Ronaldo Fernandes é sócio-proprietário, consultor e analista de mercado da Royal Rural, consultoria de mercado. Fernandes é formado em Economia pela Faculdade Anhanguera.

Ronaldo Fernandes, analista na Royal Rural
AgriBrasilis – Como a guerra comercial entre China e EUA pode afetar o mercado de grãos?
Ronaldo Fernandes – Se houver uma escalada na guerra comercial entre China e EUA, o reflexo imediato será uma queda forte para Chicago, pois os chineses deixariam de comprar soja americana, reduzindo a competitividade dos EUA. No entanto, esse movimento seria compensado por uma valorização dos prêmios no Brasil, já que a demanda migraria para cá. O melhor cenário para o Brasil seria um conflito prolongado, forçando a China a buscar um fornecedor alternativo. No entanto, o momento atual indica o contrário, com Trump querendo um acordo robusto. Se o acordo for fechado e a China aumentar as compras nos EUA, o efeito pode ser oposto: Chicago em alta, enquanto os prêmios e preços da soja no Brasil caem.
AgriBrasilis – O agronegócio brasileiro pode ganhar com as políticas protecionistas de Trump?
Ronaldo Fernandes – O Brasil pode ganhar em algumas áreas e perder em outras. Se Trump estimular o consumo interno nos EUA, o mercado global pode ter menos oferta americana, beneficiando as exportações brasileiras. Além disso, se países como China e União Europeia forem prejudicados pelas tarifas americanas, podem aumentar compras do Brasil. No entanto, há riscos: se Trump ampliar os subsídios aos produtores americanos, a soja e o milho poderão ser vendidos a preços mais baixos, pressionando Chicago e os valores globais. Outro fator é a política cambial: se o dólar enfraquecer para favorecer os EUA, o real pode se valorizar, afetando a competitividade brasileira. No geral, o impacto dependerá da reação dos outros países às medidas americanas.
AgriBrasilis – Quais as expectativas em relação à supersafra de grãos no Brasil?
Ronaldo Fernandes – A safra de 2025 caminha para um volume elevado, com a produção de soja podendo atingir o recorde de 173,3 milhões de toneladas, mas apresenta variações regionais significativas. Algumas regiões sofreram perdas expressivas, enquanto outras surpreenderam positivamente. O Rio Grande do Sul registrou a maior quebra, com 29% de redução, perdendo quase 7 milhões de toneladas, por outro lado, estados como Mato Grosso, que inicialmente tinha uma projeção de menor produção, apresentou um desempenho superior ao esperado, com um grande aumento na produtividade.
A área plantada cresceu e a produtividade média está em 62,16 sacas por hectare. Essa combinação de aumento de área e produtividade compensou parte das perdas em algumas regiões, garantindo que a safra siga robusta. No entanto, o grande desafio agora é a logística, com portos congestionados e a greve da Receita Federal podendo atrasar os embarques. Se os prêmios não reagirem e os fretes continuarem pressionando os custos, os produtores poderão ter dificuldades para obter preços competitivos no mercado.
“2025 promete muita concorrência, com EUA, Ucrânia e Argentina disputando mercado…”
AgriBrasilis – Qual a expectativa para os preços da soja durante os próximos meses?
Ronaldo Fernandes – A perspectiva não é de alta. O USDA projeta a maior produção global da história, e, apesar de um consumo elevado, os estoques finais também serão recordes. Isso ainda não está completamente precificado e vai pressionar os preços. Além disso, a possível aproximação entre China e EUA pode piorar ainda mais o cenário, já que um acordo comercial pode reduzir a demanda chinesa pela soja brasileira, derrubando os prêmios e pressionando os preços internos.
AgriBrasilis – Quais têm sido os efeitos das oscilações da taxa de câmbio no mercado de grãos?
Ronaldo Fernandes – O câmbio tem um impacto direto nos preços da soja e do milho, com cada variação de US$ 0,10 representando cerca de R$ 2,50 por saca. O dólar perdeu força recentemente, encontrando resistência nos R$ 5,70. Enquanto fatores internos sustentam a moeda forte, externamente Trump busca um dólar mais fraco para favorecer as exportações dos EUA. Além disso, a possível resolução da guerra entre Rússia e Ucrânia tende a fortalecer o euro e enfraquecer o dólar, o que pode prejudicar os preços em reais para o produtor brasileiro. É importante dizer, que há rumores de um possível novo Corona-vírus na China, como divulgado pelo tabloide britânico Daily Mail. Caso seja confirmado, poderá impactar significativamente o mercado.
AgriBrasilis – Por que 2025 começou com projeção positiva para as exportações brasileiras de milho?
Ronaldo Fernandes – As exportações brasileiras de milho só ganham força real a partir de julho, então esse início de ano aquecido foi um reflexo do fechamento da temporada de 2024. Mas 2025 promete muita concorrência, com EUA, Ucrânia e Argentina disputando mercado. O clima na Argentina ainda é incerto, mas não há um colapso produtivo confirmado. Um dos principais desafios é a redução drástica da projeção de importação da China, de 23 milhões de toneladas para apenas 10 milhões. Em 2023, a China foi o maior comprador de milho do Brasil, levando 16 milhões de toneladas, mas em 2024 esse volume despencou para apenas 2 milhões. Se essa tendência continuar, o Brasil perderá um de seus maiores clientes no milho, pressionando os preços no segundo semestre.
O cenário segue incerto, e o produtor precisa estar atento às oportunidades de venda e ao andamento das negociações entre China e EUA, que podem definir o comportamento do mercado nos próximos meses.
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