“Se não houver controle de todas as variáveis agronômicas, o uso de um sistema de fertirrigação automatizado pode gerar custos excedentes…”
Gláucio da Cruz Genuncio é professor da Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT. Genuncio é engenheiro agrônomo, mestre e doutor em ciência do solo pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.
AgriBrasilis – O que é o potencial hídrico de um solo e como pode ser avaliado?
Gláucio Genuncio – O potencial hídrico é a somatória de componentes químicos que define o quanto a água é livre no solo. Esse potencial é subdividido em potencial de pressão, potencial gravitacional, potencial osmótico e potencial matricial.
Solos salinos, por exemplo, têm uma maior influência do potencial osmótico. O mesmo ocorre em soluções nutritivas utilizadas para fertirrigação e hidroponia. A adição de fertilizantes em determinadas concentrações, utilizando produtos com índice salino alto e águas de baixa qualidade, com altas concentrações de sódio (acima de 40 mg/L), carbonatos e bicarbonatos, além de Ca e Mg, são fatores que podem afetar o potencial osmótico da solução nutritiva. Isso pode afetar o crescimento de plantas em estádios vegetativos iniciais (mudas), quando cultivadas em sistema NFT [Nutrient Film Technique], por exemplo.
AgriBrasilis – Como a automação pode ser aplicada em sistemas hidropônicos, fertirrigação, etc.?
Gláucio Genuncio – A irrigação automatizada pode ser utilizada tanto em sistemas hidropônicos, quanto na fertirrigação.
Irrigar é fornecer água para as plantas, o que pode ocorrer de forma manual, por temporização, por lisímetro, por estimativa de evapotranspiração, etc. Também pode ocorrer com uso da tensiometria (através de cálculos da influência de cada componente do potencial hídrico).
No Brasil os sistemas automatizados que utilizam tensiometria são escassos, mas a tendência é que o uso desses sistemas aumente, pois é a forma mais adequada para automatização em sistemas de produção que utilizam fertirrigação. A fertirrigação é a aplicação de água em conjunto com a adubação, por isso os sistemas devem ser bem dimensionados, para que ocorra homogeneidade na aplicação.
A automação em hidroponia, principalmente em sistemas NFT, não está baseada na aplicação de água, pois essa é “ciclada”. Essa automação está baseada no controle de variáveis intrínsecas da solução nutritiva, tais como o pH e a condutividade elétrica. Essas variáveis são parametrizadas para cada cultura. O sistema de automação da hidroponia, ao monitorar as variáveis, pode alertar mudanças para o produtor ou realizar correções.
A automação é a evolução que falta para o avanço da horticultura brasileira, principalmente se estiver associada ao uso de energias renováveis.
AgriBrasilis – Quais os benefícios da irrigação automatizada para a horticultura?
Gláucio Genuncio – Um dos benefícios é a economia de água, por exemplo. Esse fator é o que mais restringe os ganhos em produção, produtividade e qualidade das hortícolas. A irrigação bem dimensionada pode ser a principal ferramenta para o uso eficiente da água.
Automação resulta na redução do erro humano. A aplicação de um fator essencial para a produção agrícola realizada com redução de erros operacionais é a principal justificativa para a automação.
AgriBrasilis – Quanto custa a implantação e manutenção de um sistema de irrigação automatizado?
Gláucio Genuncio – Entre R$ 30.000,00 e R$ 35.000,00 para cada hectare, aproximadamente. A manutenção é de cerca de 10% nos primeiros três anos do sistema.
AgriBrasilis – Qual o custo-benefício desse tipo de sistema? Em que casos é recomendado?
Gláucio Genuncio – O sistema de irrigação deve ser bem projetado, com sistemas autocompensantes. O sistema deve ser visto como uma ferrramenta para os manejos hídrico e nutricional da cultura. Ainda são necessários investimento em genética de plantas, controle fitossanitário, tratos culturais específicos para cada cultura.
Se não houver controle de todas as variáveis agronômicas, o uso de um sistema de fertirrigação automatizado pode gerar custos excedentes. Por outro lado, os benefícios podem ser elevados, caso a horticultura seja conduzida de maneira profissional.
AgriBrasilis – Além dos dispositivos para avaliação de umidade, que outros sensores são utilizados?
Gláucio Genuncio – Quanto aos sensores, existem vários exemplos: sensores de temperatura, radiação PAR, UR% %CO2, sensores de nutrientes essenciais (NO3, por exemplo), vento, tensiômetros, medidores de umidade do solo, dentre outros.
Cabe ressaltar que a interligação desses sensores com uma central de monitoramento e automação de correção é o grande desafio para o futuro próximo.
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