“Por conta dessa inflação que estamos vendo, bem maior do que o que é sugerido pelo sistema de metas, deve haver um aumento dos juros…”
Fernando Siqueira é diretor de pesquisa da Guide Investimentos e professor na Fundação Getúlio Vargas – FGV, formado em economia pela USP, com mestrado e doutorado em economia pela FGV.
AgriBrasilis – O Banco Central vai voltar a cortar juros no curto prazo?
Fernando Siqueira – Eu considero que isso não seja provável. Acho que é mais provável o BC aumentar juros no curto prazo e eventualmente conseguir cortar juros no final do ano que vem ou em 2026. Por conta dessa inflação que estamos vendo, bem maior do que o que é sugerido pelo sistema de metas, deve haver um aumento dos juros no curto prazo.
AgriBrasilis – Com a independência do BC, o que deve mudar na condução da política monetária nacional nos próximos anos?
Fernando Siqueira – Sobre o que mudar na política monetária, não acho que deve mudar nada nos próximos anos. Eu acho que essa questão da independência do Banco Central provavelmente vai ser mantida. Isso é algo novo, mas é muito difícil mudar uma vez que já foi aprovado. Então a condução da política monetária vai ser mantida do jeito que tem sido feita nos últimos anos, seguindo o regime de metas de inflação, mas agora com o BC independente, o que é uma coisa nova.
“Com a depreciação do câmbio, os preços tendem a subir um pouco em reais, o que melhora a rentabilidade dos produtores agrícolas e reduz o risco de inadimplência”
AgriBrasilis – Sobre o agronegócio, foi registrado novo aumento no número de recuperações judiciais no setor. Qual é a percepção do senhor sobre esse cenário?
Fernando Siqueira – Sobre as recuperações judiciais, eu cheguei a comentar antes que o momento era difícil por conta dos preços baixos dos principais produtos agrícolas. Obviamente isso não é positivo, mas o que a gente observa olhando pra frente é uma possibilidade de melhora.
Deve haver uma melhora principalmente por conta da depreciação do real: isso acaba ajudando um pouco o agronegócio, mesmo com os preços em dólar dos produtos agrícolas ainda em patamares baixos. Essa questão do câmbio ajuda o setor, que é exportador.
AgriBrasilis – Quais foram os efeitos para o agro da queda da Selic durante o primeiro semestre de 2024?
Fernando Siqueira – Acho que esse efeito foi pequeno. Até porque a queda da Selic foi muito pequena desde que começou. Até agora essa queda teve muito pouco efeito na economia, tanto pro agro quanto para o panorama geral.
AgriBrasilis – Por que os Fiagros estão recuperando rentabilidade e terreno na bolsa? Essa recuperação veio para ficar?
Fernando Siqueira – Existem alguns fatores: o primeiro é a questão de que os preços dos produtos agrícolas estavam caindo, mas agora, com a depreciação do câmbio, os preços tendem a subir um pouco em reais, o que melhora a rentabilidade dos produtores agrícolas e reduz o risco de inadimplência. Fiagro é operação de credito de uma forma geral. Mais lucro significa que a chance de o agricultor não pagar vai ficando cada vez menor. As pessoas estão vendo que o risco pros Fiagros está diminuindo.
Em segundo lugar posso apontar para a questão dos juros da Selic estarem subindo. Isso também ajuda porque os Fiagros estão indexados, de forma geral, com o CDI, que acompanha a Selic. Então, quando a Selic estava caindo, esse era sinal de que a rentabilidade seria mais baixa para os Fiagros. Mas agora os Fiagros devem ter um desempenho melhor, aproveitando que os juros devem subir.
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