Biotecnologia na agricultura argentina

Publicado em: 8 de junho de 2022

“Atualmente, os milhos Bt ocupam 91% da área de milho plantada na Argentina. Mais recentemente, a edição gênica começou a ser utilizada para o melhoramento de plantas.”

Maria Fabiana Malacarne é engenheira agrônoma, mestre em melhoramento de plantas e doutora em filosofia da ciência. Malacarne é gerente de assuntos regulatórios da Associação de Produtores de Sementes da Argentina (Asociación de Semilleros Argentinos) e membro das comissões de avaliação de OGM na Argentina.

AgriBrasilis – Como a biotecnologia é usada na produção de sementes?

Fabiana Malacarne – É utilizada para acelerar os processos de reprodução, por exemplo, com seleção assistida por marcadores moleculares. Essa ferramenta permite a redução de tempo e economia de custos, pois apenas as plantas que possuem a característica de interesse são levadas a campo para testes.

Outra ferramenta biotecnológica utilizada é a engenharia genética, para introduzir características em plantas que seriam difíceis de obter por outros métodos de melhoramento (cruzamento e seleção, indução de mutações, etc.), como resistência a insetos. Isso é obtido através da introdução de genes da bactéria do solo Bacillus thuringiensis (Bt) em plantas. Esses genes produzem proteínas que são tóxicas para um grupo de insetos-praga (Lepidoptera), mas são inofensivas para humanos e animais domésticos, de modo que um melhor controle de pragas pode ser alcançado reduzindo o uso de inseticidas químicos.

Atualmente, os milhos Bt ocupam 91% da área de milho plantada na Argentina. Mais recentemente, a edição gênica começou a ser utilizada para o melhoramento de plantas. Embora existam muitos desenvolvimentos potenciais, nenhum deles é comercial até o momento no país.

Como podemos ver, a biotecnologia apresenta múltiplas ferramentas que, sozinhas ou combinadas, são úteis para atingir o objetivo de obter novas variedades que respondam às necessidades do produtor, da indústria e do consumidor.

AgriBrasilis – Qual é o nível de adoção de cultivares Bt na Argentina? Existem casos de desenvolvimento de resistência?

Fabiana Malacarne – Além dos cerca de 91% do milho, 20% da soja e 100% do algodão plantados na Argentina possuem proteínas Bt.

Na safra 2013/2014 tivemos o primeiro caso de resistência no país, limitado a uma área específica no norte da Província de São Luís. A praga da broca do caule (Diatraea saccharalis) desenvolveu resistência às proteínas Cry 1F e Cry 1A.105. Devido ao plano de mitigação implementado, trabalho conjunto da indústria de sementes, produtores da área e órgãos reguladores, hoje é possível (após 9 safras) continuar produzindo milho de forma sustentável e rentável na área. A resistência está instalada naquela área, mas não se espalhou para o resto do país.

A resistência da lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda) à proteína Cry 1F também foi declarada em toda a zona do milho.

AgriBrasilis – A recente aprovação do trigo transgênico é um exemplo de biotecnologia. Que outros exemplos existem?

Fabiana Malacarne – Na Argentina, aprovamos culturas geneticamente modificadas em milho, soja e algodão (tolerância a herbicidas, resistência a insetos e ambas as características “empilhadas”), trigo tolerante à seca, batata resistente a vírus, alfafa tolerante a herbicida com menor teor de lignina e cártamo que produz quimosina (agricultura molecular). A lista completa de eventos aprovados pode ser encontrada na tabela abaixo.

AgriBrasilis – Em entrevista à AgriBrasilis, o representante da indústria brasileira de processamento de trigo afirmou que não importariam o trigo transgênico. Qual é a sua percepção disso?

Fabiana Malacarne – O trigo transgênico passou por todas as avaliações de biossegurança exigidas pelo sistema regulatório (segurança ambiental e alimentar) e provou ser tão seguro para cultivo e consumo quanto as variedades convencionais. Somado a isso, se der vantagens ao produtor em ambientes secos, teremos mais produção de trigo por hectare em ambientes marginais ou em anos de seca. É um bom exemplo de como o melhoramento genético pode ajudar a mitigar os efeitos das mudanças climáticas e ajudar a produzir mais alimentos para atender às metas de desenvolvimento sustentável da FAO.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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