2020 iniciou apresentando 9,4% de queda em relação ao faturamento do setor, totalizando um déficit de R$ 1 bilhão, de acordo com o balanço divulgado pela ABIMAQ¹. Em janeiro deste ano sua
receita líquida chegou a R$ 7,9 bilhões, representando uma desvalorização de 3,6% em comparação ao mesmo mês em 2019.
Segundo a ANFAVEA² ao comparar os resultados dos anos de 2018 e 2019, as vendas internas caíram 8,4% e a produção de maquinários caiu 19,1%. Já as exportações subiram 1,5%.
O mercado de máquinas agrícolas é bastante concorrido por fabricantes internacionais, entre eles a
New Holland Agriculture, do grupo CNH Industrial, presente no País desde 1975 e hoje conta com 7 fábricas, 200 concessionárias e mais de 400 revendas. Em 1986 incorporou a Ford Tractors, tornando-se uma das líderes no setor.
Em 2019 a New Holland foi responsável por fabricar 7948 tratores (22% do mercado nacional) e 2272 colheitadeiras de grãos (36% do mercado nacional). A empresa também apresenta destaque em sua linha de pulverizadores e semeadoras².
A AgriBrasilis conversou com Eduardo Kerbauy, diretor de mercado da New Holland Agriculture para o Brasil, para conhecer as tendências do mercado. Eduardo Kerbauy reconhece o desempenho desfavorável da indústria de máquinas, mas segue otimista em relação a 2020.
AgriBrasilis – Quais são os lançamentos para 2020 e como foi o ano de 2019 para o mercado de máquinas agrícolas? O Brasil tem potencial para liderar o globo no setor?
Eduardo Kerbauy – Este ano vamos apresentar muitas novidades que vão surpreender o mercado. A expectativa é de safra recorde no Brasil, deveremos superar os EUA na produção de soja, o que nos dá confiança de que o setor não sairá da rota de crescimento. Tivemos o melhor
dezembro desde 2014 em número de licenciamentos de veículos novos. É o terceiro ano consecutivo de recuperação no setor, apesar do recuo de 8,4% nas vendas de máquinas agrícolas.
De acordo com a ANFAVEA², o setor deve crescer 5,4% este ano. As vendas internas devem subir 2,9% e as exportações, 1%. Ainda é um crescimento lento, mas estamos otimistas de que o setor está no rumo certo. O Brasil tem condições de liderar a produção de máquinas agrícolas.
AgriBrasilis – Que tipo de tecnologia está presente nas máquinas e implementos?
Eduardo Kerbauy – Nossas máquinas hoje possuem muita tecnologia. Temos um sistema de agricultura de precisão bastante inovador, trata-se de um portal de telemetria com conexão a outros sistemas de agricultura digital. São informações que ficam na nuvem agregadas num só espaço. Faz parte de uma estratégia de desenvolvimento de soluções flexíveis, abertas e conectáveis.
Foi lançado uma plataforma que gerencia agronomicamente a propriedade, buscando integrar dados como fertilidade do solo, produtividade, dados meteorológicos e imagens de satélites, ajudando o produtor a intervir no local e momento correto. Além disso, a plataforma também possibilita analisar dados operacionais das máquinas.
Ainda é possível que clientes New Holland Agriculture conectem suas frotas de máquinas atuais e antigas à plataforma. A tecnologia também poderá ser usada com frotas mistas.
AgriBrasilis – Quais são incentivos do governo para alavancar as vendas de máquinas agrícolas? Em relação a instalação da empresa no território nacional, houve algum tipo de incentivo por parte governamental?
Eduardo Kerbauy – O principal incentivo governamental para os produtores rurais adquirirem máquinas agrícolas é o financiamento, que depende da taxa de juros, basicamente. A linha de investimento do Programa de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) Mais Alimentos teve um novo aporte, de R$ 1 bilhão, segundo o Ministério da Agricultura e o Banco Central. Esse é o segundo aporte de crédito feito pela pasta para esta modalidade no Plano Safra 2019/2020. Em relação ao recurso original, a linha de investimento do Pronaf já recebeu R$ 14,8 bilhões, acréscimo de 14,5% (R$ 1,9 bilhão) em relação aos R$ 12,9 milhões programados inicialmente.
No Plano Safra 2020/2021, foram destinados aos programas de crédito agrícola quase R$ 2 bilhões a mais do que
no ano-safra anterior. O Programa de Modernização da Frota de Tratores Agrícolas e Implementos (Moderfrota) recebeu cerca de R$ 9,7 bilhões, segundo o governo federal. Sobre os incentivos à instalação de fábricas, há algum tipo de isenção fiscal ou doação de terreno, um investimento que retorna pelos empregos gerados e pela arrecadação de impostos, além de movimentar outros setores no entorno da fábrica.
AgriBrasilis – Percebe-se que as máquinas e implementos desenvolvidos hoje apresentam muito
potencial que ainda não é explorado pelo agricultor. Quais seriam os motivos disso?
Eduardo Kerbauy – A principal dificuldade que os produtores enfrentam é a falta de conectividade no campo, pela ausência de redes de telefonia. Isso é o principal entrave para o uso da tecnologia embarcada nas máquinas.
Mas isso vem mudando, programas como o ConectarAGRO incentiva a melhoria da conectividade rural. Para se ter uma ideia, o número de pessoas que dizem não ter acesso à rede no campo é 21%, de acordo com o IBGE³.
É uma premissa trabalharmos com tecnologias abertas e de padrão global. A ideia é que tenhamos acesso à internet em todo o território nacional, especialmente nas propriedades rurais.
AgriBrasilis – O custo de aquisição e de operação das máquinas no Brasil ainda é um desafio para o produtor, qual a influência da alta do dólar?
Eduardo Kerbauy – A variação cambial é um desafio para todos os setores da sociedade, inclusive para o produtor rural. Mas acredito que o maior desafio são as taxas de juros para o subsídio da agricultura no país.
Mais do que um custo, renovar a frota de máquinas agrícolas é um investimento, que vai se reverter em maior
produtividade e redução dos custos de produção. E com cada vez mais tecnologia embarcada, o maquinário
reverte esse investimento em produção.
AgriBrasilis – Quais são as perspectivas da New Holland para daqui 10 anos?
Eduardo Kerbauy – Nós vemos com bastante otimismo o setor, principalmente porque a economia brasileira
vem numa tendência de recuperação. Nós tivemos um crescimento em participação no mercado nos últimos 5 anos, especialmente em tratores e colheitadeiras. A marca também investiu especialmente em agricultura de precisão. Esperamos continuar crescendo junto com o agronegócio brasileiro, que a cada safra vai superando recordes.
Notas:
¹ Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos;
² Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores;
³ Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
