“Atualmente, o estado importa 99% de sua demanda de etanol e a nova fábrica vai suprir 23% dessa necessidade.”
Erasmo Carlos Battistella é CEO e fundador da BSBIOS e lidera o projeto Omega Green no Paraguai, uma biorrefinaria para a produção de biocombustíveis de segunda geração.
Battistella é formado em administração pela Universidade Norte do Paraná.
A BSBIOS é uma empresa brasileira fundada em 2005, focada na produção de biodiesel. A empresa acaba de anunciar a aquisição do Complexo Industrial La Paloma, no Paraguai.
A empresa também anunciou em 2022 o investimento na primeira usina de etanol de grande escala do RS, em Passo Fundo. A nova unidade produzirá 220 milhões de litros de etanol e 155 milhões de toneladas/ano de farelo para a cadeia de proteína animal.
AgriBrasilis – Qual a visão da BSBIOS sobre o setor de biocombustíveis? O que podemos esperar para os próximos anos?
Erasmo Battistella – Os biocombustíveis são derivados de biomassa renovável que podem substituir, parcial ou totalmente, combustíveis derivados de petróleo e gás. Há diferentes classes de biocombustíveis, variando a sua origem, necessidade e tipo de processamento.
No caso dos biocombustíveis líquidos, temos o etanol, biodiesel, diesel verde, gasolina verde e bioquerosene de aviação. As matérias-primas para a produção de biodiesel podem ter as seguintes origens: óleos vegetais, gorduras de animais, óleos e gorduras residuais.
O mundo reconhece a necessidade de se ter uma alternativa limpa, sustentável e tecnologicamente madura ao combustível fóssil para redução dos gases de efeito estufa e para atingir as metas definidas no Acordo de Paris. Em função disso, muitos países e empresas já estabeleceram seus objetivos de redução de emissão para os próximos anos.
O maior desafio é a gestão das emissões do transporte nas grandes cidades. Os compromissos internacionais não serão cumpridos nos prazos previstos sem os biocombustíveis.
O Brasil tem uma posição de liderança global em função de um direcionamento estratégico do Estado brasileiro, que vem adotando políticas públicas para fomentar essa indústria dos biocombustíveis. A Política Nacional de Biocombustíveis (RenovaBio) tornou-se um exemplo para muitos países.
O horizonte também está repleto de novas possibilidades para os biocombustíveis de primeira e de segunda gerações. Um exemplo da importância da construção dessa Política de Estado é a necessidade de se aprovar no país um marco regulatório do combustível sustentável de aviação (SAF), para garantir investimentos e atendimento das demandas futuras e voluntárias das empresas aéreas para alcançar a neutralidade de emissões em 2050.
Os biocombustíveis avançados terão um papel importante na busca dessas metas de redução dos GEE (gases causadores do efeito estufa) pela indústria da aviação.
AgriBrasilis – Quais as expectativas para 2023 com relação ao RenovaBio?
Erasmo Battistella – O RenovaBio visa garantir a segurança energética, a previsibilidade do mercado e a mitigação de emissões dos gases causadores do efeito estufa no setor de combustíveis.
As diretrizes estratégicas da política foram aprovadas em 2017 pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE). O setor de produção de biodiesel se preparou e investiu para isso. Para continuar a cumprir essa trajetória, é fundamental ter o aumento da produção e uso do biodiesel com previsibilidade e segurança jurídica. São marcos dessa evolução o retorno à mistura obrigatória de 15% de biodiesel ao diesel fóssil (B15) a partir de março de 2023.
Estou esperançoso com a retomada dos compromissos com o RenovaBio e a volta da mistura de biodiesel mesmo que seja de uma forma gradual.
AgriBrasilis – O Santander emprestou R$ 40 milhões para a BSBIOS com taxas reduzidas mediante atendimento de critérios de sustentabilidade. Quais os critérios e por quê?
Erasmo Battistella – O Santander Brasil concedeu em dezembro um novo financiamento de R$ 40 milhões vinculado a compromissos ESG para a BSBIOS. Essa é a segunda operação desta natureza efetivada entre Santander e BSBIOS em 2022.
Os recursos estão sendo investidos no aperfeiçoamento das operações da BSBIOS, maior produtora de biodiesel do Brasil. Entre as contrapartidas acordadas para a transação estão a ampliação do projeto social de coleta de óleo de cozinha usado, em Passo Fundo, RS, e a implantação do Programa Crédito de Fornecedor Sustentável 2SC, com desenvolvimento sustentável da cadeia de fornecimento e bônus de crédito de carbono.
AgriBrasilis – Quais os planos para a nova unidade de etanol à base de cereais no RS? Será possível produzir etanol de trigo?
Erasmo Battistella – A BSBIOS anunciou o investimento em uma usina produtora de etanol e farelos a partir do processamento de cereais (milho, trigo, triticale, arroz, sorgo, dentre outros).
O Rio Grande do Sul é um estado importador de etanol e nós vamos ampliar nossa capacidade de produção de biocombustíveis aqui na Região Sul, aderindo ao Pró-Etanol. Atualmente, o estado importa 99% de sua demanda de etanol e a nova fábrica vai suprir 23% dessa necessidade.
A iniciativa também está promovendo investimentos em desenvolvimento de tecnologia genética para produção de trigo específico para produção de etanol, o que também será uma oportunidade viável de renda para o agricultor com a cultura de cereais de inverno.
Hoje nós já temos em nosso portfólio trigo e triticale com concentrações extremamente interessantes de amido para produção de etanol.
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