“Quando se olha para o futuro, a atratividade aumenta ainda mais com a perspectiva de avanço gradual da mistura até B25…”
Daniel Furlan Amaral, diretor de economia e assuntos regulatórios da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais – Abiove, presidente da Câmara Setorial de Oleaginosas e Biodiesel do MAPA.
Furlan Amaral é formado em economia pela USP, com mestrado e doutorado pela Esalq e MBA pela XP Educação.

Daniel Furlan, diretor de economia Abiove
AgriBrasilis – Como o biodiesel está mudando a indústria de processamento de soja?
Daniel Furlan – O biodiesel vem mudando de forma estrutural a dinâmica da indústria de processamento de soja. O aumento da demanda por óleo vegetal no mercado interno fez com que a indústria de biocombustíveis, liderada pelo biodiesel, se tornasse hoje o principal destino desse insumo. Na prática, um produto que representa cerca de 20% da massa da soja já responde por quase metade da receita das indústrias. Essa virada fortalece toda a cadeia: o biodiesel cria valor para o óleo, amplia a competitividade do farelo e ajuda a reduzir o custo dos alimentos. É um movimento que transforma o balanço econômico do setor e mostra como a transição energética pode impulsionar também a segurança alimentar.
AgriBrasilis – Por que a produção de biodiesel está se tornando mais atrativa?
Daniel Furlan – O ambiente de negócios do biodiesel no Brasil amadureceu. Hoje, o setor conta com um marco regulatório sólido, parâmetros técnicos e socioambientais bem estabelecidos e um sistema tributário relativamente previsível, fatores que trazem segurança para investir. Além disso, há uma política de mistura obrigatória que garante demanda contínua e previsível. Quando se olha para o futuro, a atratividade aumenta ainda mais com a perspectiva de avanço gradual da mistura até B25, prevista na Lei do Combustível do Futuro. É um caminho que dá horizonte para o setor e reforça o papel do biodiesel na transição energética brasileira.
AgriBrasilis – A capacidade atual da indústria de processamento é suficiente para acompanhar os recordes de produção de soja?
Daniel Furlan – Sim, e com folga. O parque industrial brasileiro foi estruturado para atender tanto o mercado externo de grãos quanto o consumo interno de farelo e óleo. Hoje, o Brasil é exportador dos três produtos — soja, farelo e óleo — e tem capacidade instalada para sustentar o crescimento da produção e acompanhar o aumento da mistura de biodiesel. Em outras palavras, a indústria está preparada para crescer junto com o campo.
“…as barreiras tarifárias e técnicas impostas por alguns mercados dificultam a entrada do farelo brasileiro e reduzem a demanda por esse produto.”
AgriBrasilis – Como aumentar a eficiência do processamento e melhorar as margens de esmagamento?
Daniel Furlan – O Brasil já figura entre os líderes globais em eficiência industrial no processamento de soja. O farelo e o óleo nacionais são reconhecidos pela qualidade, resultado de um parque tecnológico moderno e de práticas produtivas de excelência. As margens, porém, variam conforme o cenário de mercado, dependem da demanda global, dos preços e da competitividade. O que o país tem feito é buscar previsibilidade por meio de políticas que sustentem a demanda, como a mistura obrigatória de biodiesel, o que ajuda a equilibrar melhor essas margens ao longo do tempo.
AgriBrasilis – Quais gargalos limitam o avanço do processamento no Brasil?
Daniel Furlan – O maior obstáculo ainda está fora das nossas fronteiras: as barreiras tarifárias e técnicas impostas por alguns mercados dificultam a entrada do farelo brasileiro e reduzem a demanda por esse produto. É uma questão de protecionismo, não de qualidade, o Brasil produz com excelência reconhecida. Mesmo assim, o país vem atuando de forma diplomática e comercial para abrir novos destinos e diversificar as exportações, ampliando o espaço para o produto brasileiro no mundo.
AgriBrasilis – Há espaço para agregar mais valor e diversificar os derivados do processamento de soja?
Daniel Furlan – Sem dúvida. O Brasil pode ir muito além da exportação de grãos, farelo e óleo. Há oportunidades concretas para ampliar a produção e exportação de proteína concentrada de soja, biodiesel e outros produtos refinados. Também há espaço para integrar ainda mais as cadeias: processar o farelo no país, destiná-lo à produção de carnes e exportar proteína animal com valor agregado. Isso significa mais empregos, renda e inovação. Mas para que isso aconteça, é essencial alinhar as políticas econômicas, tributárias, comerciais e diplomáticas. Valor agregado não nasce por acaso, ele é construído com visão de longo prazo.
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