“… nematoides podem causar perdas de até 100% da produção …”
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Prof. Dr. Fernando Godinho de Araujo, Nematologista, é diretor geral do Polo de Inovação do IF Goiano – Rio Verde e Coordenador do Laboratório de Manejo Integrado de Nematoides (LABMIN)
A soja é a principal cultura da agricultura brasileira, sendo a grande responsável por alavancar o PIB do país. A crescente demanda por essa leguminosa, impulsionada pela versatilidade do grão, tem intensificado a produção da cultura no país, mas a sua produtividade muitas vezes é reduzida por problemas fitossanitários. Dentre esses problemas, os nematoides, com destaque para as espécies Heterodera glycines, Meloidogyne javanica, M. incognita e Pratylenchus brachyurus, se configuram como grandes limitadores nos ganhos de produtividade da cultura, podendo acarretar perdas de até 100% na produção. Essas perdas provocadas pelos nematoides estão diretamente relacionados a sua densidade populacional no solo, ao sistema de cultivo empregado e as técnicas de manejo adotadas.
Cada espécie exige uma atenção diferenciada no tocante às técnicas de manejo empregadas. A rotação/sucessão com
culturas não hospedeiras deve ser empregada no manejo de todas as espécies de nematoide e para algumas espécies (H. glycines, M. incognita, M. javanica) existem cultivares de soja resistentes. Outra alternativa de manejo é o controle químico (nematicidas químicos) tendo como obstáculo encontrar produtos que sejam eficientes, em baixas
dosagens, que permitam a utilização em áreas extensas e que tenham uma relação benefício/custo satisfatória. Por
serem culturas de baixo rendimento econômico por unidade de área e em função do alto custo desses nematicidas químicos, esses produtos são aplicados em tratamento de sementes ou em sulco de plantio e tem o objetivo de proteger as plântulas na fase inicial de seu desenvolvimento (30 a 45 dias após o plantio). Uma planta que consegue
ter um desenvolvimento inicial mais vigoroso acaba conseguindo resistir melhor ao ataque dos nematoides.
Os produtos biológicos para o manejo de nematoides vêm ganhando bastante destaque, sendo que sua atuação baseia-se na relação antagonista entre microrganismo e nematoide, tendo como mecanismos de ação a antibiose, predação, indução de tolerância da planta, produção de enzimas e toxinas, micoparasitismo, colonização da rizosfera
das plantas hospedeiras e produção/liberação de enzimas hidrolíticas que atuam degradando a parede celular do nematoide. Sua ampla difusão se dá em função do seu maior período de ação e por sua sustentabilidade, sendo assim uma alternativa viável pelo menor custo, não causar danos ao meio ambiente, facilidade de aplicação, evitar a seleção de formas resistentes de nematoides e o desequilíbrio da biota do solo.
Plantação de soja afetada por nematoides
Nos próximos cinco anos, espera-se um crescimento de aproximadamente 14% ao ano no mercado de nematicidas, ficando esse crescimento bem superior aos observados para os fungicidas (3%) e inseticidas (2%). Esse resultado é fruto do aumento da percepção dos produtores dos danos causados por nematoides, bem como a grande difusão de tecnologias que temos na atualidade. Esse mercado será ocupado por novos produtos químicos (duas a três novas moléculas) e principalmente por nematicidas biológicos. A associação de agentes de controle biológico (fungos de moléculas (químico + biológico) tem sido testado pela pesquisa visando maximizar a ação desses produtos. No entanto, é de fundamental importância avaliar previamente a compatibilidade, principalmente quando se fala
da junção entre químicos e biológicos. No caso de haver compatibilidade, se tornam ferramentas bastante interessantes por além de favorecer o estabelecimento inicial das plântulas de soja, promover um maior efeito residual que consequentemente promove uma maior redução populacional do patógeno.
