Com exportações suspensas, Argentina busca impedir avanço da gripe aviária

“…após a perda temporária do status de livre da gripe aviária, nós trabalhamos para retomar a comercialização dos produtos avícolas com 55 países compradores, dentre os quais se destacam China, África do Sul e Chile.”

Rodolfo Acerbi é vice-presidente do Serviço Nacional de Saúde e Qualidade Agroalimentar – Senasa, veterinário formado pela Universidade Nacional de La Plata, e mestre em Relações Internacionais pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais.

O Senasa criou um plano de atuação contra a gripe aviária, visando aumentar o controle sanitário nas fronteiras e no territorio argentino. Para isso, foram realizados investimentos de aproximadamente US$ 4,88 milhões.

Rodolfo Acerbi, vice-presidente do Senasa


AgriBrasilis – Qual é o papel do Senasa? Poderia comentar sobre o problema da falta de pessoal?

Rodolfo Acerbi – O Senasa deve preservar as condições sanitárias nacionais, prevenir a entrada de doenças na Argentina e garantir o status do país como zona livre para determinadas doenças, preservando o bem-estar animal e a saúde da população. Trabalhamos junto ao o setor privado, câmaras e produtores.

Na produção vegetal, atuamos para proteger nossa produção contra as principais pragas, como os gafanhotos, a mosca da fruta (Ceratis capitata), e a traça das videiras (Lobesia botrana), preservando as áreas livres dessas pragas e garantindo as condições que permitem a exportação agrícola.

Sobre a produção animal, anualmente é realizada campanha de vacinação contra a febre aftosa, por exemplo, que nos permite manter a nossa condição de região livre da doença.

Em relação à gripe aviária, após a detecção do primeiro caso, no norte do país, foi ordenada a implementação de um Plano de Prevenção e Controle por meio do qual o Senasa reforçou o controle sanitário nas passagens de fronteira e no resto do território.

Sobre o problema da falta de pessoal, o Governo Nacional acaba de realizar um investimento de cerca de US$ 4,88 milhões para reforçar o Senasa com a incorporação de pessoal, insumos laboratoriais, logística, equipamentos e infraestrutura para postos de fronteira.

AgriBrasilis – Que negociações em saúde estão em andamento para a abertura dos mercados internacionais? Que mercados foram conquistados em 2022?

Rodolfo Acerbi – Em 2022, a Argentina completou a abertura de 69 novos mercados, em 20 países, para a exportação de produtos agroalimentares. Destaque para a carne bovina, cuja exportação foi autorizada para o México e a Sérvia; o pistache para o Brasil; as vacinas contra a febre aftosa para a Indonésia; além da genética bovina para o Uzbequistão.

Atualmente, após a perda temporária do status de país livre da gripe aviária, nós trabalhamos para retomar a comercialização dos produtos avícolas com 55 países compradores, dentre os quais se destacam China, África do Sul e Chile.

AgriBrasilis – Que medidas foram tomadas para lidar com a gripe aviária? Quantos casos foram confirmados até agora e em quais regiões?

Rodolfo Acerbi – O Senasa declarou emergência sanitária, por meio da Resolução nº 147/23. As áreas com focos de aves silvestres, domésticas e de capoeiras estão sendo observadas ativamente para identificar animais doentes e evitar a propagação da doença.

O controle e as ações de vigilância epidemiológica foram reforçados em todos os postos que fazem fronteira com Chile, Bolívia e Uruguai. Está sendo realizada a desinfecção de veículos e controle de passageiros. Foram mobilizados agentes especializados em aves e gestão de emergências de outros órgãos ou centros regionais do Senasa, que estão sendo enviados para as unidades localizadas nas fronteiras.

Estão sendo realizadas campanhas de conscientização para notificação precoce; treinamentos sobre biossegurança em fazendas comerciais; e articulação com outras entidades públicas na vigilância e controle da circulação de aves, seus produtos e subprodutos.

Quando existe a suspeita de um novo caso, são realizadas vistorias nas instalações e condições das áreas ou estabelecimentos onde os animais foram encontrados. Nessas ocasiões, é realizada a delimitação de um perímetro ao redor do local do foco para vasculhar e verificar aves mortas ou com sintomas. São consultados vizinhos e proprietários dos estabelecimentos e as autoridades ambientais das províncias. São estabelecidos postos de controle para impedir a entrada e saída de animais doentes ou de pessoas os tenham manuseado recentemente.

Dentre 300 notificações analisadas pelo Senasa, 60 casos foram confirmados: em aves de quintal (49), silvestres (4) e comerciais (7), distribuídos da seguinte forma: 18 em Córdoba, 15 em Buenos Aires, 7 em Neuquén, 7 em Santa Fe, 4 em Río Negro, 2 em San Luis, 2 em Chaco, 1 em Jujuy, 1 em Santiago del Estero, 1 em Salta, e 1 em La Pampa.

AgriBrasilis – Qual é a avaliação do Senasa sobre a suspensão das importações de produtos avícolas imposta pelo Japão?

Rodolfo Acerbi – O Senasa conseguiu que o Japão permitisse novamente a entrada de ovos secos da Argentina, retomando parcialmente as exportações de produtos avícolas para o país.

Foi realizada uma reunião com representantes da embaixada do Japão na Argentina, em que foi solicitada a revisão da suspensão unilateral que o país adotou após saber dos casos de gripe aviária.

 

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