“… com tabelas de adubação atualizadas, a precisão na recomendação de adubação aumenta e a agricultura, que nos alimenta e nos aquece, ganha eficiência e competitividade …“
Mara Cristina Pessôa da Cruz é engenheira agrônoma, mestre em produção vegetal e doutora em química analítica pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), câmpus de Jaboticabal. Pessôa da Cruz é docente de fertilidade do solo e responsável pelo Laboratório de Fertilidade do Solo da Unesp.

Mara Cristina Pessoa da Cruz, professora de fertilidade do solo na Unesp.
A análise química do solo é a ferramenta mais eficiente de avaliação da fertilidade do solo e de recomendação de calagem e adubação. Esse cenário persistirá ainda por décadas, apesar das tentativas de inovação, porque os sistemas de análise de solo que coexistem no Brasil são de eficiência comprovadamente maior do que as ferramentas que os avanços tecnológicos disponibilizaram até o momento.
Com algumas adaptações regionais e alguma mescla de sistemas, nos laboratórios de análise de solo do Brasil empregam-se os métodos da Embrapa ou o sistema IAC de análise de solo. As diferenças mais importantes entre os sistemas estão na medida do P disponível, da acidez total do solo (H+Al) e dos micronutrientes Cu, Fe, Mn e Zn. No sistema Embrapa, o P e os micronutrientes são avaliados com um extrator ácido, e a acidez total é determinada com solução tamponada de acetato de cálcio; no sistema IAC, o P é avaliado com resina trocadora de íons, a acidez total é avaliada com solução tampão SMP, e os micronutrientes com solução de DTPA (ácido dietilenotriaminopentacético). Os métodos da resina e do DTPA têm vantagens em relação ao extrator ácido, em particular porque são sensíveis para detectar os efeitos da acidez (e da correção da acidez) na disponibilidade dos nutrientes.
Independentemente do sistema de análise, o que se busca em relação aos nutrientes de plantas é a avaliação da disponibilidade, ou seja, da fração do nutriente que está no solo e que será colocada à disposição durante o ciclo da cultura. A complexidade envolvida é muito maior do que parece, porque cada solo e espécie cultivada são únicos. Ainda, alguns cenários levam a alterações nas fontes de nutrientes empregadas na adubação, como a recente substituição parcial de cloreto de potássio por fontes menos solúveis. Nesse contexto, o emprego do extrator ácido deixa de ser recomendado e a extração com solução de cloreto de amônio passa a ser a mais indicada. No entanto, se há uma solução pronta para o caso do K, não há para todas as situações novas que vão surgindo à medida que a agricultura avança. Exatamente por isso, para alguns nutrientes a pesquisa deveria ser contínua, mas não é. Nos últimos anos, o N, que não é avaliado na análise química de solo, tem sido o único objeto de pesquisa de métodos de avaliação da disponibilidade.
A pesquisa com análise de solo praticamente deixou de acontecer no Brasil por três motivos principais: (i) acomodação frente a dois sistemas consolidados e com tabelas de adubação construídas para as principais culturas; (ii) falta de financiamento de pesquisa que dê à análise de solo a relevância que ela merece como base de sustentação dos programas estaduais de adubação; (iii) falta de financiamento e de valorização da pesquisa de campo que permite a construção e a atualização das tabelas de adubação. Com tabelas de adubação atualizadas a precisão na recomendação de adubação aumenta e a agricultura, que nos alimenta e nos aquece, ganha eficiência e competitividade.
Notas:
Cu: Cobre; Fe: Ferro; Mn: Manganês; Zn: Zinco; N: Nitrogênio; K: Potássio; H: Hidrogênio; Al: Alumínio; P: Fósforo
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