“É possível monitorar as principais espécies de nematoides, Fusarium oxysporium, Pythium spp., seis espécies de Bacillus, Trichoderma…”
Camilla Amaral é CEO e co-fundadora da Doroth, empresa que realiza análises genômicas de solo para monitoramento e quantificação de microorganismos de interesse agrícola.
Amaral é graduada em odontologia, com doutorado pela Universidade Estadual de Campinas e externship na Harvard Medical School.
AgriBrasilis – Como é realizado o programa monitoramento de microrganismos do solo? Qual a sua importância?
Camilla Amaral – Enviamos kits de coleta de solo para as fazendas e realizamos treinamento técnico online para garantir a assertividade do protocolo. Quando o solo é coletado (15 subamostras dentro de um talhão de até 50 hectares), essa amostra é enviada para nosso laboratório, onde ocorrem uma série de passos biomoleculares, como o teste de integridade do material genético e a extração do DNA presente no solo. Em seguida realizamos uma série de análises com nosso qPCR, o mesmo equipamento utilizado no teste de covid.
Conseguimos quantificar em células por grama de solo até 40 microrganismos, entre nematoides, fungos e bactérias (benéficas e patogênicas). Os resultados são entregues em um dashboard online que ajuda o agricultor a entender seu solo, chegando a resultados de 15% de otimização de insumos. Dessa forma, o produtor sabe o que aplicar e onde aplicar, personalizando seus talhões.
AgriBrasilis – Como essa técnica pode levar ao aumento de produtividade nas fazendas?
Camilla Amaral – Nosso serviço antevê as doenças e com isso o agricultor consegue aplicar produtos com mais assertividade e individualizar seu manejo biológico, uma vez que ele consegue saber quais talhões possuem mais risco de infecção ou estão mais carentes de insumos biológicos, reduzindo as perdas e melhorando sua produtividade no mínimo em 15%.
AgriBrasilis – Quais microrganismos podem ser monitorados?
Camilla Amaral – Hoje são cerca de 40 microrganismos de interesse agrícola que o produtor utiliza e tem de reconhecer em suas lavouras. Planejamos ampliar para mais de 50 nos próximos meses.
É possível monitorar as principais espécies de nematoides, Fusarium oxysporium, Pythium spp., seis espécies de Bacillus, Trichoderma, Pseudomonas fluorescens, Bradyrhizobium japonicum, etc.
Podemos também desenvolver em poucas semanas a padronização para identificação de outras espécies de interesse para culturas específicas.
AgriBrasilis – No que consiste a tecnologia DOT AR, em fase de testes de campo? Quais são as próximas etapas para o lançamento?
Camilla Amaral – A Dot Ar é o nosso primeiro dispositivo autônomo, que captura esporos no ar durante 24 horas e realiza a análise molecular in loco, enviando um alarme via aplicativo com a identificação da chegada da ferrugem asiática e suas variantes.
Quando o esporo é identificado, o equipamento envia um alerta em tempo real para o agricultor. O dispositivo funciona por 120 dias, sem a necessidade de manutenção, e seu lançamento será junto a uma indústria de defensivos químicos, com previsão para a safra de 2023-24.
AgriBrasilis – Quais são os outros serviços oferecidos pela empresa?
Camilla Amaral – Estamos desenvolvendo três tipos de dispositivos para monitoramento biológico em lavouras. Todos possuem conectividade com servidor, gerando um banco de dados de todas as coletas e análises, trazendo ao produtor o acompanhamento ao longo das safras de concentrações e identificações de dados biológicos pertinentes ao manejo ou práticas de controle como royalties de produção agrícola. Além do DOT AR, temos o Dot.Lamp, portátil e de teste rápido para identificar DNA de microrganismos patógenos, genes de resistência ou transgênicos em amostras de folha, semente ou solo. Identifica e conecta o dado para o servidor em até uma hora e meia.
Temos também o Dot.Nema, dispositivo portátil que em menos de seis horas identifica e quantifica até quatro espécies de nematoides em amostras de solo. Tem capacidade de analisar até seis amostras simultaneamente e integra os dados com georreferenciamento prévio dos talhões.
Os dispositivos funcionam por meio da embarcação de testes biomoleculares em chips proprietários da Doroth, que realizam de maneira automatizada reações isotérmicas de PCR para que tenhamos o reconhecimento do DNA do alvo em questão.
Queremos nos tornar a maior empresa de monitoramento biológico do Brasil e a primeira a fazê-lo de forma remota, respaldados por técnicas de biologia molecular. O futuro da agricultura sustentável se dará por meio de informações em tempo real, com cada vez mais precisão e assertividade.
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