Argentina: eleição presidencial, dólar soja, adoção do yuan

“Diante da queda das reservas internacionais argentinas, o yuan surge como uma alternativa para o comércio com a China…”

Hernán Emilio Satorre é cofundador da Amplificagro e presidente da Associação de Facilitadores Profissionais da Argentina, formado em ciências econômicas pela Universidade de Buenos Aires.

Hernán Emilio Satorre é cofundador da Amplificagro


AgriBrasilis – Por que a Argentina passou a importar tanta soja do Brasil?

Hernán Satorre – Principalmente porque a indústria transformadora não dispõe de matéria-prima suficiente para utilizar plenamente a sua capacidade instalada e cumprir os seus objetivos produtivos.

As causas dessa escassez foram decorrentes das más condições climáticas (seca) e da falta de políticas públicas.

AgriBrasilis – O que se espera do novo dólar soja?

Hernán Satorre – O último “dólar soja” estabeleceu que 75% das moedas deveriam ser liquidadas no Mercado Livre de Câmbio (MLC), enquanto os 25% restantes estariam disponíveis gratuitamente.

É importante entender que essa medida não gera recursos, apenas os adianta (as vendas avançam). Essa medida gera distorções na cadeia de valor agrícola, especialmente nas atividades que utilizam a soja como insumo ou como referência.

AgriBrasilis – Como se comportaram as diferentes taxas de câmbio adotadas anteriormente?

Hernán Satorre – O primeiro programa, o “Dólar Soja 1”, foi o líder em toneladas vendidas, alcançando quase US$ 8 bilhões. Seu sucessor, o “Dólar Soja 2”, registrou um menor volume de vendas devido ao seu caráter temporário e ao fato de que a maioria dos produtores, principalmente os de menor porte, já havia optado pelo “Dólar Soja 1” para obter preços mais competitivos e cumprir os compromissos financeiros.

Num contexto de condições agrometeorológicas e produtivas desfavoráveis, o “Dólar Soja 3” conseguiu comercializar aproximadamente 8 milhões de toneladas, gerando receitas de US$ 5,6 bilhões. Essas iniciativas também impactam nas estratégias de compras dos setores industrial e de exportação. Atualmente, quase 8 milhões de toneladas de soja aguardam comercialização, das quais 3,8 milhões aguardam precificação.

AgriBrasilis – Como é possível aumentar as exportações de soja num cenário de colheitas ruins?

Hernán Satorre – A Argentina está em pleno ano eleitoral. Por isso, muitas das medidas que estão sendo adotadas não respeitam uma lógica econômica ou produtiva, mas seguem uma lógica política. O governo atual procura reforçar as reservas do Banco Central olhando para o curto prazo, sem considerar as distorções e danos que podem estar sendo gerados.

AgriBrasilis – Por que a China perdeu sua posição como principal fonte de importações da Argentina?

Hernán Satorre – A principal razão tem a ver com os planos oficiais da China focados em aumentar a produção interna de soja e reduzir a dependência das importações, o que está inserido no âmbito de uma campanha nacional mais ampla de segurança alimentar. É claro que esse é um sinal de alarme para países como Brasil e Argentina.

AgriBrasilis – Qual a solução para evitar a escassez de insumos agrícolas devido às dificuldades de importação?

Hernán Satorre – As medidas adotadas pelo Governo impactam negativamente a produção, limitando ainda mais o acesso aos insumos. No caso das empresas que têm capacidade para tanto, o que fazem é “estocar” esses insumos para garantir a disponibilidade no caso de uma possível escassez. O problema é que isso ajuda a acelerar a escassez. No caso das empresas que não têm outra opção, elas acabam replanejando sua produção ou diminuindo o pacote tecnológico, o que impacta na produção total.

AgriBrasilis – Como o uso do yuan pode contribuir para os investimentos e a balança comercial da Argentina?

Hernán Satorre – Diante da queda das reservas internacionais argentinas, o yuan surge como uma alternativa para o comércio com a China em um cenário onde o financiamento ao governo da Argentina é limitado. Contudo, essa opção surge como alternativa mais por uma questão de necessidade, e não tanto pelos seus benefícios, visto que para o mercado ainda não existe moeda com mais credibilidade, segura e institucionalizada que o dólar dos EUA.

 

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