“Empate técnico” entre os bioinseticidas e os bionematicidas

“Além dessas duas importantes categorias, vejo que teremos uma ampliação relevante no uso de biofungicidas…”

José Roberto Pereira de Castro é consultor e conselheiro de empresas do agronegócio, engenheiro agrônomo pela Esalq/USP, com especializações pela FGV.

José de Castro, consultor de agronegócio


AgriBrasilis – Qual é o potencial do mercado de bioinsumos?

José de Castro – Bioinsumos são produtos ou processos agroindustriais desenvolvidos a partir de enzimas, extratos (de plantas ou de microrganismos), microrganismos, macrorganismos (invertebrados), metabólitos secundários e feromônios, destinados ao controle biológico.

Esses insumos são também os ativos voltados à nutrição, os promotores de crescimento de plantas, os mitigadores de estresses bióticos e abióticos e os substitutivos de antibióticos.

“O mercado brasileiro atingiu, em 2023/24, faturamento anual de R$ 5 bilhões, considerando as categorias de inoculantes e defensivos biológicos”

Temos tido um rápido crescimento do setor de insumos biológicos no Brasil, assim como em diversos outros países. O mercado brasileiro atingiu, em 2023/24, faturamento anual de R$ 5 bilhões, considerando as categorias de inoculantes e defensivos biológicos.  A exigência crescente por sistemas de produção e produtos mais sustentáveis explica esse contexto: o mercado consumidor tem se preocupado com essa questão e, consequentemente, demandado produtos renováveis e mais seguros dos produtores agrícolas e das agroindústrias.

Todas as projeções para os próximos 5 anos indicam uma taxa de crescimento anual na ordem dois dígitos.

AgriBrasilis – Esses produtos estão substituindo os agroquímicos?

José de Castro – Em alguns casos, sim. Na maioria das situações, contudo, os biodefensivos têm sido usados para complementar o manejo integrado de pragas e doenças, tornando a proteção e a nutrição de plantas mais efetivas.

AgriBrasilis – Quais são os principais mitos sobre os bioinsumos?

José de Castro – Não considero que existam mitos sobre os bioinsumos. Vejo que é importante um trabalho educacional que ensine as particularidades de cada bioinsumo e como inserir esses produtos de forma apropriada nos sistemas de produção agrícola.

Por exemplo, não devemos simplesmente promover a substituição de defensivos químicos pelos biológicos sem considerar as diferenças nos cuidados com a aplicação e sem a compreensão exata dos modos de ação, sob pena de termos resultados inferiores aos pretendidos.

AgriBrasilis – A categoria dos bioinseticidas acaba de superar a dos bionematicidas em vendas. Quais são as outras tendências do mercado?

José de Castro – Podemos dizer que os últimos números indicam um empate técnico entre os bioinseticidas e os bionematicidas, ambos crescendo de maneira impressionante.

Além dessas duas importantes categorias, vejo que teremos uma ampliação relevante no uso de biofungicidas, além do lançamento de inoculantes e biofertilizantes que contribuirão muito para o incremento da produtividade de diferentes cultivos.

AgriBrasilis – O que define um bom processo de “bioprospecção” para desenvolvimento de produtos?

José de Castro – É importante termos um entendimento amplo do que é bioprospecção, de forma a obter as melhores soluções advindas da biodiversidade.

A bioprospecção nada mais é do que a busca sistemática por organismos, genes, enzimas, compostos, processos e partes provenientes de seres vivos em geral que possam levar ao desenvolvimento de um produto. É relevante para uma ampla gama de setores e atividades, incluindo biotecnologia, agricultura, nutrição, indústria farmacêutica e de cosméticos, biorremediação, saúde, etc.

Falando especificamente sobre os bioinsumos, precisamos ter a prospecção de micro e macrorganismos nos diferentes biomas. A partir da coleta, há necessidade de termos laboratórios bem equipados e profissionais qualificados para identificar os potenciais empregos dos organismos coletados.

AgriBrasilis – O agricultor planeja utilizar mais bioinsumos nas próximas safras?

José de Castro – Sim, sem dúvida. Mais de 50% dos produtores agrícolas brasileiros já realizam pelo menos uma aplicação de bioinsumo durante o ciclo de cultivo. Há uma forte tendência de crescimento da base de usuários, da diversidade de produtos e do número de aplicações.

AgriBrasilis – Que habilidades são necessárias para os profissionais que atuam com bioinsumos no agro?

José de Castro – Considero ser fundamental que os profissionais busquem ter um amplo conhecimento dos sistemas de produção em que atuam, independentemente da categoria de insumo. Apenas conhecendo as “dores” do produtor rural e entendendo como manejar o sistema como um todo, ele será percebido como “uma fonte de soluções” e ser bem-conceituado no meio em que trabalha.

 

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