“Inadimplência no agro não é sistêmica”, segundo vice-presidente de agronegócios e agricutura familiar do Banco do Brasil

Published on: September 22, 2025

“A imensa maioria dos nossos clientes segue honrando seus compromissos…” 

Gilson Bittencourt é vice-presidente de agronegócios e agricultura familiar do Banco do Brasil, ex-secretário de agricultura familiar no Ministério do Desenvolvimento Agrário, formado em agronomia pela UFPR. 

Bittencourt é especialista em Análise de Políticas Públicas pela Universidade do Texas e mestre em Desenvolvimento Econômico pela Unicamp. 


Gilson Bittencourt, vice-presidente de agro Banco do Brasil

 AgriBrasilis – A inadimplência se tornou sistêmica no agro? 

Gilson Bittencourt – Não. Ainda que tenhamos observado aumento da inadimplência em algumas cadeias produtivas e regiões, é importante destacar, como divulgado no último balanço trimestral, que 96,5% da nossa carteira agro permanece adimplente.  

A imensa maioria dos nossos clientes segue honrando seus compromissos. O que temos são focos pontuais, em culturas de determinadas regiões.  

O agro é cíclico e estamos atravessando um momento de ajuste, mas com ações concretas para apoiar os produtores e preservar a sustentabilidade da carteira agro do BB. 

AgriBrasilis – Qual é a magnitude e quais os motivos da crise de crédito? 

Gilson Bittencourt – Observamos um descompasso entre os custos de produção e a renda dos produtores, o que reduziu as margens e aumentou o endividamento. Fatores climáticos como o El Niño também impactaram a produtividade em algumas regiões. Em alguns casos, houve alavancagem acima da capacidade produtiva e financeira, especialmente entre 2022 e 2024.  

Além disso, temos visto um crescimento elevado nos pedidos de recuperação judicial. O uso indiscriminado desse recurso impacta negativamente toda a cadeia agropecuária, comprometendo as margens futuras dos produtores. Por isso, é essencial que os produtores busquem soluções amigáveis para manter suas operações e capacidade produtiva. O cliente em recuperação judicial não está apto a novo crédito bancário no BB. 

AgriBrasilis – Os modelos de risco subestimaram as possibilidades de inadimplência? Por quê? 

Gilson Bittencourt – Nossos modelos são robustos e estão em constante evolução, mas o agro é um setor altamente sensível a variáveis externas, como clima e preços internacionais. O atual ciclo trouxe uma combinação atípica de fatores que pressionou os produtores de forma mais intensa do que o previsto.  

Já estamos aprimorando nossos modelos com uso intensivo de inteligência artificial, revisão das esteiras de cobrança, garantias e mitigadores de risco. A Resolução do CMN nº 4.966 também tem exigido provisões mais rápidas, o que impactou diretamente o custo do crédito e levou a outros ajustes nos modelos. 

A gestão de risco está sendo reforçada com tecnologia, proximidade com o cliente e soluções customizadas…

AgriBrasilis – Essa inadimplência pode gerar uma “bola de neve” para os próximos anos? 

Gilson Bittencourt – Estamos atuando firmemente para evitar isso. Nós intensificamos a presença nas regiões mais afetadas, com caravanas de diversas áreas do BB que oferecem soluções personalizadas, inclusive para operações vincendas.  

Também estamos promovendo prorrogações de dívidas, reestruturações e alternativas negociais, seguindo os preceitos do Manual do Crédito Rural, para adequar os compromissos à real capacidade de pagamento dos produtores afetados. Nosso objetivo é garantir a sustentabilidade da carteira e apoiar o produtor na retomada da rentabilidade. 

AgriBrasilis – Quais os caminhos para superar essa crise? Como reforçar a gestão de risco? 

Gilson Bittencourt – Temos atuado em três frentes principais: crescimento sustentável de negócios, aprimoramento da jornada de crédito e investimentos estruturantes. Estamos revisando processos e esteiras de cobrança, fortalecendo garantias, ajustando modelos de risco e ampliando a especialização do atendimento.  

A gestão de risco está sendo reforçada com tecnologia, proximidade com o cliente e soluções customizadas. O agro é estratégico para o BB e vamos seguir apoiando o setor com responsabilidade e visão de longo prazo. 

AgriBrasilis – Quanto essa crise impactou nos resultados do Banco do Brasil e que medidas estão sendo tomadas? 

Gilson Bittencourt – Houve impactos, sim, especialmente no curto prazo, com aumento das provisões e reclassificação de operações. Mas a nossa carteira agro é pulverizada e diversificada, com baixo nível de concentração e mais de 200 culturas financiadas em todas as regiões do país. Isso garante resiliência.  

Já tomamos medidas para mitigar riscos e seguimos com foco nos produtores com histórico sólido. A estratégia de longo prazo está mantida e o agro continua sendo um motor importante para o crescimento não só do Banco do Brasil, mas de todo o país. 

 

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