Vale a pena plantar sorgo no Brasil?

“O sorgo não é mais uma simples alternativa ou oportunidade marginal…”

Willian Sawa é diretor-executivo da Latina Seeds, empresa focada em genética para sorgo e milho com atuação no Brasil e no Paraguai.

Sawa é graduado em comércio exterior pela Fatec Internacional, com MBA pela UniAmérica, e pós-graduado em Nutrição Vegetal pela Universidade Federal do Paraná.


AgriBrasilis – Vale a pena plantar sorgo no Brasil?

William Sawa – Vale muito a pena, tanto agronomicamente para o sistema produtivo das fazendas, quanto no sentido econômico, por ser um investimento mais seguro. O sorgo já garantiu seu espaço na janela produtiva, tanto que ganhou até ZARC (zoneamento agrícola) nos últimos anos. O sorgo ganhou sua janela de plantio justamente após o início do fechamento da janela de plantio do milho.

O sorgo não é mais uma simples alternativa ou oportunidade marginal (a margem de outras culturas) para safrinha, e não vai tomar o espaço do milho “viável”, que é o milho plantado dentro da janela ideal segundo o ZARC, ou seja, as janelas para o plantio de ambas culturas estão bem definidas, e se complementam para safrinha. O milho pode ser cultivado nas melhores áreas e seguindo sua janela ideal de cultivo, enquanto o sorgo pode ser cultivado nas áreas de maior risco para o milho, mas também dentro de sua janela ideal.

“Vale muito a pena, tanto agronomicamente para o sistema produtivo das fazendas, quanto no sentido econômico, por ser um investimento mais seguro”

AgriBrasilis – “Uma das melhores ferramentas para o produtor diversificar é o sorgo”. Por quê?

William Sawa – A diversificação com o sorgo pode garantir um retorno agronômico pela qualidade da palhada que o cereal proporciona ao sistema, e um retorno econômico pelo custo da implementação ser baixo em relação ao custo do milho, com maior tolerância às altas temperaturas e ao estresse hídrico. Outro ponto positivo é que o sorgo não é acometido pelo complexo do enfezamento, causado pela cigarrinha-do-milho (Dalbuluis maidis).

As plantas de cobertura (milheto, nabo, etc.) não conferem todos os fatores mencionados acima, não com essa amplitude, especialmente porque elas não geram o grão para comercialização, com preço hoje lastreado com o do milho.

AgriBrasilis – Como se comparam os custos de produção ante os de outros cereais?

William Sawa – O custo de implementação do sorgo alcança aproximadamente 50% o do milho, tanto para grão quanto para silagem.

AgriBrasilis – Quais os benefícios da adoção do sorgo forrageiro na conversão de pastagens?

William Sawa – Os principais benefícios, no meu ponto de vista, são:

Rápido retorno do investimento (entre 7/8 meses);

Intensificação de gado a pasto através de maior taxa de lotação. Pastagens degradadas são vulneráveis a pragas, doenças e plantas daninhas, e por apresentar baixa capacidade de suporte e baixo ganho de peso animal. Com uma pastagem bem formada, o ciclo de engorda dos animais diminui, trazendo dinheiro mais rápido para o caixa;

Diminuição da necessidade de abertura ou compra de novas áreas para a pecuária;

Na minha opinião este é o Sistema a ser adotado pelo Comitê Gestor Interministerial do Programa Nacional de Conversão de Pastagens Degradadas em Sistemas de Produção Agropecuários e Florestais Sustentáveis – PNCPD.  O Sistema está pronto. É só implementar.

AgriBrasilis – Qual é o objetivo da joint venture entre a Latina Seeds e Sementes Santa Fé? Que sinergia se espera obter?

William Sawa – Nós já somos parceiros da Sementes Santa Fé há mais de 4 anos, nossas empresas se complementam em vários aspectos e essa joint venture operacional foi bem estruturada, de forma que cada uma poderá focar no que faz de melhor. A Latina Seeds está focada na geração de novos produtos, com muita inovação, e a Sementes Santa Fé entra com seu operacional robusto e de tradição.

Queremos ser reconhecidos como especialistas em sorgo. A utilização desse cereal vai muito além do que somente para fabricação de ração. Existem muitas aplicações para os grãos e também para as fibras.

AgriBrasilis – Em que sentido o sorgo “avança de carona” com o milho para produção de etanol?

William Sawa – Hoje todo cereal pode produzir etanol, mas o sorgo está apresentando a melhor aptidão quando observamos custos e riscos.

Outro fator que conectou muito bem o sorgo com a produção de etanol, além do custo de implementação das lavouras e menor risco em relação a outras culturas, está no custo do grão para conversão de etanol e DDG, pois 1kg de grão de sorgo gera o mesmo que 1kg de grão de milho, só que custando 80% do valor do milho. Áreas de safrinha onde o milho representa riscos possivelmente poderão virar sorgo, especialmente no Centro-Oeste, Norte e Nordeste do Brasil.

 

 

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