“…os nematoides-das-lesões, assim como todos os fitonematoides, ainda têm sido disseminados em ritmo acelerado por todas as áreas agrícolas do Brasil…”
Mário Massayuki Inomoto é engenheiro agrônomo, mestre em fitopatologia e doutor em entomologia pela Universidade de São Paulo. Atualmente, Inomoto é Professor da Universidade de São Paulo – Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, com experiência na área de parasitologia agrícola e fitopatologia, com ênfase em nematologia agrícola.
Mário Inomoto, professor at University of São Paulo
A importância agrícola dos nematoides-das-lesões (gênero Pratylenchus) é crescente no Brasil. A principal razão é que temos poucas cultivares resistentes no país e resistência é a principal ferramenta de controle de fitonematoides. Por exemplo, nas culturas da soja, algodão, café e cenoura, o agricultor pode basear o controle dos nematoides-das-galhas (gênero Meloidogyne) no uso de cultivares resistentes. No caso do nematoide-de-cisto-da-soja, As dificuldades no controle por meio de resistência genética não tiram o valor da técnica. Na cana-de-açúcar, os programas de melhoramento visando à resistência aos nematoides-das-galhas foram descontinuados na década de 1980, mas têm sido retomados nos últimos 10 anos.
Outra questão importante é a baixa adesão às práticas preventivas de controle, razão pela qual os nematoides-das-lesões, assim como todos os fitonematoides, ainda têm sido disseminados em ritmo acelerado por todas as áreas agrícolas do Brasil.
No Brasil, os nematoides-das-lesões são conhecidos principalmente pelos produtores de soja e cana-de-açúcar. Atualmente, na cultura da soja, a importância dos nematoides-das-lesões, em especial P. brachyurus (Figura 1) é equivalente à do nematoide-de-cisto. Geralmente, P. brachyurus não causa perdas relativas, em termos de sacas ou kg/ha, tão grandes quanto H. glycines, mas tem ocorrência muito maior no Brasil. Durante quase 20 anos, seu controle se baseou na sucessão com Crotalaria spectabilis, C. ochroleuca e milheto; mas agora há nematicidas sintéticos e biológicos que atendem às aspirações daqueles que não abrem mão da 2ª. safra. Na cultura da cana, P. zeae (Figura 2) é extremamente frequente e se equipara com M. javanica em perdas totais. Quando se utiliza soja na renovação do canavial, P. brachyurus pode também se tornar um nematoide importante.
Figura 1 – Lesões causadas por Pratylenchus brachyurus em soja (Crédito: Pedro Confort).
Por outro lado, os nematoides-das-lesões são relativamente pouco conhecidos pelos demais agricultores. A importância dos nematoides do milho foi subestimada em todo o mundo, porém, essa avaliação tem se provado errônea e gradativamente corrigida. No Brasil, há registros robustos, embora esporádicos, de perdas causadas por P. brachyurus e P. zeae (Figuras 3 e 4). Felizmente, há estudos em andamento mostrando a viabilidade do controle de ambas as espécies por meio de nematicidas em tratamento de sementes.
A implantação da cultura da batata em pastagens tem contribuído muito para o controle dos nematoides-da-galhas, mas é uma situação que provavelmente favorece P. brachyurus, causador de lesões de tamanhos variados na superfície da batata. Os tubérculos afetados são de menor valor, pelo aspecto visual, e com menor durabilidade, por perderem umidade mais rapidamente.
Além das culturas acima citadas, o agricultor deve atentar para o potencial de P. brachyurus em causar perdas nas seguintes culturas: feijão-comum, feijão-caupi, algodão, abacaxi e mandioca.
Uma terceira espécie, P. jaehni, não tem a mesma importância das duas acima mencionadas, mas causa perdas localizadas em citros e cafeeiros. O grande perigo dessa espécie está na produção de mudas de cafeeiro, que não seguem o mesmo cuidado fitossanitário verificada em citros.
Outra espécie muito importante é P. penetrans, porém, por ser tipicamente de regiões temperadas ou subtropicais, tem ocorrência restrita no Brasil, onde já foi registrado em roseira, mandioca-salsa, soja, entre outras culturas.
Portanto, é altamente aconselhável que agricultores tomem conhecimento da importância dos nematoides-das-lesões e procurem verificar se já não ocorrem em suas propriedades, para a adoção do controle; caso contrário, devem manter sua propriedade indene por meio de medidas preventivas.
Figura 2 – Duas plantas de cana infestadas por Pratylenchus zeae na esquerda / duas plantas sadias na direita (Crédito: Mário Inomoto).
Figura 3 – Reboleira causada por Pratylenchus zeae em milho (Crédito: Leandro Martinho).
Figura 4 – Raiz de milho sadia na esquerda / infestada por Pratylenchus zeae na direita (Crédito: Pedro Confort).
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