Retomada das exportações de lã no Uruguai

Publicado em: 28 de julho de 2021

A ovinicultura é tradicional no Uruguai, e seus produtos são voltados para exportação.

 

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Após quedas na exportação de lã em 2020, por conta da pandemia, nos primeiros quatro meses de 2021 as exportações de lã suja, lavada e penteada totalizaram receitas de U$S 48,3 milhões.

Atualmente a lã é um produto premium no mercado, mais caro que as fibras sintéticas, e tem se destacado por ser um produto natural e biodegradável.

A AgriBrasilis convidou Ignacio Abella, engenheiro Agrônomo, com mestrado na Universidade de New England, Austrália e parte da Área de Investigação e Desenvolvimento da SUL- Secretariado Uruguaio de Lã, para falar sobre a produção de lã no Uruguai.


AgriBrasilis – Como é feito o manejo da criação de ovelhas?

Ignacio Abella – Embora existam ovinos em todo o Uruguai, eles fazem parte principalmente dos sistemas pecuários junto a gado de raças produtoras de carne e com uma base forrageira formada por pastagens naturais. Por conta da consequência de competição por terras com outras culturas, estão localizados em sistemas que podem ser definidos como extensivos, com solos mais superficiais. É uma área muito relevante na esfera social: são mais de 10 mil produtores com rebanhos para fins comerciais, envolvendo aproximadamente 46 mil pessoas na fase primária da cadeia produtiva

 AgriBrasilis – Pode-se integrar a produção de lã com a produção de carne e leite?

Ignacio Abella – A maior parte dos rebanhos produz lã e carne. Historicamente a lã foi o principal produto de exportação e ao longo dos anos a carne ovina tem se valorizado e hoje contribui de forma relevante para a receita do setor. As raças mais criadas são denominadas “laneras” ou de duplo propósito, pois geram renda com lã e carne (de cordeiros pesados, ovelhas ou animais adultos). Como consequência disso, o Uruguai é produtor de lã de boa qualidade, mícrons médios e finos, seja para vestuário ou tecidos de interior. Ao mesmo tempo, consolidou-se a produção de lã com menos de 20 mícrons. Há uma fazenda leiteira em pastagens irrigadas que faz queijos de alta qualidade com leite de ovelha, mas esse é um exemplo específico.

 AgriBrasilis – Qual é o equilíbrio entre a tradição e as novas tecnologias? 

Ignacio Abella – O setor ovino alia uma tradição secular de criação (incorporada por imigrantes, principalmente de origem europeia) com a incorporação de novas tecnologias. Os exemplos disso são variados. Para a escolha dos criadores, pode-se utilizar a estimativa de mérito genético com base em medidas objetivas, que se soma à seleção tradicional baseada em aspectos subjetivos 

Dependendo dos objetivos de cada produtor, você pode encontrar os que melhor respondem às demandas.  No site “Ovinos Genética” são apresentadas avaliações genéticas que as diferentes raças possuem e os quais os principais rebanhos envolvidos. Paralelamente a apresentação da lã foi melhorada com a adoção da tosquia Tally Hi, a aplicação das regras de condicionamento. Ao mesmo tempo, o uso de medidas objetivas generalizou-se nos lotes de lã: elas são oferecidas com informações básicas sobre o diâmetro médio das fibras e o desempenho na lavagem.

Lote de lã acondicionada em fardos

AgriBrasilis – Quão grande é o mercado de lã? 

Ignacio Abella – Atualmente a lã é um produto “premium” que se destaca em um nicho do mercado têxtil mundial, dominado por fibras sintéticas de menor custo. Neste cenário, o desafio é buscar alcançar preços atrativos e rentáveis para os produtores envolvidos. Isto seria consequência de uma tendência nos principais países consumidores e com alto poder aquisitivo, que valorizam mais o natural e renovável, priorizando a compra de produtos a base de lã, por exemplo.

 AgriBrasilis – Quais são as diferenças de venda entre a lã suja, lavada e penteada?

Ignacio Abella – O processo têxtil possui diversas etapas para processar a lã de ovelha até chegar no produto final comprado pelo consumidor. No Uruguai ocorre a produção de lã e etapas primárias do processo, completado em outras regiões (Ásia e Europa). Desta forma, a lã é exportada de diversas maneiras: penteada, lavada ou em estado natural. As maiores empresas formam um polo industrial mundial que além da lã local, processam e importam de outras origens (do Brasil, por exemplo).

AgriBrasilis – Quais são as vantagens para o produtor?

Ignacio Abella – A existência de diferentes operadores comerciais permite ao produtor uruguaio contar com diversas alternativas de comercialização, ampliando a demanda por seu lote de lã. Entretanto, para alcançar melhores preços a lã deve ser de boa qualidade, bem apresentada e contar com análises de laboratório. Nos últimos anos, têm-se somado certificações nesse setor, como RWS ou GOTS que permitem atender os mercados exigentes

 AgriBrasilis – Quais são os principais mercados?

Ignacio Abella – Tanto da lã quanto da carne, os mercados exteriores são os mais relevantes, já que o consumo interno é baixo (apesar do relevante trabalho de designers e artesãos de lã e o consumo de carne ovina). Nos últimos cinco anos ingressaram aproximadamente US$ 268 milhões através de exportações. Em termos de volume físico, em 2020 o Uruguai exportou um total de 19 milhões de quilos de lã equivalente a: 54% exportada penteada, 24% lavada e o restante, 22% suja. Foram mais de 30 destinos, sendo China, Alemanha, Itália, Turquia, Bulgária e Índia os mais relevantes. No caso da carne ovina, foram exportadas 15,8 mil toneladas: os mercados mais importantes foram China, Brasil e a União Europeia. Embora o Uruguai tenha o status “livre de febre aftosa com vacinação”, é necessário um comprovante de saúde para acessar certos mercados de carne com osso (Estados Unidos, por exemplo).

Se exporta lã a mais de 30 destinos, dentre eles China, Alemanha e Itália são os mais relevantes

AgriBrasilis – A pandemia e outros fatores têm afetado a cadeia de produção?

Ignacio Abella – A pandemia mundial do COVID 19 impactou fortemente o setor: em uma apresentação dos mercados de lã, na conferência de IWTO, a menção foi de que a magnitude foi semelhante à falência da Australian Wool Corporation e o desaparecimento do sistema de preços de suporte. Em 2021, ocorreu uma recuperação dos preços das lãs finas, alcançando valores iguais aos da pré-pandemia. Em lãs médias e mais grossas, vários produtores ainda têm seu lote em galpões esperando melhores preços. No caso da carne ovina, os preços se mantiveram em bons valores, como consequência de uma crescente demanda da China.