Chile quer ir além da China e expandir mercados para cerejas

cerejas

“No caso das cerejas, no cenário mais provável, nós devemos ultrapassar 100 milhões de caixas em breve…”

Antonio Walker é presidente da Sociedade Nacional de Agricultura do Chile e ex-ministro da agricultura do país, formado como técnico agrícola no Instituto Nacional de Capacitação Profissional.

Antonio Walker, presidente da Sociedade Nacional de Agricultura do Chile


AgriBrasilis – Por que as exportações de frutas do Chile estão tão concentradas na China?

Antonio Walker – Isso ocorre por conta de vários fatores, incluindo acordos comerciais favoráveis ​​e a crescente demanda chinesa por frutas de alta qualidade, especialmente por cerejas.

A China é um mercado enorme e em rápido crescimento, com uma classe média em expansão, o que a torna destino atraente para produtos premium, o que é o caso das frutas chilenas. Além disso, as estações do Chile são contrárias às da China, então a importação de frutas chilenas permite ao país asiático garantir frutas frescas fora de época.

Nós exportamos US$ 6 bilhões de frutas por ano, e o mercado nacional ronda os US$ 3 bilhões. No caso das cerejas, no cenário mais provável, nós devemos ultrapassar 100 milhões de caixas em breve. No caso de um cenário mais pessimista, se a crise imobiliária e financeira contagiar o resto da economia chinesa, a demanda por diversos bens, incluindo cerejas, poderá diminuir.

Além de continuar a crescer na China, os produtores e exportadores também estão trabalhando para diversificar os destinos das exportações de frutas frescas. Dentre as medidas que estamos tomando, posso destacar:

  1. Melhorar os acordos comerciais: o Chile assinou acordos com a maior parte das economias do mundo, mas nem todos esses acordos são tratados abrangentes. Devemos melhorar o acesso no caso de acordos “parciais”, buscando reduzir as tarifas e facilitar o acesso aos mercados. Temos de negociar melhores acordos com a Índia, o Sudeste da Ásia, Oriente Médio, etc. As barreiras comerciais e as barreiras tarifárias têm diminuído à medida com que os países com os quais negociamos reconhecem os possíveis benefícios mútuos.
  2. Fortalecer a promoção e o marketing: Estamos realizando campanhas promocionais nos mercados que já conquistamos para aumentar a demanda e o reconhecimento das frutas chilenas. Também estamos planejando campanhas para atingir novos mercados.
  3. Pesquisa de mercado: queremos identificar nichos ou mercados emergentes onde possa haver alta demanda de frutas.
  4. Logística: buscamos melhorar a cadeia logística para manter a qualidade durante o transporte para destinos mais distantes.
  5. Inovação: vamos desenvolver novas variedades e/ou melhorar embalagens.
  6. Associações no exterior: é necessário formar alianças com distribuidores ou varejistas de outros países para abrir canais de distribuição.

AgriBrasilis – O senhor disse que quer “fazer na Índia o que fizemos na China”. Que significa isso?

Antonio Walker – A Índia é o mercado com maior população do mundo. Assim como aconteceu com a China há algumas décadas, os produtos chilenos são pouco conhecidos na Índia. Nossa ideia é introduzir os produtos chilenos nesse mercado.

AgriBrasilis – O setor frutícola passou por muitas dificuldades nos últimos anos, principalmente devido às condições meteorológicas. Qual é o cenário atual? A seca ainda é um problema?

Antonio Walker – As alterações climáticas vão continuar desafiando o setor agrícola no Chile e no mundo. No futuro, vamos continuar enfrentando secas e inundações como as que ocorreram nos últimos meses.

É urgente a necessidade de investir em infraestrutura para alcançar uma melhor gestão da água, por exemplo. Devemos usar apenas a quantidade de água que for justa e necessária, armazenar a água que cai na época das chuvas e criar reservas para épocas de escassez.

Devemos melhorar a nossa estratégia de adaptabilidade às alterações climáticas para mitigar as perturbações causadas pela escassez de água, tanto na vida das pessoas em geral quando no desenvolvimento da agricultura.

 

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