Agropecuária Lago Azul realiza beneficiamento de café irrigado
AgriBrasilis entrevistou Paulo Cesar Cau, presidente da Agropecuária Lago Azul, e também produtor de café irrigado, que verticalizou a produção de café, desde o cultivo, beneficiamento até exportação. Cau é graduado em Economia na Universidade Moura Lacerda, com especialização em Marketing na FGV – SP. Ao longo de sua carreira teve passagens em empresas como a Syngenta, Cargill, Monsanto e Produquímica.
A Agropecuária Lago Azul é um grupo de fazendas, incluindo a Fazenda Córrego do Campo, que cultiva 545 hectares de café irrigado.

Paulo Cesar Cau, presidente da Agropecuária Lago Azul
AgriBrasilis – A Fazenda Córrego do Campo, produtora de café, verticalizou as etapas de produção, beneficiamento do café irrigado e exportação. Quais as vantagens da verticalização?
Paulo Cau – Nós fazemos toda a etapa produtiva do café até a exportação. A decisão de fazermos tudo aqui é porque o valor do café não está na quantidade em kg, mas sim na qualidade do grão.
Cada etapa, desde o plantio até a colheita, influencia fortemente na qualidade e precisamos ter controle total sobre ela. Esses cuidados e o manejo dos grãos refletem na qualidade do sabor da bebida. Para isso, necessitamos ter todas as responsabilidades humanas, sociais e ambientais na fazenda. E, por fazer tudo isso de forma responsável, somos certificados e possuímos o selo Rainforest Alliance Certified™.
Ao receber o certificado, abrimos o mercado para marcas como Starbucks, Coca-Cola, Louis Dreyfus Company e outras grandes empresas do mercado de café mundial, isso porque a fazenda recebe a nota Premium de qualidade do café.
Creio que construímos uma imagem boa para o mercado à medida que apresentamos excelentes condutas humanas, profissionais e técnicas. A junção dessas três qualidades resulta em um negócio capaz de ser certificado, e, assim, consegue-se visibilidade para atrair as marcas mais exigentes. 80% da produção é exportada devido à alta qualidade do produto e o melhor preço pago pelo mercado internacional. Os outros 20% são destinados ao mercado interno.
Outra vantagem do controle sobre todas as etapas de produção é garantir a qualidade do café em novas áreas. Nós compramos as sementes dos órgãos de pesquisas para geração de mudas, que são desenvolvidas em um viveiro próprio com capacidade de 700.000 mudas, até atingirem a idade ideal para serem transplantadas no campo.
Selecionamos também equipamentos essenciais para separar grãos colhidos de diferentes tipos de qualidade da bebida do café.
Nossa usina possui secadoras com alta capacidade de carga. Esses equipamentos precisam estar o mais próximo possível de uma secagem natural feita ao sol, que não agrida a qualidade natural do café. Para isto investimos para ter quantidade e qualidade ao mesmo tempo.

Colheita de café na fazenda Córrego do Campo – Boa Esperança, Minas Gerais
AgriBrasilis – Que diferenciais competitivos e inovações tecnológicas estão presentes nestas etapas?
Paulo Cau – A conservação e melhoria do perfil de solo, nutrição equilibrada das plantas incluindo adição significativa de matéria orgânica, colheita no ponto ideal de maturação do grão, equipamentos modernos de secagem e seleção do café, e uma equipe extremamente comprometida, treinada e bem remunerada.
O produtor agrícola no país não enxerga o outro produtor como um competidor: cada um compete contra a capacidade própria. A maior competição é administrar os detalhes do negócio de forma que você melhore a qualidade, produtividade, administração de custo e melhoria de relações humanas na sua fazenda ano a ano. Tudo isso se destaca no mercado e se nos torna mais sucedido.
Sobre inovação tecnológica, para cada cultivo, temos um consultor agronômico especializado. A soma das informações que vem dos centros de pesquisa, de consultores e do acesso que as empresas têm aos melhores produtores, fazem com que se conheça as novas tecnologias. Nós as testamos antes de aplicar em grande escala. Mas ser um produtor inovador na região faz com que as empresas fornecedoras nos procurem sempre que algo for lançado no mercado.
Empresas fornecedoras oferecem um produto para teste quando ele está em fase de pesquisa e desenvolvimento. Assim, você faz o teste junto com elas. Depois que o produto estiver aprovado comercialmente, o fornecedor dá a preferência no primeiro ano para compra, e isso é muito interessante. O produtor precisa estar atento a novidades do mercado e ter mente aberta para mudanças tecnológicas em sua propriedade.
AgriBrasilis – Qual o custo-benefício da irrigação?
Paulo Cau – Atualmente são 545 hectares irrigados em 2 fazendas cafeeiras. Sem dúvida, irrigar a lavoura por gotejamento fez uma diferença brutal na qualidade do café. Apenas dessa forma foi possível acessar grandes clientes, como a Starbucks.
A produtividade média no Brasil varia entre 23 a 25 sacas (1.500 Kg) de café beneficiados por hectare. Esta baixa produtividade é devido à instabilidade climática e ao manejo agronômico da lavoura, além de uma série de equívocos técnicos. A irrigação permite criar um ambiente perfeito de performance para a cultura do café, chegando a produção de 50 sacas/ha (3.000 kg).
Com isto, a irrigação faz com que a rentabilidade seja alta e, além de pagar o investimento rapidamente, permite investir em componentes essenciais para produzir um café beneficiado de qualidade para exportação. Tais componentes incluem caminhões, lavadores para separação de grãos, despolpador, maquinário, usina com secadoras tecnológicas, etc.
Sempre procuramos adquirir terras com acesso à água, uma vez que a irrigação é essencial. No início o investimento é alto. Atualmente, possuímos 6 tanques d’água revestidos, que nos garantem 290 mil m3 d’água e 4 represas naturais equivalentes a 180 mil m3 para irrigação. O custo-benefício da irrigação é muito positivo. Todas essas áreas são outorgadas pelos órgãos ambientais locais visando o aumento de produtividade. Tudo isso visando o beneficiamento do café irrigado.
Existe regulamentação do meio ambiente com normas para o uso d’água. Só é permitido utilizar entre 30% e 40% da água da propriedade, o restante é bloqueado. Após o cadastro no órgão ambiental, eles visitam a fazenda e fazem as mensurações do volume de água disponível. Assim, aprovam o volume que se pode utilizar. Tudo isso é de extrema importância para a preservação ambiental e o agricultor deve se atentar a todas as regulamentações.
AgriBrasilis – Qual é o mercado de destino do café e por quê?
Paulo Cau – A maioria do café é vendido para o mercado asiático e europeu, pois são consumidores e não são grandes produtores da bebida. Nosso café é exportado para países como a China, Japão, Índia, Inglaterra e Alemanha, por exemplo.
Um dos nossos compradores é a americana Starbucks, que tem mais de 3.600 lojas na China. Ou seja, exportamos muita carga para a população chinesa porque a demanda é alta e eles estão, cada vez mais, trocando o chá pelo café.
Já a Alemanha reexporta grande parte do café importado devido a sua indústria que agrega valor a essa commodity e depois vende com preços elevados, resultando em um alto lucro para o país.
Em suma, o café é uma das bebidas mais consumidas do mundo e, consequentemente, grandes potências importam grãos de qualidade para diferentes fins.
AgriBrasilis – As recentes geadas irão impactar o valor do café nos próximos anos?
Paulo Cau – As geadas afetaram em média 20% da área de café arábico, e vão criar um déficit de oferta de café para o mercado mundial nos próximos 2 anos. Haverá aumento no preço para o consumidor. É a lei da oferta e da procura: quanto menos café disponível no mercado, mais caro é o grão.
Estamos trabalhando muito para reverter as perdas. Realizamos a recepa (poda radical): somos obrigados a cortar a planta próximo ao solo para que ela brote e gere uma nova planta que será produtiva somente depois de 3 anos.
Como a geada prejudicou muito as lavouras de Minas Gerais, o estado mais produtivo de café do Brasil, a safra de 2022 será impactada pelos efeitos climáticos, gerando uma queda na quantidade de grãos no mercado. A cotação do valor da saca se mantém acima de R$ 1 mil, mas esse valor pode se elevar ainda mais nos próximos anos.
AgriBrasilis – Quais os próximos desafios para Fazenda Córrego do Campo?
Paulo Cau – Nos próximo 3 anos, os maiores desafios são recuperar os 30% de área de café que a geada afetou, continuar o processo de investimento em treinamentos profissionalizantes e qualidade de vida dos funcionários, e realizar sempre a manutenção da preservação do meio ambiente. Também queremos aumentar a qualidade da bebida para atender as diferentes necessidades de cada região do mundo.
Ainda pretendemos aumentar a área plantada de café. Entretanto, queremos manter a irrigação em toda a área produtiva e é um desafio encontrar terras com disponibilidade hídrica.
Outro desafio é gerenciar a produção cafeeira juntamente com 3 mil hectares de culturas anuais incluindo soja, milho, sorgo e trigo. São dois negócios distintos, o mercado de café é diferente por ser cultura perene. O mercado de cereais é outro negócio pois são culturas anuais. Para dar conta dos dois, possuímos duas estruturas distintas, um sistema de gestão tecnológico e organizado que mostra em tempo real quantidades de insumos aplicados em cada talhão, quantidade de diesel consumida, informações sobre funcionários, etc. Para administrar tudo isso, temos uma equipe de 12 profissionais em nosso escritório administrativo.
É sempre um desafio a gestão de qualidade em uma grande propriedade, mas sem dúvida, os problemas se tornam mais fáceis de se resolver com uma equipe treinada e organizada. Além disso, creio que não existe fórmula mágica para o sucesso de uma fazenda. É imprescindível colocar muito esforço no trabalho e ter os objetivos principais sempre claros para si.
Beneficiamento de Café Irrigado



O lavador separa a qualidade do café por densidade. Assim, os cafés separados vão para a usina de secagem (Cortesia de Córrego do Campo)
