“As oscilações do dólar impactam diretamente a precificação dos grãos e o apetite dos compradores…”
Gabriel Souza, líder de inteligência de mercado na Grão Direto, engenheiro agrônomo pela Unesp de Botucatu.
Grão Direto é uma plataforma de comercialização digital que conecta compradores e vendedores de grãos.
AgriBrasilis – O que mudou na comercialização de grãos com o surgimento das plataformas digitais?
Gabriel Souza – Estamos diante de uma nova fase do agronegócio, onde o uso de ferramentas digitais se tornou inevitável para o produtor rural. Esse é o caso principalmente para aqueles que pretendem fechar seus negócios de grãos com economia de tempo, eficiência e segurança. A tecnologia ajuda agricultores e empresas a terem mais informações de qualidade e, consequentemente, isso se converte em mais lucro e/ou negócios.
AgriBrasilis – Como essas plataformas estão evoluindo?
Gabriel Souza – O crescimento acelerado e significativo do volume de operações está diretamente relacionado ao movimento de expansão que as plataformas estão promovendo, abrindo, por exemplo, marketplaces em novos estados, democratizando o acesso às informações relevantes de mercado e potencializando as negociações de grãos no Brasil.
AgriBrasilis – Em janeiro, a Grão Direto alegou que os preços da soja seriam afetados por 3 fatores: importações chinesas, desempenho da Argentina, e queda da produtividade no MT. O que mudou a partir de então? Como deve se comportar o mercado nos curto e médio prazos?
Gabriel Souza – A safra 2023/24 apresentou desafios na precificação devido a diversos fatores. Apesar das expectativas de estabilização dos preços da soja durante o desenvolvimento das lavouras no Brasil, que tiveram suas produtividades comprometidas em diversas regiões por conta da seca, as cotações em Chicago caíram e o dólar estabilizado resultou em valores pouco atrativos para os produtores nos primeiros meses de 2024, com esperanças de uma melhora dos preços a curto prazo.
Em março, os compradores intensificaram suas ações e, em abril, os prêmios ficaram positivos, gerando boas oportunidades de negociação.
Em maio, as enchentes no RS impactaram os preços da soja e do milho devido a estimativas de perdas nas áreas afetadas e problemas logísticos para o armazenamento e escoamento da produção.
Em junho, a valorização do dólar aqueceu o mercado para os compradores e ofereceu boas oportunidades de negócios para os vendedores, onde foi observado um bom volume de negociações de soja para 2025 durante esse período.
Atualmente, a soja em Chicago está próxima a uma região de suporte (US$10.50/bushel), nível comercializado pela última vez em outubro/novembro de 2020. Essa pode ser uma boa oportunidade para atuação de compradores intensificarem suas compras e, com isso, poderemos confirmar o suporte técnico.
AgriBrasilis – Como as oscilações do dólar têm afetado o mercado de grãos?
Gabriel Souza – As oscilações do dólar impactam diretamente a precificação dos grãos e o apetite dos compradores. Com a moeda americana fortalecida em relação ao real, os compradores conseguem adquirir grãos por um preço mais atrativo quando convertido em dólar, aumentando sua participação no mercado. Isso cria oportunidades para os vendedores liquidarem parte de sua produção a preços atrativos para ambas as partes.
AgriBrasilis – De que formas a baixa demanda global e os grandes estoques de passagem têm afetado o setor?
Gabriel Souza – A baixa demanda combinada com estoques de passagem elevados cria um ambiente desafiador no setor de grãos. As consequências afetam ambas as partes envolvidas na comercialização, pressionando os preços, reduzindo a rentabilidade e gerando complicações logísticas. Compradores e vendedores precisam se adaptar ao cenário e se preparar para diversos possíveis desdobramentos até que ocorra uma recuperação na demanda global.
AgriBrasilis – Por que a demanda futura por grãos é considerada incerta?
Gabriel Souza – As atuais cotações dos grãos comprometem a viabilidade da produção, podendo resultar em redução das áreas cultivadas nas próximas safras e em baixos investimentos dos produtores em melhorias de infraestrutura, novas tecnologias e substituição de implementos. Essa situação pode levar a oscilações nos volumes produzidos. Com a incerteza na demanda, a volatilidade dos preços pode aumentar, gerando dúvidas sobre a estabilidade da oferta e demanda no mercado.
AgriBrasilis – O que mudou para a Grão Direto após a entrada da BASF como sócia?
Gabriel Souza – A parceria entre BASF e Grão Direto fortalece a startup como a principal plataforma de comercialização digital do mercado, integrando-a ao ecossistema Conecta.ag da BASF e ampliando seu portfólio de serviços, especialmente em soja e milho.
A conexão direta e em tempo real entre compradores e vendedores facilita novos negócios financeiros e logísticos, impulsionando a adoção de tecnologias digitais no agronegócio brasileiro. A visão de longo prazo da Grão Direto como uma plataforma neutra e aberta a todos os players do mercado é reforçada por essa conexão direta e em tempo real.