Como funcionam os contratos de barter?

“O mecanismo dos contratos de barter oferece proteção contra oscilações cambiais, bem como contra a variação dos preços das commodities no mercado internacional…”

Marcelo Prado é fundador da MPrado Consultoria Empresarial, consultor e palestrante, formado em agronomia pela Universidade Estadual de São Paulo, com pós-graduação em administração de empresas pelo Centro Universitário do Triângulo.

Marcelo Prado, fundador da MPrado Consultoria Empresarial


AgriBrasilis – Como funcionam os contratos de barter?

Marcelo Prado – O “barter” vem do inglês, e significa permutar. Esse é um mecanismo de troca e de financiamento de insumos agrícolas pelos produtores rurais, com pagamento durante a safra através de sacas de soja, milho, trigo, café e outros produtos oriundos das lavouras.

O barter é uma troca de insumos agrícolas por grãos, que muitas vezes facilita o planejamento do empresário rural e funciona como um hedging, porque o custo do insumo já fica definido por uma quantidade de commodities.

AgriBrasilis – Quais as vantagens e desvantagens dos contratos de barter?

Marcelo Prado – Como o barter é utilizado como moeda de troca e de facilidade para os produtores rurais, e eles estão acostumados a precificar seus custos em sacas dos produtos colhidos, não há como falar em desvantagens desse mecanismo.

O mecanismo dos contratos de barter oferece proteção contra oscilações cambiais, bem como contra a variação dos preços das commodities no mercado internacional. Acrescenta-se a isso a liquidez gerada para o produtor, tendo em vista que com o barter ele precisa se preocupar com o refinanciamento de capital de giro, e, como a operação é travada desde o início da negociação, não é necessário se preocupar com a oscilação da taxa de juros.

O único ponto de atenção para o agricultor é que ele deve verificar se a cesta de insumos que ele estará permutando por uma quantidade “x” de grãos, está com uma precificação justa.

AgriBrasilis – O que pode ser negociado através dessa modalidade?

Marcelo Prado – Os casos mais expressivos são os fertilizantes, sementes e defensivos, nessa ordem. Máquinas e implementos agrícolas já são, também, comercializados através de barter, mas seus volumes ainda não são tão significativos quanto no caso dos insumos. A própria terra muitas vezes é comercializada através da troca por uma quantidade de sacas de commodities, que normalmente são pagas em um prazo de cinco anos.

AgriBrasilis – O senhor considera que o cuidado com a gestão será decisivo para a safra 2023/24. O que os agricultores devem priorizar? O que configura uma boa gestão da propriedade rural?

Marcelo Prado – A agricultura é uma atividade empresarial como qualquer outra, ou seja, é uma atividade que exige planejamento, estratégia, gestão, controles financeiros, comercialização e gestão de relações humanas. Sendo assim, o agricultor precisa dividir o seu tempo entre as atividades operacionais da lavoura e as empresariais. Os agricultores que adotam essa prática conseguem obter altos índices de eficiência e rentabilidade.

AgriBrasilis – Insegurança jurídica, juros altos, invasão de terras, estabilidade econômica… O senhor concorda que esses são os pontos que mais preocupam os empresários rurais atualmente? O que mais é motivo de preocupação para o setor?

Marcelo Prado – Esses pontos têm preocupado muito os empresários rurais e eu acrescentaria que a queda do preço das commodities, o El Niño, a gestão e a sucessão também são temas relevantes para a competitividade da atividade rural.

Para que os problemas citados acima sejam minimizados, é muito importante que o agricultor aproveite “janelas” de oportunidade de preços dos grãos para fazer fixações parciais, obtendo assim uma boa média de comercialização, e garantindo com isso a rentabilidade da safra.

Quanto ao El Niño, é necessário utilizar nas regiões centro-sul cultivares que sejam mais tolerantes ao excesso de chuvas. Nas regiões centro-norte, é necessário utilizar cultivares mais tolerantes aos veranicos.

Quanto à gestão, é fundamental que os empresários rurais entendam a relevância do tema para o êxito do negócio e com isso invistam tempo em profissionais e em “ferramentas” que possam aperfeiçoar o modelo de gestão.

No caso da sucessão, ela deve ser planejada com antecedência para que os potenciais sucessores sejam desenvolvidos e, posteriormente, o sucessor escolhido participe de um processo de transição planejado e estruturado.

 

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