“O interesse dos europeus no meio ambiente do Brasil está ligado a uma maior conscientização ambiental na Europa, onde políticas de sustentabilidade são mais rigorosas…”
Gabriel Neto é fundador e diretor executivo da Agroforestry Carbon, formado em engenharia florestal pela Universidade Federal de Lavras, com pós-graduação em gestão estratégica de carbono pela FGV.
AgriBrasilis – Como os sistemas agroflorestais podem compensar as emissões de Gases do Efeito Estufa (GEE) de empresas?
Gabriel Neto – Os sistemas agroflorestais são uma solução eficaz para compensar as emissões de GEE de empresas ao integrar árvores em sistemas produtivos. As árvores sequestram carbono da atmosfera por meio da fotossíntese, armazenando-o em suas biomassas e no solo.
Ao promover a recuperação de áreas degradadas, a agrofloresta melhora a saúde do solo e a biodiversidade, resultando em um sistema regenerativo e sustentável. Empresas podem compensar suas emissões financiando o plantio e a manutenção dessas agroflorestas, contribuindo diretamente para a redução de GEE de maneira rastreável e transparente.
AgriBrasilis – O que faz um sistema ser categorizado como agroflorestal? Existem certificações para garantir essa denominação?
Gabriel Neto – Um sistema agroflorestal é caracterizado pela integração de árvores, arbustos, culturas agrícolas e, em alguns casos, animais em um mesmo espaço. A chave está na combinação harmoniosa dessas espécies, criando uma relação de benefício mútuo, em que a biodiversidade, o solo e os recursos hídricos são preservados e regenerados.
Existem certificações internacionais e nacionais, como o Selo Orgânico e outras normas de manejo agroflorestal sustentável, que ajudam a garantir que o sistema siga práticas adequadas, tanto ambientais quanto sociais. Essas certificações fornecem credibilidade adicional às empresas que buscam compensar emissões em sistemas agroflorestais.
AgriBrasilis – As agroflorestas são economicamente viáveis?
Gabriel Neto – Sim, as agroflorestas são economicamente viáveis e, em muitos casos, mais sustentáveis a longo prazo do que os sistemas agrícolas convencionais. Elas oferecem múltiplas fontes de renda para os agricultores, como através da venda de frutas, madeira, sementes, ervas e outros produtos derivados das árvores e culturas integradas.
Ao melhorar a saúde do solo e reduzir a necessidade de insumos externos, como fertilizantes e pesticidas, os custos operacionais diminuem ao longo do tempo. Para as empresas que investem nesse modelo, há o benefício de associar sua marca com práticas sustentáveis e regenerativas, o que agrega valor e pode fortalecer o posicionamento no mercado.
“Mais de 700 diferentes espécies já foram plantadas por mais de 300 agricultores de nossa rede”
AgriBrasilis – Na sua percepção, por que o europeu está mais interessado em investir no meio ambiente do Brasil do que o empresário local?
Gabriel Neto – O interesse dos europeus no meio ambiente do Brasil está ligado a uma maior conscientização ambiental na Europa, onde políticas de sustentabilidade são mais rigorosas e o público consumidor valoriza empresas que demonstram compromisso com o meio ambiente.
Além disso, o Brasil possui uma das maiores biodiversidades do mundo, e a preservação da Amazônia e outros biomas tem um impacto global significativo. Muitas vezes, empresários locais não percebem o valor imediato de proteger esses recursos, enquanto os europeus veem o investimento no Brasil como uma maneira de mitigar os impactos das mudanças climáticas em escala global, alinhando-se com suas metas de sustentabilidade.
AgriBrasilis – Quantas árvores já foram plantadas pela Agroforestry Carbon e em que regiões?
Gabriel Neto – Até o momento, a Agroforestry Carbon já plantou mais de 500 mil árvores, com centenas de agricultores parceiros em várias regiões do Brasil, incluindo biomas como a Amazônia, Mata Atlântica e o Cerrado. Nosso foco está em áreas degradadas e regiões de agricultura familiar, onde o impacto da regeneração é mais necessário e efetivo, tanto ambientalmente quanto socialmente.
AgriBrasilis – Que espécies são plantadas e por quê?
Gabriel Neto – Mais de 700 diferentes espécies já foram plantadas por mais de 300 agricultores de nossa rede. A escolha das espécies varia conforme o bioma e as necessidades de cada sistema agroflorestal. Damos preferência a espécies nativas, como o ipê, o jatobá e o cedro, para promover a biodiversidade e regenerar ecossistemas locais. Também inserimos estrategicamente algumas espécies exóticas, como banana e café, que geram renda adicional para os agricultores. Essa abordagem equilibra recuperação ambiental com viabilidade econômica para as comunidades locais.
AgriBrasilis – Como a empresa realiza o inventário de gases de efeito estufa de seus clientes?
Gabriel Neto – A Agroforestry Carbon realiza o inventário de GEE utilizando o Protocolo GHG Brasil, uma metodologia amplamente reconhecida para a contabilização de emissões. Nossa equipe faz o cálculo detalhado das emissões dos clientes, avaliando todas as fontes de emissões diretas e indiretas. A partir desses cálculos, oferecemos a compensação através de nossos sistemas agroflorestais, assegurando que o processo seja totalmente rastreável, transparente e em conformidade com as melhores práticas globais de mensuração e mitigação de carbono.
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