ESG na cadeia de produção de carne

Taciano Custodio ESG Minerva

“Reconhecemos a agropecuária como um motor de desenvolvimento social”

Taciano Custódio é Graduado em Biologia pela Universidade Federal de Goiás, é Diretor Global de Sustentabilidade na Minerva Foods. Custódio atua há 14 anos em gestão sustentável, trabalhando na gestão da cadeia de abastecimento para ajudar a desvincular o agronegócio da perda de biodiversidade e mudanças climáticas.

AgriBrasilis – Qual a atuação da Minerva na cadeia de produção de carnes?

Taciano Custódio – A Minerva é uma indústria multinacional de processamento de carnes com 29 anos de existência, fundada em Barretos, São Paulo. Somos a maior exportadora de carne bovina na principal e mais competitiva plataforma de produção de carne bovina no mundo, que é a América do Sul.

Estamos em 6 países: 5 na América do Sul (Argentina, Brasil, Colômbia, Paraguai e Uruguai) e recentemente iniciamos operação de ovinos e cordeiros na Austrália.

Representamos mais de 15 mil produtores rurais, guiando melhores práticas de produção, tecnologia e sustentabilidade na ocupação do território, para gerar desenvolvimento local e rentabilidade com acesso a mercados de maior valor agregado mundo afora.

Somos voltados para a produção segura e com alta qualidade, e alta conformidade nas questões de sustentabilidade, que é um dos nossos valores organizacionais e corporativos.

AgriBrasilis – Qual é a importância do ESG para o agropecuário?

Taciano Custódio – O termo materializa e delimita a sustentabilidade.

ESG [do inglês Environmental, Social and corporate Governance] é uma sigla recente, que ganhou destaque no mercado financeiro como uma maneira de concretizar a sustentabilidade, significa preocupações e responsabilidades ambientais sociais e de governança. A abordagem não é só importante para indústria de alimentos e agronegócio, mas também para o efeito do desenvolvimento dos diferentes negócios de cada país. Brasil e América do Sul são uma potência em produção de alimentos, e o ESG esclarece essa esfera de responsabilidade do setor.

Tudo isso só é possível quando se trabalha com muita responsabilidade, tanto nos desafios de mudanças climáticas, ou na proteção dos ecossistemas, que são base de muitas cadeias produtivas, inclusive a de carne.
Reafirmo que um dos caminhos e objetivos mais importantes dessa agenda ESG está exatamente em como direcionar sustentabilidade para cadeia de produção, conectada no campo. É sobre o produtor que vai conseguir uma ocupação do território cada vez mais eficiente (com tecnologia e melhoria dos indicadores de produção).
Assim, tem-se um círculo virtuoso por toda a cadeia, desde o desenvolvimento local do produtor até o consumidor final.

AgriBrasilis – Quais os avanços da empresa em relação às práticas de ESG e qual o investimento nos próximos anos?

Taciano Custódio – A empresa tem sustentabilidade na estratégia há muito tempo: somos a única da América Latina que tem o Banco Mundial no braço do IFC (Investimento Privado do Banco Mundial) como acionista.
A principal evidência dos nossos resultados é a auditoria do Ministério Público Federal, o principal e mais seguro processo de verificação da cadeia contra o desmatamento, onde mantemos os melhores resultados entre as grandes empresas.

Em abril desse ano anunciamos o compromisso da Minerva de até 2035 se tornar uma empresa de carbono neutro, ou seja, com emissões líquidas zero. A meta é 15 anos antes do acordo de Paris¹.

Entre as práticas está o combate ao desmatamento ilegal, que é uma das grandes fontes de emissão de gases do efeito estufa. A empresa é a primeira do Brasil com 100% das fazendas fornecedoras monitoradas geograficamente em todas as regiões, não só na Amazônia, mas também no Cerrado, Mata Atlântica, Pantanal, por meio de um sistema geográfico de análise. Isso é feito compra a compra todos os dias, pixel a pixel, para garantir que os nossos produtos não estejam relacionados ao desmatamento ilegal, áreas embargadas pelo IBAMA, áreas indígenas, de proteção ambiental e trabalho escravo.

Também estamos ampliando os sistemas de monitoramento geográfico para fora do Brasil, no Paraguai e na Colômbia.

Para chegar em 2035 com emissão líquida zero, focamos na indústria, com aplicação de tecnologia e investimento para melhorar o desempenho ambiental das fábricas, emissão advinda do tratamento de efluentes, emissões de caldeiras. Outro enfoque é a matriz energética, em que a Minerva foi a primeira empresa na América Latina a se tornar carbono neutro em 2020, por meio da mitigação (offset) das emissões advindas da energia em todos os países e operações.

Os principais desafios daqui para frente são o desmatamento e conversão do uso do solo, a ruminação, a eructação, que é a atividade de fermentação entérica natural dos bovinos.

Nosso compromisso é até 2030 ter uma cadeia livre de desmatamento ilegal em todos os países de operação e para tanto vamos desdobrar o mesmo compromisso que temos no Brasil para todos os países. Até o final de 2021 nós teremos 100% das compras monitoradas no Paraguai. Em agosto, já estamos com 89%. Teremos também o sistema operacional de monitoramento geográfico na Colômbia e no Uruguai até 2023 e 2025, respectivamente. E até 2030 nos demais países de atuação. A ideia é desconectar a cadeia produtiva com a possibilidade de ocorrência de desmatamento ilegal.

Sobre a emissão animal, é necessário melhorar a atividade agropecuária com técnicas de integração e intensificação, confinamento, confinamento a pasto, semiconfinamento, nutrição, redução da idade de abate, capacitando o produtor a ser rentável por meio do seu negócio enquanto ocupa o mesmo território de maneira mais eficiente, produzindo mais na mesma área.

O agro sofre críticas amplas sobre sustentabilidade. A Minerva como indústria não tem oportunidade de sequestrar carbono. Somos emissores, temos caldeiras, empilhadeiras, transporte, fábrica. Mas o produtor tem a oportunidade de ser um sequestrador de carbono através de boas práticas, tanto protegendo o carbono presente na vegetação nativa, quanto na conservação do solo pra reduzir degradação, na redução da idade de abate, de rotação de pastagem para intensificação de confinamento. Tudo isso é um conjunto que permite a fazenda olhar para o balanço de carbono não somente sobre a ótica da emissão, mas também sobre a ótica do sequestro. Então o quanto é sequestrado de carbono por fazer uma recuperação de uma área degradada? Quanto se recupera de carbono por ter uma pastagem de alto vigor e excelência, onde há biomassa acima do solo e abaixo do solo nas raízes do pasto? Aqui entra a parceria com a EMBRAPA, que faz a medição, usando dados primários das fazendas para quantificar esse balanço de carbono.

AgriBrasilis – Poderia elaborar sobre as parcerias para a certificação e comércio de carbono?

Taciano Custódio – Olhando para produção animal, temos o Programa de Baixa Emissão de Carbono. Trabalhamos em parceria com EMBRAPA (Brasil), CIAT (Colômbia), INIA (Uruguai), a IMAFLORA como agência certificadora, SANTOSLAB com a tecnologia de sensoriamento remoto, a BIOFILICA, hoje do grupo Ambipar, que é a maior negociadora de crédito de carbono no Brasil.

O nosso objetivo é a melhoria e aumento da capacidade do produtor rural em aplicar boas práticas de produção para sequestrar o carbono, gerando esse benefício de maior produtividade, eficiência, resiliência e proteção da biodiversidade.

Estamos pilotando cerca de 80 fazendas em todos os países com esses dados primários. O produtor Minerva produz com a alta qualidade que o mercado internacional demanda, ou seja, precocidade a idade do animal, peso mínimo, pH máximo da carne, gênero, bem-estar em machos não castrados. É um conjunto técnico de qualidades que o produtor busca para precificar seu produto. A nossa ideia com o Projeto de Baixa Emissão de Carbono na cadeia é exatamente capacitar esse produtor para que, por meio da aplicação dessas técnicas de sequestro e redução das emissões, ele comece a analisar a fazenda, fazendo o balanço de carbono da propriedade rural, com o apoio das agências de pesquisa, gerando créditos de carbono. Isso leva tempo.

Trabalhamos com a EMBRAPA desde 2020, olhando para esses produtores num projeto piloto para fomentar esse programa de geração de crédito para que tenhamos 50% dos nossos produtores fornecedores dentro do programa de baixa emissão até 2030. Isso porque, se ele está dentro do programa, vai gerar créditos, e nós queremos comprar esse crédito e adicionar valor naquele produtor pela produção do gado e do crédito, e fazer mitigação (offset) da emissão da Minerva. É um círculo muito virtuoso e inovador, onde a indústria, juntos desses parceiros, fomenta boas práticas que sequestram carbono e a própria indústria compra esse crédito de carbono para fazer o offset daquilo que está emitindo.

AgriBrasilis – A empresa faz parte da 16ª carteira do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE B3). O que isso representa para os investidores?

Taciano Custódio – A integração na carteira do ISE para a empresa foi um reflexo das práticas que adotamos há bastante tempo. Em 2013 foi um marco importante com a entrada do IFC (International Finance Corporation), braço de investimento privado do Banco Mundial como acionista. Eles possuem a vanguarda dos indicadores de desempenho e sustentabilidade. O ISE bebe da fonte do IFC performance standards.
Creio que o ISE reflete a prática da Minerva, que é lastreada em resultado.

Sobre o mercado de capitais, o ISE demonstra o compromisso de entregar resultados mensuráveis e transparentes, assumindo o que existe de desafio com todos os elos de cadeia da pecuária da América do Sul com o objetivo de alavancar as práticas de sustentabilidade na cadeia produtiva.

Em suma, o ISE é reflexo do que a Minerva entrega. Para o mercado é a certeza dessa continuidade da entrega de resultados. Há muita confiança no produtor, na adoção de tecnologias, na abertura de novos mercados, e é isso que vai guiar uma ocupação de território cada vez mais sustentável, e o desenvolvimento local.

Às vezes temos uma abordagem que sobrepõe o pilar ambiental sobre o social, mas precisamos lembrar que o desenvolvimento local de uma atividade presente em todos os municípios brasileiros tem muito potencial de mudança no contexto regional de melhoria de qualidade de vida. Nós temos relação comercial com 15 mil produtores rurais por ano, em média. De certa maneira, o que estamos fazendo ao fomentar boas práticas, adquirindo os animais e exportando para mercados mais precificados, ou abastecendo mercados domésticos é criar esse pipeline direto de investimento no produtor. É uma maneira de apoiar o desenvolvimento financeiro por meio da produção daquele produtor rural. Quanto mais rentável, mais tecnologia ele vai conseguir aplicar no sistema produtivo, e mais desenvolvimento local ele gera. Esse ciclo ultrapassa, e muito, o lado ambiental com todas as externalidades positivas, mas também o lado social, que é muito importante ainda mais em se tratando da América do Sul, composta de países em desenvolvimentos com desafios sociais gigantes. Reconhecemos a agropecuária como um motor de desenvolvimento social.