Fertirrigação – otimizando nutrição de plantas via irrigação

Publicado em: 22 de setembro de 2021

Luiz Dimenstein escreveu este artigo para AgriBrasilis, para discutir sua experiência sobre as diferentes formas de manejo de fertirrigação, e as novas tecnologias no mercado.

Aplicação de fertilizantes através de irrigação permite que a planta receba nutrientes pela água em quantidades pequenas e frequentes. A prática tem vantagens: os fertilizantes estão na forma química de mais fácil absorção para as culturas, e há capacidade de reajuste das aplicações durante o cultivo, diferente da fertilização com fertilizantes sólidos.

luiz dimestein fertirrigaçãoLuiz Dimenstein é consultor da Fertirrigar Consultoria e Comércio e de desenvolvimento de novos fertilizantes especiais para ADOB – Polônia. Mestre pela Faculdade de Agricultura em Rehovot da Universidade Hebraica de Jerusalém, Israel, atuou em consultorias de fertirrigação em Israel, na Haifa Chemicals, e na ICL Fertilizantes Especiais.


Há dois critérios praticados em fertirrigação: o mais popular, quantitativo, com as doses em kg/hectare, e o mais eficiente, que usa concentrações e doses em g/m3, baseadas em concentrações dos fertilizantes solúveis para cada m3 de água irrigada (1m3 = 1000 Litros).

No Brasil, ainda temos grande influência dos critérios da agricultura de sequeiro (sem irrigação), apenas complementando via fertirrigação com fertilizantes solúveis. Não é a opção agronômica mais eficiente. Muitas vezes as quantidades são aplicadas como pacote de recomendações, ou “receitas de bolo”.

Melhor seria adotar critérios de concentração dos fertilizantes proporcionais ao volume de água irrigada em g/m3, ou ppm – parte por milhão, para estimar concentrações adequadas dos nutrientes na solução do solo. Exemplo para um cultivo: N entre 150 a 300 ppm; K entre 200 a 500ppm; Ca entre 60 a 100ppm; etc.

Uma lista para mais de 120 diferentes cultivos com parâmetros desejados na solução do solo está no livro Manejo de Fertirrigação – Regra de Ouro da Fertirrigação – Dimenstein, de 2019.

Regra de Ouro da Fertirrigação: 100g/m3 converte % do nutriente no fertilizante em ppm.

Exemplo com Ureia (45% de N): Ao aplicar 100g para 1m3 de água irrigada, estaremos aplicando 45ppm de N. Assim, utilizando um volume de irrigação de 40m3 e mantendo a dose de 100g/m3, serão aplicados 100g x 40m3 = 4kg de Ureia. No emissor serão aplicados 45ppm de N. Proporcionalmente, duplicando a Regra de Ouro para 200g/m3, serão aplicados 200g x 40m3 = 8kg de Ureia, e no emissor a aplicação teria 90ppm de N. O volume de rega poderá ser diferente dos 40m3 do exemplo, mas a proporção por m3 é a chave do manejo proporcional. A regra serve para qualquer fertilizante solúvel.

Condutivímetro digital portátil para medição da salinidade

A concentração dos fertilizantes dissolvidos em água gera salinidade, medida por condutivímetro. Cada cultivo tem seu nível de tolerância, normalmente em intervalos de condutividade elétrica (CE) de 1 até 3 mS/cm. O manejo de fertirrigação ideal visa manter a CE adequada e ajustar fontes de nutrientes para compor um coquetel balanceado.

Tubos de sucção por vácuo – Extratores de Solução do Solo (ESS) – são uma ferramenta de coleta de amostras em campos irrigados para análises com kits rápidos de fácil manuseio. Identificam níveis nutricionais disponíveis junto às raízes. Os tubos direcionam ajustes nas doses seguintes das fertirrigações.

Extratores de solução do solo por sucção a vácuo

Estão disponíveis os seguintes kits rápidos: Nitrato & Nitrito, Fosfato, Potássio, Cálcio, Magnésio, Sulfato, Cloreto, Ferro e Cobre, além de pH de fita e condutivímetro.

Todos os cultivos irrigados com sistemas de irrigação localizada (gotejamento e microaspersão) e também pivôs e aspersões podem efetuar fertirrigações.

No Brasil tem-se 7 milhões de hectares irrigados e 3 milhões adequados para fertirrigação em sistema pressurizado. Porém, 70% dessa área ainda é dominada pela adubação convencional, onde a irrigação faz o papel da demanda hídrica, ou com algum complemento via fertirrigação. Falta mão de obra qualificada para manusear fertirrigações em nível profissional. As formações estão voltadas para agricultura de sequeiro. Quando se trata de irrigações, apenas a parte hidráulica e hídrica é enfatizada.

Irrigação cresce entre 6% a 8% ao ano no Brasil

Sempre com expansão forte nos setores de frutas e hortaliças. Porém, o sucesso da irrigação em cana, algodão, soja, milho e café abre um mercado maior nesses cultivos extensivos. Produtividades saltam para 2x a 5x as médias no sequeiro. Fertirrigação é a chave da eficiência, qualidade e produtividade.

O agricultor brasileiro é resiliente. A agricultura é estimulada no mundo desenvolvido com isenções de taxas e até bonificações e subsídios. No Brasil temos taxas sobre equipamentos de irrigação entre 15% a 35%. Na plasticultura, 70% de impostos sobre filmes plásticos, mulching para canteiros e acessórios em geral. Micronutrientes no Brasil são classificados com produtos químicos e recolhem PIS/COFINS em vez de fertilizantes, que não pagam esses tributos. O setor é desorganizado e o custo Brasil é cruel. A mídia exalta os bons resultados com um forte marketing, mas o sucesso ocorre porque as commodities e o câmbio para exportação ajudaram. O ponto fraco ainda é a produtividade e as fertirrigações com manejo profissional farão toda a diferença até nas épocas de crise.

Há uma tendência nova em usar gotejamento enterrado (subsuperfície) para cultivos tradicionais extensivos como soja, milho, algodão e cana, além de cultivos perenes como café, citros e fruticultura. As fertirrigações ficam mais eficientes e econômicas porque há boa economia de água, entre 20% a 25%, pela baixa evaporação. Sendo a nutrição proporcional ao volume, há economia de fertilizantes.

Todos os cultivos podem adotar fertirrigação total ou parcial:

Na fertirrigação total, 100% dos fertilizantes são aplicados via fertirrigação, sem adubação convencional de fundação e cobertura. Na parcial, apenas complementos são aplicados. A fertirrigação total é muito mais eficiente e a custo mais barato. É uma questão de gestão.

Exemplo: fósforo convencionalmente usado como adubo de fundação tem baixa solubilidade e é facilmente imobilizado no solo. As doses são muito altas, variando entre 2 a 4 tons por hectare. Há o custo do insumo, o operacional, combustível, mão de obra para aplicações em grandes áreas. Por outro lado, fertilizantes com P totalmente solúvel podem ser aplicados com frequência e em doses suaves totalizando entre 100 a 150 kg de fertilizantes fosfatados solúveis por hectare e tornando esse nutriente disponível, com custo até 70% menor.

Outra inovação para eficiência de absorção de P é uma nova forma de aplicação de Micorrizas que aumenta 4x a 5x a absorção de fosfatos e ajuda na absorção de outros nutrientes. A versão comum é chamada de Rootella F, em pó para tratamento de sementes. A novidade é Rootella X, que pode ser diluída em água e aplicada via irrigação. Bastam 40g/hectare e a eficiência das raízes aumenta muito. A alta concentração das Micorrizas com longevidade de até 2 anos é um desenvolvimento israelense da Groundwork BioAg. Nesse caso é uma Bioirrigação por ser um fungo.

Outra inovação é o uso de cadeias de aminoácidos solúveis que ao infiltrar no solo são convertidos em quelatos e liberam cátions presos nas argilas do solo para fácil absorção pelas raízes. Fertilizantes solúveis enriquecidos com esse aditivo aumentam a absorção de nutrientes como Zn, Cu, Fe, Mn, Ca, Mg e K. Esse aditivo usa sigla RNA de Release Nutrient Additive (Aditivo de Liberação de Nutrientes). Patente da empresa polonesa de quelatos ADOB.

Mais uma inovação da Bioirrigação é a aplicação de uma levedura em um produto chamado PhytoCat na versão líquida e Phyto-C3 Organic para a versão em pó solúvel e ambos têm certificação orgânica e fazem múltiplas funções como limpeza do sistema de irrigação, induz as raízes a absorverem entre 20% a 30% mais solução, induz a formação de clorofilas e carotenos nas folhas para aumentar a capacidade de fotossíntese. Desenvolvida e patenteada por pesquisadores da Universidade da Califórnia e pela empresa BOC.