Pulverização eletrostática reduz necessidade de defensivos

“A biodisponibilidade das gotas produzidas pelo bico eletrostático é 125 vezes maior.”

Aldemir Chaim, pesquisador na Embrapa Meio Ambiente.

Aldemir Chaim é pesquisador na Embrapa Meio Ambiente, em Jaguariúna, São Paulo. Chaim é agrônomo e mestre em produção vegetal pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho.


Os alvos das aplicações de defensivos são geralmente as superfícies de plantas, que apresentam uma área muito grande. Um hectare de soja no estádio de florescimento pode apresentar área foliar entre 40 mil e 60 mil m2 de folhas, considerando apenas uma face foliar.

Vários fatores afetam a eficiência das aplicações: condições meteorológicas, volume de aplicação, tipo de equipamento, características morfológicas da cultura, bico de pulverização, etc.

Geralmente na recomendação de defensivos, as doses são de alguns gramas ou ml de formulação por hectare. Dessa forma, a dose recomendada é diluída em determinado volume de água para que o produto seja uniformemente distribuído na área foliar da cultura.

Para conseguir distribuição uniforme, o líquido precisa ser transformado em gotículas, que devem ser dispersas pela superfície da cultura, para garantir que o problema fitossanitário seja controlado com a dose mais adequada. Infelizmente, a eficiência desse processo com os métodos convencionais é muito baixa.

Em 1896 já eram descritas três categorias de bicos utilizados na agricultura:

1) com orifícios elípticos ou retangulares, que emitiam jatos em forma de leque;

2) com obstruções postas imediatamente à frente do orifício de saída do líquido, que também produziam jatos em forma de leque (bicos de impacto);

3) bicos que promoviam rotação do líquido imediatamente antes de sua emergência pelo orifício de saída, produzindo um jato formato cônico e vazio no interior do cone.

Esses bicos são até hoje os mais utilizados na aplicação de defensivos. Eles conseguem arremessar gotas em distancias curtas, entre 20 a 60 cm. Para que gotas atinjam distâncias maiores, é necessário usar ventiladores ou aumentar a pressão de trabalho.

Várias pesquisas demostraram que gotas pequenas proporcionam melhores resultados no manejo fitossanitário. Porém, gotículas com pequenas massas possuem pouca energia cinética e sofrem efeito da deriva, com baixa captura pelos alvos.

A maior eficiência de utilização de gotas pequenas somente ocorre em condições especiais. Para garantir eficiência em suas pulverizações, agricultores utilizam bicos que produzem gotas grandes (maior do que 200 mm).

Para que gotas pequenas sejam coletadas pelo alvo, livres da deriva, é necessário acrescentar forças às mesmas. Forças elétricas podem ser introduzidas para controlar seus movimentos, inclusive contra a gravidade. Por exemplo, gotas com carga eletrostática apresentam a habilidade de se depositarem na página abaxial (inferior) das folhas durante pulverizações.

Gotas de uma nuvem eletrificada próxima a um corpo aterrado irão se movimentar seguindo linhas de fluxo. Devido à natureza curvilínea dessas linhas, as gotas projetadas por um bico poderão atingir todos os lados do alvo.

Além disso, gotas de uma nuvem eletrificada têm mesma polaridade e se repelem, melhorando a uniformidade da deposição no alvo.

Bico Pneumático Eletrostático

A Embrapa Meio Ambiente patenteou um bico pneumático eletrostático que trabalha com tensões de indução muito baixas, em torno de 1.500 volts, com carga de nove Microcoulomb por grama de líquido pulverizado.

Cada Microcoulomb de carga causa incremento de 10% na deposição de gotas. Gotas produzidas pelo dispositivo apresentam tamanho entre 20 e 50 mm.  Se o bico pneumático estiver produzindo gotas de 30 mm, em cada mililitro serão produzidas 70.735.365 gotas.

No caso de um bico hidráulico, que produz gotas relativamente finas, seriam produzidas somente 565.883 gotas por mililitro, por exemplo. A biodisponibilidade das gotas produzidas pelo bico eletrostático é 125 vezes maior.

Pulverizações eletrostáticas hidráulicas ou pneumáticas aumentam a eficiência das deposições entre 20 e 90% em relação às pulverizações convencionais, dependendo das características da cultura em que é realizada a aplicação.

Novas tecnologias

A Embrapa Meio Ambiente e a empresa Socer estão desenvolvendo um antievaporante de gotas. Faz muita falta no mercado um produto que faça com que uma gota de 80 mm perca apenas 20 a 30% do seu volume durante a trajetória entre o bico de pulverização e o alvo de aplicação. Certamente será extremamente benéfico para uso de drones em pulverização, permitindo drástica redução no volume de aplicação.

Além disso, a Embrapa Meio Ambiente está desenvolvendo um sistema de calibração de deposição de calda de pulverização. O equipamento, muito barato, analisa o grau de cobertura de deposição de defensivos nas plantas.

Por fim, dispomos de muitas novidades com relação aos bicos eletrostáticos. Uma delas é a pulverização simultânea de até seis produtos sem mistura de tanque, armazenados separadamente na máquina, com potencial de uso agrícola e industrial.

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