Certificação de créditos de carbono e tendências do mercado

“Nós validamos os projetos e as metodologias, e verificamos os impactos e ativos gerados pelos projetos…”

Francisco Higuchi é CEO da Tero Carbon, certificadora digital de créditos e estoque de carbono. Higuchi é engenheiro florestal, com mestrado e doutorado pela Universidade Federal do Paraná.

Francisco Higuchi, CEO da Tero Carbon


AgriBrasilis – No que consiste a certificação para créditos de carbono?

Francisco Higuchi – É a confirmação de que o projeto que está pleiteando a geração do ativo atende aos requisitos mínimos de elegibilidade, integridade e comprovações dos impactos positivos.

Consumidores de créditos de carbono não precisam necessariamente ser “experts” em projetos de “soluções baseadas na natureza” (Nature Based Solutions). Assim, para terem a certeza de que estão investindo em um ativo real e íntegro, precisam de avaliação independente. É aqui que a certificação entra.

A certificação vai verificar se as pessoas que estão envolvidas possuem a prerrogativa para tal; se o local onde o projeto está sendo desenvolvido (e seus impactos mensurados) pode (e se está sendo desenvolvido de forma voluntária) ser implementado ou não; e se os impactos (reduções e/ou remoções das emissões) são reais e nas escalas (volume) reportados.

“Mais marcas, produtos e serviços passarão a investir tanto em projetos que reduzam suas emissões como em projetos que gerem créditos adicionais que possam ser utilizados para compensação”

AgriBrasilis – Que critérios são avaliados e quais são os certificados que podem ser obtidos?

Francisco Higuchi – A princípio, a Tero olha para três critérios básicos: a. Prova de Vida; b. Prova de Origem; e c. Prova do Ativo.

A Prova de Vida leva em consideração as “Partes” do projeto. Se todas essas partes estão devidamente cientes e engajadas nos compromissos do projeto e se de fato existem. Isso é um “problema” mais comum para projetos em áreas florestais/rurais. Em alguns casos, as pessoas (principalmente os proprietários) acabam se envolvendo em projetos sem o devido entendimento dos compromissos ou mesmo sem saber da implementação de projetos em seus imóveis. Configura-se, nesse caso, fraude.

No caso de Prova de Origem: fundiário. Em projetos de carbono em áreas de florestas e/ou rurais, o componente fundiário é extremamente importante. Nós avaliamos a documentação completa, assegurando que não há nenhum impedimento da implantação do projeto no imóvel, e que os donos ou gestores daquele imóvel estão devidamente cientes do projeto.

A Prova do Ativo é a confirmação de que o projeto segue as orientações metodológicas de mensuração e reportagem dos reais impactos do mesmo. Por exemplo: no caso de projetos de preservação de florestas, verificamos se de fato a floresta foi preservada e se não houve nenhum problema durante o período do projeto (ex.: incêndios, degradação e/ou desmatamentos).

Por meio da plataforma Tero Carbon é possível emitir os certificados de: crédito e/ou estoque de carbono; de Transferência; e de Aposentadoria (quando alguém “consome” o crédito para compensar suas, ou de terceiros, emissões).

A Tero Carbon irá publicar seus Programas muito em breve e, com isso, todos os critérios e processos para certificação de projetos poderão ser consultado pelos desenvolvedores.

AgriBrasilis – Quais os custos e quanto tempo leva para concluir esse processo?

Francisco Higuchi – Os custos e o tempo para a certificação estão atrelados à escala do projeto. Quanto maior e mais complexo o projeto for, a tendência é que o investimento seja maior proporcionalmente. A Tero Carbon irá publicar suas tarifas muito em breve para que os Desenvolvedores possam realizar as devidas consultas.

AgriBrasilis – Quais as tendências do mercado de créditos de carbono?

Francisco Higuchi – No Brasil, é a regulação e o crescimento rápido. No mundo, é tração e crescimento.

A sociedade como um todo está amadurecendo rapidamente. A informação é compartilhada de forma muito rápida e democrática. As pessoas estão se conscientizando que algo precisa ser feito e rápido. Assim, passam a cobrar daqueles mais estruturados (empresas principalmente) por mudanças de comportamento e de postura.

Nessa cobrança, entra a otimização da produção (redução de emissões) e compensação das emissões (pois nunca haverá um processo produtivo “zero”). Assim, mais marcas, produtos e serviços passarão a investir tanto em projetos que reduzam suas emissões como em projetos que gerem créditos adicionais que possam ser utilizados para compensação.

AgriBrasilis – Como é mensurada a captação de carbono? Essas avaliações são confiáveis?

Francisco Higuchi – Neste caso irei me ater ao carbono na floresta, especificamente.

A captura do carbono atmosférico na biosfera (floresta) é mensurada pelo estoque atual da floresta. Essa mensuração é feita por meio de sistemas de amostragens combinadas com ferramentas remotas (imagens de satélites, dados de sensores, etc.) e equações alométricas. Todo esse processo é extremamente robusto e confiável, e já está consolidado pelo setor científico. Agora a discussão é como melhorar.

A “captura” ou “remoção” ao longo do tempo é medida por meio de monitoramento das mesmas variáveis para determinar o estoque. A diferença é o componente “tempo” na análise dos resultados. Se uma floresta, ao longo do tempo, aumentar seus estoques, significa que a remoção é ‘positiva’.

Mas, o mais importante mesmo é a “incerteza” envolvida nessa mensuração. Todo processo de estimativa (amostragem) tem atrelado um “limite de erro estatístico”. Existem métodos técnicos de quantificar essa incerteza, com base nas informações da própria “população amostrada” (no caso, a floresta em si).

A confiabilidade disso tudo é dada pelo “controle e garantia de qualidade” (QA/QC) do processo. Que envolve a consolidação e aplicação de protocolos de operações padrão (SOP, em inglês) e sistemas de verificação (ou auditoria – seja das atividades de campo ou das contas em si). Essencialmente, quanto mais transparente for o processo, mais confiável tende a ser.

AgriBrasilis – Quais setores estão mais interessados em comprar créditos de carbono?

Francisco Higuchi – Como o Brasil ainda atua no Mercado Voluntário de Carbono, são as empresas que desejam compensar suas emissões de gases de efeito estufa (GEE). Podem-se destacar empresas do ramo de óleo e gás, tecnologia e informação, energia, construção civil, mobilidade (principalmente aviação civil), construtores de veículos, etc.

A verdade é que todos os setores da economia estão avançando e procurando estratégias mais convenientes e eficazes para compensar emissões. Algumas empresas fazem, inclusive, compromissos públicos de compensação, buscando se posicionar junto ao seu mercado consumidor.

AgriBrasilis – Quais são os projetos desenvolvidos pela Tero Carbon?

Francisco Higuchi – A Tero Carbon em si não desenvolve projetos, mas atuamos como uma certificadora e plataforma de registro de ativos ambientais.

Nós validamos os projetos e as metodologias, e verificamos os impactos e ativos gerados pelos projetos. Estando tudo dentro dos conformes, nos termos das regras de cada modalidade, os ativos são cunhados digitalmente e depositados nas carteiras digitais das partes envolvidas no projeto.

A Tero disponibiliza atualmente cinco metodologias para o mercado. Duas são para conservação, preservação e manejo de florestas tropicais amazônicas. Uma é para a quantificação de estoques de carbono em áreas de reserva legal no bioma amazônico, como uma espécie de “green bond” ou “CPR-verde”. Uma é para a cafeicultura e outras atividades do agro. Uma, a mais recente, é focada em projetos de “Solução Baseada na Tecnologia – TBS”, no setor de transporte, da substituição de veículos à combustão por elétricos.

 

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