“A redução da pressão fiscal, dentre outras medidas, deve incentivar a produção…”
Rodolfo Luis Rossi é o presidente da Associação da Cadeia de Soja Argentina – ACSOJA, e engenheiro agrônomo pela Faculdade de Agronomia da Universidade de Buenos Aires.
AgriBrasilis – Quais são as expectativas do senhor em relação ao novo governo da Argentina?
Rodolfo Rossi – A maioria de nós, cidadãos, esperávamos por uma mudança que revertesse a má situação econômica, algo que os líderes das últimas décadas não conseguiram realizar. O novo presidente vem de fora da política e com mensagens e promessas que cativaram os eleitores. Hoje temos grandes expectativas de que serão tomadas as medidas corretas para evitar déficit fiscal e estabilizar a macroeconomia, eliminando impostos distorcidos e intervenções de mercado no nosso setor.
AgriBrasilis – Dever haver um cronograma para reduzir as retenciones (impostos sobre a exportação) no país?
Rodolfo Rossi – Acreditamos que esses impostos podem ser gradualmente eliminados, levando a um maior investimento e aplicação de tecnologia, gerando maior produção e exportações no setor agrícola, que é o mais dinâmico e ágil do país.
O governo atual prometeu encerrar o mandato com zero retenciones nas principais culturas, como no caso da soja.
AgriBrasilis – Por que é necessário atualizar a Lei de Sementes na Argentina? A lei de 1970 impediu a entrada de empresas no setor?
Rodolfo Rossi – Hoje temos os menores investimentos em melhoramento genético na maioria das culturas autógamas, hortaliças e árvores frutíferas. Precisamos reverter esta situação, com uma mudança na legislação e com o compromisso do setor em respeitar a propriedade intelectual.
“O governo atual prometeu encerrar o mandato com zero ‘retenciones’ nas principais culturas, como no caso da soja.”
AgriBrasilis – O não pagamento de royalties não é benéfico para os agricultores?
Rodolfo Rossi – É necessário recompensar adequadamente os investimentos nessa área. O pagamento de royalties sobre a semente é fundamental para incentivar o setor e permitirá aumentar os investimentos no melhoramento genético e na biotecnologia, o que acaba por permitir obter maiores ganhos genéticos e possibilitar mais opções de produtos de qualidade. O principal beneficiário é o produtor, por ter melhores sementes e mais opções para aumentar os seus rendimentos.
AgriBrasilis – Diante das últimas falhas nas colheitas de soja e do aumento das retenciones, como o senhor vê o futuro da cultura no país?
Rodolfo Rossi – Tivemos vários anos com problemas climáticos, que baixaram os rendimentos médios, e uma proporção de área maior de soja de segunda safra em relação ao trigo, que tem menor potencial de rendimento. Os altos impostos de exportação (retenciones), que há mais de 20 anos incidem sobre a soja, geraram recentemente queda na área de plantio e produção e maior capacidade ociosa na indústria.
A utilização de tecnologias caiu, porque o produtor administra suas margens reduzindo os custos dos insumos que não forem essenciais. Quase tudo tem a ver com a pressão fiscal no país. A redução ou eliminação das retenciones permitirá um crescimento seguro da produção, atingindo em poucos anos os 65 – 70 milhões de toneladas que aspiramos.
AgriBrasilis – Quais são as demandas do setor da soja?
Rodolfo Rossi – As principais são a redução da pressão tributária, o fim das retenciones, a melhoria da infraestrutura de transporte e acesso aos portos e hidrovias navegáveis, uma nova legislação sobre propriedade intelectual no setor de sementes, uma nova política sobre biocombustíveis, maior discussão internacional sobre as medidas restritivas de importação e as medidas macroeconômicas necessárias para o setor, como a taxa de câmbio única.
AgriBrasilis – O senhor disse que, assim como no caso do Brasil, a Argentina pode multiplicar a produção de soja. Como isso pode ser feito?
Rodolfo Rossi – A redução da pressão fiscal, dentre outras medidas, deve incentivar a produção, com maior área plantada para todas as culturas, e principalmente maiores produtividades. Sabemos que o Brasil tem um teto maior em termos de superfície potencial, mas a Argentina certamente conseguirá crescer, oferecendo ao mundo farinha, óleo, biodiesel e produtos de maior valor agregado, derivados da soja.
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