“A maior área de vinhas “patrimoniais” encontra-se no Vale do Maule. Videiras patrimoniais são aquelas plantadas no Chile há pelo menos cem anos…”
Bernardita Troncoso é presidente do conselho de administração da Associação da Rota do Vinho do Vale do Maule, e responsável pela área de publicidade e eventos da Viña Las Veletas.
Marcela Leni é gerente da Rota do Vinho do Vale do Maule, graduada pela Pontifícia Universidade Católica de Valparaíso.
AgriBrasilis – O que é a Rota do Vinho do Vale do Maule?
Leni e Troncoso – Somos uma associação comercial formada por 20 vinhedos do Vale do Maule. Nossa organização foi constituída em Janeiro de 2000, e cumpre a missão de promover e divulgar o enoturismo no Vale do Maule.
Representamos mais de 30% da área total de vinhedos e do volume de vinho produzido por todo o Vale do Maule, sendo a organização mais representativa da região.
O Vale do Maule possui a maior área plantada de vinhedos do Chile, com 34.180 hectares, onde são cultivadas uvas brancas e tintas, de origem francesa, como Cabernet Sauvignon e Merlot, e também as uvas “patrimoniais”, como País e Moscatel.
A maior área de vinhas “patrimoniais” encontra-se no Vale do Maule. As videiras patrimoniais são aquelas plantadas no Chile há pelo menos cem anos, remontando aos tempos coloniais.
Existe uma grande variedade de vinhedos na região. São cultivadas 22 cultivares de uvas brancas e 40 tipos de uvas tintas. Os tipos de solo, as variedades e o clima geram diferentes terroirs, criando vinhos únicos e de alta qualidade.
Existem vinhedos desde as margens do Lago Colbún até Chanco, a 10 quilômetros do Oceano Pacífico.
A região também tem uma grande diversidade de paisagens: são cordilheiras como a Laguna del Maule e o Passo Pehuenche, além das Termas Panimavida, Quinamavida e Catillo, etc.
AgriBrasilis – A variedade “País”, produzida principalmente no Vale do Maule, teve queda de produção de 20% em 2022. Por que isso aconteceu e quais os planos de contenção para a próxima safra?
Leni e Troncoso – Essa variedade é definida por três características produtivas: é de sequeiro, ou seja, só recebe água da chuva, sem irrigação. É conduzida através do manejo “en cabeza” [sistema de condução livre da videira, sem suporte, onde as folhas protegem as uvas do calor excessivo] e com colheita manual, realizada por uma maioria de pequenos e médios produtores.
Essa quebra de produção deve-se à seca no Chile, que se sustenta ao longo dos últimos 15 a 20 anos, associadas às altas temperaturas registadas durante a safra de verão.
A variedade País tem uma longa história de adaptação às situações climáticas difíceis, levando em conta seus quase 500 anos de permanência no nosso país. É uma variedade com boa capacidade de adaptação às alterações climáticas e grande resiliência.
Para evitar maiores perdas, estamos nos concentrando em manter o equilíbrio entre copa e raízes e não sobrecarregar ou exigir demais das plantas.
AgriBrasilis – Quais as iniciativas de enoturismo na região?
Leni e Troncoso – Estamos executando com muito sucesso o Trem Sabores do Maule, um serviço exclusivo de enoturismo que sai da Estação Central e não para até chegar ao Vale do Maule.
O Trem Sabores do Maule é um passeio de trem, com música ao vivo, prova de vinhos, e visita guiada aos vinhedos. Duas vezes por mês durante o verão e uma vez por mês durante o resto do ano, 120 a 150 turistas visitam vinhas e adegas.
Além disso, organizamos mensalmente atividades personalizadas de degustação, com o objetivo de motivar as adegas associadas a criarem a unidade de enoturismo em seus vinhedos.
Nos últimos anos, fomos gravemente impactados pela pandemia. O enoturismo do Vale do Maule teve que paralizar completamente, o que nos fez focar exclusivamente na promoção da região através das redes sociais. O panorama das exportações também foi profundamente afetado, principalmente para a Ásia.
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