Brasil tem a carne mais barata, mas a demanda recorde está elevando preços

Published on: March 21, 2025

O Brasil tem a carne mais barata do mundo, na média ponderada entre os principais exportadores globais e importa apenas 0,8% do que consome…”

Lygia Pimentel é CEO e fundadora da AgriFatto, consultora para o mercado de commodities com extensa experiência prática em agronegócios e derivativos. Pimentel é formada em medicina veterinária pela Universidade de Marília e em economia pela Universidade Norte do Paraná.


Lygia Pimentel, CEO da Agrifatto

AgriBrasilis – Por que o preço da carne bovina subiu tanto?

Pimentel – O principal motivo foi uma demanda exuberante através da combinação de um dólar explosivo, eleições municipais e atividade econômica maior estimulada pelo aumento dos gastos do governo. Isso levou a uma demanda que superou a oferta. Vale dizer que a produção de carne bovina bateu recorde histórico em 2024, reforçando a ideia de que o que houve foi um choque de demanda, e não de oferta.  

AgriBrasilis – A carne deve seguir pressionando o IPCA?

Pimentel – Sim. Estamos no final da fase de baixa do ciclo pecuário. Em outras palavras, entre 2022 e 2024 os preços pecuários perderam força, prejudicando a margem do produtor. Desestimulado pelo baixo resultado econômico, o produtor liquidou seu plantel para manter o caixa. Isso reduz a capacidade futura de produção de bezerros, efeito que deverá ser sentido em breve através de uma contração produtiva.  

AgriBrasilis – A tarifa zero para importação de carne é uma boa solução?

Pimentel – Não. O Brasil tem a carne mais barata do mundo, na média ponderada entre os principais exportadores globais e importa apenas 0,8% do que consome. Desses menos de 1% importados, 96% vem do próprio Mercosul, a partir de carne do Paraguai, Uruguai e Argentina em uma demanda estimulada por consumidores de alta renda que buscam experiências gastronômicas. Quase 4% vêm da Australia e um 0,02% vem do Japão. Em média, a carne importada pelo Brasil é 65% mais cara do que a carne que o Brasil exporta e 136% mais cara do que a carne que é comercializada no atacado brasileiro. Além disso, considerando que o Brasil compõe o Mercosul, entende-se que essa carne já entra no Brasil isenta de impostos. A isenção é bem-vinda, mas para surtir efeito teria que considerar produtos que, de fato, são tarifados e que tenham peso no consumo doméstico. Não faz sentido importar aquilo em que já somos ótimos para produzir. 

AgriBrasilis – Como o acordo Mercosul-UE deve impactar o mercado?

Pimentel – Deve aumentar o nível de regulamentações para os produtos brasileiros.  

AgriBrasilis – O Brasil vai conseguir atender às novas leis anti-desmatamento da UE?

Pimentel – Sim, especialmente porque a demanda europeia é muito pequena: eles compram apenas 4% da carne que exportamos. Isso significa que há muitos produtores que conseguirão atender as exigências dos europeus.  

AgriBrasilis – Após as suspensões recentes de compra de carne bovina pela China, qual é o futuro da exportação para o país?

Pimentel – O Brasil tem área, tecnologia, clima e aptidão para a produção agropecuária, além de volume e preço competitivo. Isso o fez o gigante que é em praticamente todas as commodities. E deverá seguir assim, cada vez mais eficiente, produtivo e sustentável. Resta ao Brasil continuar trabalhando para manter esse status e, ao mundo, resta conhecer melhor a produção por dentro e reconhecer o enorme peso de uma produção que é grande, eficiente e sustentável em sua maior parte.

 

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