“Muitos não sabem nem do real impacto financeiro da doença, nem do custo relativo à higiene de ordenha…”
Petterson Souza Sima é gerente de desenvolvimento de negócios da Kersia, graduado em zootecnia e mestre em genética e melhoramento animal pela Universidade Federal de Minas Gerais.
A Kersia é uma empresa focada em biossegurança e segurança alimentar, com produtos voltados para a prevenção de doenças e contaminações em animais e humanos na cadeia de fornecimento alimentar.

Petterson Sima, gerente de desenvolvimento de negócios da Kersia
AgriBrasilis – Qual o impacto da mastite bovina no lucro dos pecuaristas?
Petterson Sima – Isso depende da incidência da doença na fazenda, nível de produtividade média das vacas, preço do leite na região, dentre outras questões.
Perdas de produtividade com mastite clínica e subclínica são o principal problema. Segundo estudos recentes, considerando rebanho com média de CCS (contagem de células somáticas) em torno de 450 mil e vacas produzindo 20 litros/dia – perfil comum no Brasil – diariamente a mastite tira do produtor aproximadamente 3 litros de leite para cada multípara e 1 litro para cada primípara do rebanho em lactação.
Um rebanho de 100 animais em lactação, com 75% de multíparas, perde anualmente mais de R$ 200 mil. Sem contar as perdas indiretas com doenças secundárias e atraso na reprodução. A CCS da fazenda pode refletir a diferença entre a atividade ser lucrativa ou não.
AgriBrasilis – Quanto se gasta no controle da mastite? Os produtores estão conscientes sobre os danos que a doença pode causar?
Petterson Sima – Controlar mastite envolve muita coisa, desde a temperatura das vacas até a saúde dos cascos.
Para fins práticos, é comum o produtor avaliar custos com produtos de higiene para maquinário de ordenha e úbere do animal. Para poder contar com produtos de alta performance, dificilmente o produtor ultrapassa o custo equivalente a 2% do seu faturamento. Esse é um investimento modesto contra a maior vilã da pecuária leiteira. Muitos não sabem nem do real impacto financeiro da doença, nem do custo relativo à higiene de ordenha.
AgriBrasilis – Quais os prejuízos econômicos causados ao setor? Que propriedades são as mais afetadas?
Petterson Sima – Estima-se que produzimos 5% a menos do que poderíamos somente pelos índices médios de CCS, algo em torno de 1,7 bilhão de litros de leite/ano. Além disso, a qualidade do leite cai (caseína, gordura, características sensoriais), e quanto pior a qualidade do leite, menor o rendimento na indústria. Ou seja, produzimos menos e utilizamos mais leite do que deveríamos para produzir queijo, manteiga, iogurte e demais derivados.
AgriBrasilis – Quais os métodos para diagnóstico da mastite clínica e subclínica?
Petterson Sima – O teste da caneca é o principal método de detecção dos casos clínicos. É barato, rápido e muito fácil de fazer e deve ser realizado em todas as ordenhas. Para detectar casos subclínicos, é necessário acompanhar a CCS individual das vacas. Para isso, existem métodos laboratoriais e eletrônicos de alta precisão ou por estimativa, como o CMT (Californian Mastitis Test). Sua frequência deve ser no mínimo mensal, sendo recomendada a adoção quinzenal ou até semanal.
AgriBrasilis – Como deve ser realizada a prevenção e controle dessa doença?
Petterson Sima – Todo o sistema de produção irá influenciar no controle e na prevenão. É essencial investir em bem-estar animal, otimização da rotina de ordenha, cama do confinamento ou qualidade do pasto, além de cuidar da higiene de ordenha, controle de moscas, saúde dos cascos e várias outras questões. É um trabalho amplo, diário e contínuo.
AgriBrasilis – Para que servem os processos de pré e pós-dipping?
Petterson Sima – Durante o pré-dipping observamos a existência de casos clínicos de mastite. Além de higienizar os tetos (removendo sujeira e patógenos), estimulamos a liberação do leite e combatemos a mastite ambiental.
No pós-dipping, combatemos a mastite contagiosa e protegemos a glândula mamária da vaca contra novos casos de infecção, além desse ser o melhor momento para oferecer cuidados cosméticos fundamentais à pele do teto.
AgriBrasilis – O tratamento da mastite garante um leite de qualidade superior?
Petterson Sima – Sim. Mais que o tratamento, a prevenção também é essencial. A mastite piora o índice de CCS e gordura. Vários laticínios, inclusive, pagam bonificações quando o leite está com baixo nível de CCS. Porém o maior ganho é no melhor volume de leite e menor gasto com medicamentos e descarte de leite com antibiótico.
