AgriBrasilis – Em quanto a adoção da agricultura de precisão pode reduzir o uso fertilizantes e corretivos?

Henrique Junqueira – Em geral, observamos economias da ordem de 30%, o que é muito significativo, considerado a participação desses insumos na estrutura de custos do produtor. Essa economia pode ser obtida sem qualquer redução de produtividade, uma vez que é baseada em diagnósticos de alta precisão, que asseguram a dose certa no local correto.

AgriBrasilis – É possível alcançar uma gestão “por metro quadrado” da lavoura?

Henrique Junqueira – A gestão por metro quadrado da lavoura já é uma realidade, através das tecnologias disponíveis ao produtor. Diagnósticos de solo obtidos com ferramental digital trabalham mais de 10 mil pontos de dados por hectare, comparados aos 0,33 dados da agricultura de precisão em grid, se utilizada uma coleta de 1 ponto para cada 3 ha. Portanto, é justo dizer que a Agricultura Digital permite a gestão por metro quadrado.

AgriBrasilis – Qual é o investimento necessário para realizar o diagnóstico de solos? 

Henrique Junqueira – Na agricultura de precisão em grid, os preços variam muito, dependendo do espaçamento entre pontos de coleta e das análises que serão feitas. Digamos que um bom diagnóstico, adensado e completo irá custar uns R$ 90 a R$ 120 por hectare. Esse tipo de diagnóstico não será capaz de habilitar uma série de manejos localizados, e terá que ser repetido sempre que se quiser atualizar a análise de fertilidade.

Os nossos diagnósticos de solo com todo o ferramental Digital custam cerca de R$ 150 por hectare, porém são completos, precisos e habilitam vários manejos localizados que a agricultura em grid não entrega, sendo superiores aos diagnósticos de solo tradicional. Além disso, uma vez identificada a variabilidade espacial do solo através da nossa tecnologia, será necessário apenas atualizar a fertilidade do solo no decorrer dos anos em cada zona de solo (“zonas de manejo”), a um custo hoje de R$ 40 reais por hectare, bem inferior ao praticado na agricultura de precisão em grid.

AgriBrasilis – Por que a maioria dos produtores ainda aplica insumos a taxa fixa por talhão? A adoção das práticas de agricultura de precisão deve acelerar nos próximos anos? 

Henrique Junqueira – São múltiplos fatores, que vão desde o conservadorismo ao excesso de novas tecnologias que prometeram muito e entregaram pouco. É necessário um processo de popularização, o que leva tempo. Mas vários fatores nos mostram que deveremos ter uma aceleração na adoção da agricultura de precisão, começando pela transição geracional que já está em curso, com agricultores mais familiarizados ao fator digital. Também existe a necessidade de produzir mais com menos, tanto do ponto de vista ambiental quanto, principalmente, financeiro, assegurando margens operacionais mais sustentáveis.

AgriBrasilis – Só a avaliação do solo não basta para realizar agricultura de precisão. Que outras práticas e tecnologias devem ser adotadas?

Henrique Junqueira – É preciso passar do diagnóstico à execução. Hoje, o maquinário já dispõe de tecnologias para executar, e a adoção dessas máquinas e tecnologias será cada vez mais necessária para se obter a desejada gestão por metro quadrado, com dose certa no local correto. Muitas vezes o agricultor não conhece as tecnologias, ou não deseja utilizá-las, por enxergar nelas um custo, e não um investimento.

 

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