“O mercado de bioinsumos na Argentina apresenta crescimento sustentado e forte potencial regional…”
Federico Elorza é especialista na implementação de Boas Práticas no uso de produtos fitossanitários, coordenador técnico da Câmara de Sanidade Agropecuária e de Fertilizantes – Casafe.
Elorza é engenheiro agrônomo com pós-graduação em agronegócios pela Universidade de Buenos Aires.

Federico Elorza, coordenador técnico da Casafe
AgriBrasilis – Quais são as perspectivas para o mercado de bioinsumos na Argentina?
Federico Elorza – O mercado de bioinsumos na Argentina apresenta crescimento sustentado e forte potencial regional. Em 2024, esse mercado atingiu aproximadamente US$ 124,2 milhões, com crescimento anual de 10,9%, impulsionado pela demanda por tecnologias que permitam fornecimento natural de nutrientes, e por produtos que melhorem a eficiência fisiológica e proporcionem tolerância ao estresse abiótico.
Na Argentina, os insumos biológicos representam 3,8% do mercado total de fitossanitários, e quase 50% da área plantada já incorpora essas tecnologias em alguma etapa do ciclo de produção.
Agribrasilis – Quais produtos são mais utilizados e para quais culturas?
Federico Elorza – Produtos para tratamento de sementes, especialmente inoculantes para soja, dominam o mercado com 51,2% de participação.
Os bioestimulantes seguem com 26%, enquanto os biofertilizantes representam 10,1%. Embora o uso de produtos de biocontrole seja incipiente em nosso país, representando apenas 4,1% do mercado de bioinsumos, os bioinseticidas são os produtos que mais cresceram em 2024, a uma taxa de 109%, especialmente aqueles à base de microrganismos. Em seguida, vêm os biofertilizantes, com um crescimento de 68,9% em 2024.
No caso de culturas extensivas, estima-se que uma parcela significativa da área plantada seja tratada com bioinsumos. Também observou-se avanços em culturas intensivas e economias regionais, onde bioestimulantes e biofungicidas têm se mostrado altamente eficazes.
AgriBrasilis – Quais são os obstáculos para a adoção generalizada desses produtos?
Federico Elorza – Apesar do crescimento sustentado do mercado, a ampla adoção de bioinsumos no país ainda enfrenta alguns desafios. Isso inclui a falta de conhecimento técnico em toda a cadeia de valor, a necessidade de maior treinamento para produtores, consultores e aplicadores de insumos, além de uma estrutura regulatória que ainda está em evolução.
Soma-se a isso dificuldades ligadas à instabilidade de algumas formulações e à percepção errônea de baixa eficácia. Superar essas barreiras é essencial para consolidar os bioinsumos como ferramentas eficientes e complementares dentro de uma agricultura cada vez mais sustentável e competitiva.
“A regulamentação de bioinsumos na Argentina ainda está em processo de harmonização e requer a implementação de marcos regulatórios modernos…”
AgriBrasilis – Qual é o panorama regulatório dos bioinsumos na Argentina?
Federico Elorza – A regulamentação de bioinsumos na Argentina ainda está em processo de harmonização e requer a implementação de marcos regulatórios modernos que consolidem seu uso a longo prazo.
A ampliação dessas tecnologias exige a promoção de políticas públicas ativas e a construção de alianças estratégicas entre os setores público e privado.
AgriBrasilis – Como a Resolução Senasa 458/2025 deve impactar o setor?
Federico Elorza – A Resolução 458/2025 moderniza e agiliza o sistema regulatório de produtos fitossanitários, incluindo os bioinsumos. Seu foco é a simplificação dos processos regulatórios, incorporando a digitalização completa dos procedimentos como uma ferramenta importante para fortalecer a previsibilidade e eficiência.
Soma-se a isso o reconhecimento dos registros e avaliações realizados em países com convergência regulatória, medida fundamental que reduzirá drasticamente os tempos de aprovação, facilitará a chegada oportuna de novas tecnologias ao mercado e que deve melhorar a competitividade do setor agropecuário argentino.
Essa regulamentação também fortalece a capacidade operacional do Serviço Nacional de Sanidade e Qualidade Agroalimentar – Senasa. Ao otimizar os processos de rotina, a agência poderá redirecionar seus recursos e esforços para a avaliação e supervisão de tecnologias emergentes, mantendo os padrões de segurança, em conformidade com as normas internacionais. A chegada de bioinsumos e outras inovações contribuirá diretamente para práticas agrícolas mais sustentáveis.
Espera-se que essa medida aumente significativamente a produtividade e a sustentabilidade da agricultura argentina.
AgriBrasilis – Como a Casafe promove os bioinsumos e as boas práticas de aplicação?
Federico Elorza – A Casafe desempenha papel central como coordenadora técnica, promotora de inovação e geradora de conhecimento sobre bioinsumos.
Entre suas principais atividades está a organização do Congresso Casafe – Edição Biológica, que reuniu líderes e especialistas globais para discutir os avanços do setor. Além disso, a Casafe capacita anualmente mais de 60 mil pessoas no uso responsável de produtos fitossanitários, incluindo produtos biológicos, fortalecendo a implementação de boas práticas no campo.
A Casafe também trabalha com organizações como Senasa, INTA e diversas universidades para promover pesquisa e treinamento técnico.
Mais de 80% das empresas associadas da Casafe investem ativamente no desenvolvimento de insumos biológicos, reafirmando o compromisso do setor com a sustentabilidade, a inovação e a proteção ambiental.
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