Até onde a Agricultura de Precisão pode revolucionar o campo?

“A agricultura de precisão revolucionou a nutrição de plantas ao detalhar a variabilidade dentro dos campos…”

Renzo Negrini é mestre e estudante de doutorado em agricultura de precisão pela Universidade de Minnesota, especialista em experimentação on-farm e nutrição de plantas.

Negrini foi nomeado pela Sociedade Internacional de Agricultura de Precisão como um dos 10 melhores pesquisadores de pós-graduação do mundo.


AgriBrasilis – Como a agricultura de precisão (AP) transformou a ciência da nutrição de plantas?

Renzo Negrini – A agricultura de precisão revolucionou a nutrição de plantas ao detalhar a variabilidade dentro dos campos, permitindo que diferentes áreas recebam nutrientes na quantidade exata, ajustando as doses de nutrientes de forma otimizada, proporcionando o aumento da produtividade e lucratividade do produtor, enquanto reduz os danos ambientais causados pela má aplicação.

Os dados de campo, aliados com tecnologias como sensores, satélites e drones, possibilitam diagnósticos precisos. Com a AP, cada m2 é manejado de forma única, resultando em maior produtividade e sustentabilidade. Além disso, experimentos on-farm em larga escala integrados com a inteligência artificial e modelagem preveem respostas específicas, transformando a nutrição de plantas, indo de uma abordagem generalista para uma solução personalizada.

AgriBrasilis – De que formas é possível prever as necessidades nutricionais de milho e soja com Inteligência Artificial?

Renzo Negrini – A inteligência artificial (IA) permite integrar dados de genética, manejo, meio ambiente, e sensoriamento remoto para estimar as necessidades nutricionais de milho e soja. Os índices de vegetação derivados das imagens de sensoriamento remoto são uma ótima forma para termos uma ideia inicial da demanda nutricional, assim como a resposta durante a safra, do milho e soja ao nutriente aplicado. Modelos de aprendizado de máquina identificam padrões históricos, calculando recomendações precisas de nutrientes que maximizam produtividade e sustentabilidade. A IA também pode nos mostrar os fatores que mais estão impactando a resposta da planta ao nutriente.

AgriBrasilis – Quais os custos da adoção dessa tecnologia?

Renzo Negrini – A adoção da AP envolve custos iniciais elevados, como aquisição de sensores, drones, sistemas GPS e softwares de análise. Pequenos e médios produtores, em particular, podem encontrar barreiras no investimento. Porém, o retorno econômico compensa ao longo do tempo devido ao uso eficiente de insumos e aumento da produtividade. Incentivos fiscais e programas de suporte devem ser fomentados para facilitar a adoção, especialmente para operações menores, promovendo benefícios ambientais e sustentáveis. Mesmo assim, cada vez mais percebo que as soluções de AP estão se tornando mais acessíveis para a sociedade. Essa é a tendência.

AgriBrasilis – Até onde a AP pode revolucionar o campo?

Renzo Negrini – A AP tem potencial para transformar a agricultura ao maximizar a eficiência dos recursos e reduzir desperdícios, nos fazendo entender muito melhor as variáveis da fazenda. A integração de dados em tempo real e IA permite decisões ágeis, adaptadas a cada metro do campo. Além disso, isso cria oportunidades para a experimentação contínua e aprendizado no campo, aprimorando práticas de manejo a cada safra.

A AP promove sustentabilidade ao reduzir a pegada ambiental e aumentar a segurança alimentar, impulsionando a produção de alimentos com menos recursos. Porém, para que todos esses ganhos sejam possíveis e maximizados, é necessário que haja pesquisa on-farm. Com ela, podemos adequar as demandas e ideias o máximo possível ao produtor e consultor rural. É a melhor forma de desenvolver e testar soluções praticas, produtivas, lucrativas e sustentáveis para a sociedade.

AgriBrasilis – Quais as limitações da adoção da AP?

Renzo Negrini – A AP enfrenta limitações como altos custos iniciais e necessidade de infraestrutura e conectividade em áreas rurais, porém o maior gargalo, na minha opinião, é a falta de conhecimento sobre o conceito geral de AP e principalmente, sobre como utilizar as ferramentas disponíveis. Junto a isso, a interpretação dos dados requer conhecimento técnico para gerar decisões eficazes, demandando treinamento e capacitação. Trabalhar com AP exige um conhecimento elevado sobre as tecnologias e sobre a agricultura no geral e de forma localizada. Incentivos governamentais e políticas de apoio podem ajudar a superar essas barreiras e incentivar a adoção ampla da AP.

AgriBrasilis – O que muda no contexto da agricultura tropical?

Renzo Negrini – A agricultura tropical exige adaptação das tecnologias de AP, considerando solos ácidos, alta variabilidade climática e maior pressão de pragas. Ferramentas criadas para solos temperados precisam de ajustes para solos tropicais, e o monitoramento precisa ser dinâmico para responder rapidamente às mudanças climáticas. No Brasil, a diversidade regional e as necessidades específicas dos ecossistemas locais exigem tecnologias flexíveis. Isso abre uma oportunidade estratégica para o Brasil desenvolver soluções tropicais e se destacar globalmente como líder em inovação agrícola adaptada.

 

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